pS

 

 

existe uma cidade

com certa característica comum

 

desconhece a lua subterrânea

que ilumina o remanso das massas

 

reflete o desenho gris da plataforma

o lugar do torpor

 

que a brisa de ventiladores

eleva para a superfície

 

 

 

 

 

Ao acaso

 

o poema quer ser canção

palavra sem  melodia

pra não dizer adeus em adeus

 

qual é a barra do dia?

 

 

 

 

 

*

 

se subimos

               ao cume

ao lado

       dos abismos

               temos o direito

de cair

 

 

 

 

Fuga nº 3

 

olhar  sob outro olhar se anula

adensa a vidraça em estilhaço

como um caracol em seu abismo

de sombras e palavras em arremedo.

 

alheio, no silêncio de ouvir estrelas

viver  de apropriação indébita.

 

 

 

 

 

O nó Torquato

 

poema feito de citações

partidas e chegadas

 

ou melhor: uma palavra

transparente em sua orla

 

vida que esconde outra

um texto: uma insígnia

 

e, no entanto, é preciso.

 

 

 

 

 

Degredo

 

a duração do dia

se comprime entre os dedos

a noite chega

como um pedaço de gelo

 

 

 

 

 

*

 

o

poema

bate na cara

como palavra

feitio de oração

muralhas e ruínas

de um nome

marca no horizonte

esfera que não se alinha

o que se disse antes

o que dizer adiante

 
 
 
(imagem ©thomas hawk)
 
 
 
 
 
 
 

Camilo Lara (Belo Horizonte/MG). Professor e coordenador de atividades culturais do CEFET-MG. Integrou o Grupo Dazibao, de Divinópolis/Belo Horizonte, MG. Um dos organizadores da coleção Poesia Orbital em 1997 (BH, MG). Co-editor da revista ATO (BH, MG). Autor, em co-autoria, de Prelúdio penetrável (1984) e Dentro passa (1997). Publicou, em 2006, o livro Itinerários — a poética do coletivo em Divinópolis. Participou das antologias O achamento de Portugal (Lisboa, Portugal e Belo Horizonte: Fundação Camões e Anomelivros, 2005) e DezFaces (Belo Horizonte: Editora O Lutador, 2008).