Satori é iluminação. Epifania zen, é o momento da virada, completo reordenamento do indivíduo nas suas relações com o universo. Fruto de um longo período de concentração reflexiva. Satori é uma inexplicável e indescritível experiência intuitiva. Deflagrado por um som, uma imagem, um incidente ao acaso. Satori é o construído e almejado instante abrupto da revelação. Satori é sonhar colorido e acordar para a infinita brancura da luz.

         Satori é o título do livro de poemas de Horácio Costa que a editora Iluminuras acaba de lançar. A jovem Iluminuras vem se mostrando, no seu pouco tempo de existência, uma editora bem mais arrojada e refinada do que a maior parte das suas concorrentes mais antigas. Após lançar L'Isle Adam, Proust ou Laforgue em edições caprichadas, a Iluminuras publica agora, como sempre com muito esmero e bom gosto, num verdadeiro momento de iluminação, o Satori, de Horácio Costa. Talvez seja esse o satori, o momento da virada, o acordar das editoras brasileiras para a luz da poesia. Ainda é tempo: a poesia, por mais que a matem a cada dia, não está morta, mas repousa oculta. É hora de iluminá-la. Iluminuras.

         Tradutor competente de Octavio Paz, Horácio Costa, que tem morado, nos últimos anos, fora do Brasil — ora nos Estados Unidos, ora no México — estudando e lecionando literatura em Yale e na Cidade de México, publica, com Satori, o seu segundo livro de poemas. O primeiro, 28 poemas e 6 contos, publicado em 1981, em edição particular e caseira — saída única para poetas estreantes nesse país — apresenta poemas escritos entre 1970 e 1980. Livro ainda marcado por um certo sentimentalismo adolescente e por uma forte influência surrealista, 28 poemas já revela um certo rigor formal, ainda que incipiente; e algumas boas idéias, como o poema "Declaração post-mortem do único mudo em Babel": "— Desenvolvi muito, ultimamente, / minha capacidade auditiva, nesta Torre". 

         Bem mais amadurecido, livre do subjetivismo exagerado do livro de estréia, Horácio Costa busca, em Satori, composto por poemas escritos nos mais diversos locais, como Barcelona, New Haven, Santa Bárbara, Nova York, México ou Lisboa, entre 1981 e 86, um aprimoramento da sua dicção poética equivalente ao desenvolvimento da capacidade auditiva do seu "único mudo único em Babel" do primeiro livro. Mas Horácio não é mudo, e, através das suas múltiplas vozes, ecoa a polifonia das várias cidades visitadas e traduzidas em forma de poesia.

         Satori se divide em três partes. A primeira se compõe de um poema longo, "O Bar da Senhora Olvido" que, como explica o poeta, em nota, "foi estimulado pela existência de um bar, cuja proprietária chamava-se Maria del Olvido e que até alguns anos se localizava numa esquina 'mal freqüentada' no Bairro Gótico, em Barcelona, para originalmente ser publicado com uma seleção de fotos do catalão Rafael Bernís, que documentou a humanidade que nele se abrigava num trabalho fotográfico de rara e pungente beleza". A ausência das fotos de Bernís acompanhando o texto — embora uma das fotos faça parte da bela Capa assinada por Laura Vinci — é o único ponto fraco do trabalho editorial da Iluminuras, pois a presença destas certamente acrescentaria à leitura do poema. Este nos mostra a cidade, "rodamoinho incompreensível" que, à medida que "esvaziam-se as ruas / o que era simples coluna / adquire relevância violeta / e a cabine telefônica / surpreendente possibilidade de linguagem / quando / as árvores crescem em silêncio..." vai transferindo para o bar a sua multiplicidade de vozes:  "vieram daqui e vieram dali / vieram muitos e muito poucos / vieram cedo e vieram tarde / vieram todos e veio um / chegou o primeiro e não o último / e o segundo não o penúltimo / por dez minutos ou por cinqüenta / por mil dias ou por uma hora, quem se importa?". Quem se importa, se no bar do esquecimento, assim como em qualquer cidade, "incandescente interminável procura marginal / nossa mimética e onírica viagem / essencial / que se cumpre / pelos meridianos e paralelos afora", tudo é paródia de tudo? Se "neste chiaroscuro sobre rolemãs / o acordado é paródico do adormecido?".

         A segunda parte do livro, "Satori", é composta por 28 poemas breves nos quais se ressalta a procura de uma linguagem mais densa. A partir da constatação de que "toda a matéria / é radical, esplêndida, / lírica, de tão /plástica", o "eu lírico" vai buscando a concretude da linguagem até na "Aula de Jacques Derrida": "O filósofo disserta infindavelmente / proliferando intenções. O som da voz  /bate e reverbera nos cristais / e encontra seus limites nos bordes deste / plano. Croscruza o branco. / Lá fora uma cidade quase dorme depois /da chuva. A alteridade é percebê-la / em stillness, enquanto avança a noite / e se corrompem as palavras".

         A terceira e última parte do livro, "Estado de Graça", constitui-se numa reflexão em prosa — conto, ensaio, poema em prosa? — sobre os atos de escrever, sonhar e amar. Inicia-se afirmando que "cada quem elege seus processos de conhecimento, rituais e maneiras de auto-superação. Amadurecer é saber valorá-los para que o acaso em que se instauraram possam sobreviver como normas, padrões individuais". Horácio Costa vem buscando esses padrões e amadurecendo como poeta. Satori o revela. É preciso lê-lo e discutir sua poesia.

 

 

[Publicado no Jornal da Tarde, em 13 de maio de 1989]

 

 

 

 

 

 

 

Um dos mapas para se ler (percorrer) os poemas de Horácio Costa pode estar no discurso (percurso) entre o "Nocturno da Cidade do México": "uma cidade é um tecido de cabelos / justaposição anárquica de peles / escola aberta de posturas corporais / realidade inventada de grafias / programação abundante de ideias / a desdobrar-se em contínuos reflexos / temporais" (p. 55) e o "Escrito na Aula de Jacques Derrida": "Lá fora uma cidade quase dorme depois / da chuva. A alteridade é percebê-la / em stillness, enquanto avança a noite / e se corrompem as palavras" (p.71).

Sublinhando o que nos textos interessa, a cidade é uma escola aberta onde se corrompem palavras. O poeta na cidade "Cesária" (Barcelona, Nova Iorque, São Paulo, Santa Barbara, o mundo!) é, com certeza, um dos enunciados mais presentes neste livro. Nas voltas que dá, esse novo flâneur atravessa a urbe (e é atravessado por ela), conduzido por um olhar que, pela vocação pós-moderna, opta pela estética da demolição das formas. Numa palavra: desconstruir, portanto, por meio de outras formas (nos poemas se exibem os vários modelos de composição do poético), o que, literalmente, na cidade é construção.

Viver no presente o tempo presente e vivê-lo politicamente. Conviver nos limites do urbano é estar, por exemplo, n"O Bar da Senhora Olvido", longo poema de abertura, onde se vê e se é visto (é esta a cara "aberta" da cidade): "este bar virou paisagem" (p.20). Homens atravessam "esta praia deserta nesta terra deserta" (p.37) infatigáveis no trabalho "como quem dá brilho ao fecho / de uma porta aberta" (Luiza Neto Jorge, Os Sítios Sitiados, 1973, p. 214). Ou seja: o desejo de curiosidade e lucro que move o viajante pode resultar também inútil, um ganho de perdas, um gesto a menos. Entre tudo e todos, todavia, viver é ainda a memória do ciclo inaugural da modernidade: "Em cada uma dessas ruas tem um louco que para ela canta / Lembranças de cafezais" (p.45). O poeta (é bom enfatizar ser ele brasileiro) é aquele que, uma vez mais, faz desses dados coisa pública: "estou cansadíssimo / como uma pedra / as pirâmides. Eu / quero / água" (p. 26).

Em "Estado de Graça", longo texto em prosa a encerrar o volume, o que foi dito no poema de abertura se reverbera: "todo o vivido é paraíso perdido" (p. 101). E o quotidiano na cidade é como se fosse um imenso texto sobre um infindável campo intertextual, que só tem de moderno o ir-se, pós-modernamente, desconstruindo. Por isso, Satori é um desses livros de muitas línguas, que falam com (João Cabral, Pessoa, Proust, Pound, Borges, entre outros), para (Ana Cristina César, Guimarães Rosa, Jorge de Sena, Octavio Paz), e se deixam falar por (nas apresentações de Severo Sarduy e Irlemar Chiampi).

Pensemos, para concluir, nesse comércio de viver com o outro ("— Vamos, / dê aí uma moeda pra ca ouvir música outra vez" — (p. 23), em que a riqueza da forma dialogada é a moeda que valoriza, no poema, a metáfora dos dias, isto é, a própria Poesia. No fundo, o destino ambulatório desses versos conduz o sentido radical da modernidade: "Caminhei por entre todos / escrevendo em Braille" (p. 39).

Nesta cidade, viajar na língua portuguesa do Brasil é também ver Fernando Pessoa na p. 90, ir de "bonde amarelo" do Rossio até Belém. O que não é de pouca monta. É o bonde e não o eléctrico, afinal, o saldo do nosso "comércio" com os Ingleses.

No tema da Viagem, sabemos, reside a memória ancestral do desejo permanente de Literatura. Sua voz e sua cegueira, sempre.

 

 

[Publicado na Revista Colóquio/Letras. Recensões Críticas,

nº 129/130, Jul. 1993, p. 297]

 

 

 

 

 

 

 

 

                O prólogo ao satori não é só a vida inteira, toda a realidade, mas também as existências aneriores, míticas, sonhadas pelo sujeito ou por essa alucinação persistente que considera seu "eu". Desses estados preparatórios só tem uma vaga consciência no sonho — na sucessão de imagens ao mesmo tempo prismáticas e desalinhavadas do sonho —, na escritura — o Diário esquecido e hoje recuperado convoca por si próprio, como um animal agradecido, expulso e aceito de volta, um éden das palavras, uma utopia verbal — e no amor — nesse Outro nos dissolvemos, até atingir como que um apagar da individualidade, o anonimato genético.

         Se estes três estados, sonho, amor e escritura, nos fazem vislumbrar o estado absoluto do satori, é porque neles a linguagem também se encontra em condição de precariedade: no sonho porque constitui, desconexa, precisamente sua matéria, sua madeira; na escritura porque se trata, antes de mais nada, de captar seu surgimento, de presenciar sua epifania ou sua retração; no amor, porque sua luz zenital, ou seu êxtase, excluem-na por definição.

         A linguagem do satori é, como esboça a destes três âmbitos, a que circunscreve o indizível, brusca agrimensura do não verbal.

         No entanto, consignar o relâmpago do satori, dar conta, ainda que minimamente, de seu acontecer, só pode passar pela opacidade da palavra, pelo rudimento — dispêndio eloqüente ou severa parcimônia — de um certo dizer.

         Estes poemas são, pois, a cenografia da palavra transformda em seu próprio inimigo, em seu amante antípoda: o Outro do dizer. O poema avança sempre na diagonal, como um bispo, se detém, apela a todos os idiomas, cai, se incorpora, volta atrás, reflete, investe. Mas sempre consegue dar — nisso é exemplar a aventura de Horácio Costa — uma medida exata de sua turvação, unicidade que é seu esplendor.

         Se nestes versos as arquiteturas reluzem, nácar maneirista, coral e ouro, como nas cidades oníricas e vazias de Antoine Caron; se uma luz de De Chirico cai sempre sobre os ostentosos monumentos, é porque a autoridade icônica da paisagem não aparece na página a não ser para sublinhar as ruínas da linguagem que a descreve, uma linguagem que enuncia o Outro possível, esse "louco numerável" que nos habita e cuja presença procuramos evitar com o meticuloso simulacro de nossa lucidez.

         Livro da palavra sistematicamente desordenada, Satori nos conduz não à cena, mas ao reverso de uma ópera: as vozes dispersas e múltiplas procuram apreender algo, um objeto fugidio e sem nome; os astros incandescentes na luz fóssil de uma galáxia ou as ilhas de um instável arquipélago, unidos por linhas pontilhadas, compõem lácteos centauros, atlantes desmesurados flutuando sobre o mar. Satori  é como um esperanto que funcionasse com a nitidez e a elegância de um silogismo negativo; o lúcido encadeamento de árvores miniaturizadas e de areias de diferentes texturas no jardim de um templo zen; um espantalho oratório; um arcimboldi sintático cujos fragmentos — palavras — são sempre reconhecíveis e não obstante conseguem integrar uma careta figural.

         Satori é também um livro de iluminuras: bruscas iluminações, minuciosas miniaturas. Blecaute branco do ser.

 

 

[Saint Léonard, 1, I, 1988]

 

 

 

 

 

O primeiro livro que li do Horácio Costa foi o Quadragésimo. Naquela altura, lembro, fiquei impressionado sobretudo com um poema do livro: "Os jardins e os poetas". Embora eu não estivesse muito afeito a versos mais longos — eu gostava, lá em 2001, daqueles versinhos quebrados com palavras espalhadas pela página e de tempos verbais esquivos — esse poema me impressionou muito, porque já era mais discursivo e embaralhava com segurança e desembaraço lugares e épocas completamente diferentes na minha cabeça. Por exemplo, o poeta latino Horácio com soldados romanos justapostos a Wang Wei, pintor e poeta da Dinastia Tang. Desse poema, um verso logo não me saiu mais da cabeça: "O jardim horaciano é um Mondrian avant-la-lettre". Para mim isso foi e continua sendo excepcional, porque me mostrava, melhor, me mostra que a poesia, mais do que um lugar de dispersão, pode ser um lugar onde coisas inteiramente diferentes não só se aproximam, como também passam de modo novo a se ligar umas às outras, criando relações de continuidades desconcertantes. Enfim, a leitura de Quadragésimo, difícil para mim naquela altura, me levou a procurar outro livro do autor: Satori.

Depois de perceber que o livro estava esgotado há muito, comecei uma busca em vão aos sebos do Rio. Abandonado o propósito, um dia voltando do trabalho em Niterói vejo que no caminho, que eu conhecia bem, havia um sebo novo e para minha surpresa — porque eu não procurava mais — lá estava o Satori, intacto. Tão intacto que na orelha do livro ainda estava preso o marcador de páginas. Alguns livros da Iluminuras tinham esse mimo, um marcador de página — que em parte seguia o projeto gráfico do livro — vinha preso na orelha. Era só destacar. Li o livro no ônibus mesmo e no dia seguinte não pude visitar o tal sebo pela segunda vez, porque ele já nem existia mais. Foi o sebo de vida mais curta que já vi. E o pior foi que, quando comprei o Satori, eu tinha deixado reservado com o vendedor para buscar no dia seguinte o Ensaios sobre fotografia da Susan Sontag (editoria arbor). Paciência. Só fui conseguir essa edição no ano passado em outro sebo que ainda não fechou.

De Satori — cuja capa estampa uma Madame Butterfly saída provavelmente de alguma versão para o cinema (década de 50 ou 60) — mais do que um poema me saltaram à vista dois versos que para mim se tornaram emblemáticos da poesia de Horácio Costa. Seja para ler Satori, seja para ler, entre outros, o recente e fora de série Ravenalas. Quando pensei em escrever este texto pensei que ele iria começar justamente com esses dois versos, depois achei melhor não. Enfim, aí estão eles: "O problema foi ter visto / tantas reproduções com tão pouca idade". Para minha surpresa comecei a me lembrar, sem saber que esses textos ocupavam algum lugar em minha memória, de outros textos de Quadragésimo, que era o único livro dele que eu conhecia na época. Eu testava para mim mesmo o poder e a ressonância desses dois versos: "O problema foi ter visto / tantas reproduções com tão pouca idade". Não que eu os tivesse entendido, mas é que eu supunha que os tinha entendido e isso é que foi o principal. Porque seu retornasse ao outro poema, "Os jardins e os poetas", eu iria acabar voltando também ao verso que já citei ("O jardim horaciano é um Mondrian avant-la-lettre") e descobriria entre eles — entre esse e os outros dois — uma relação de proximidade. Ou seja, o jovem, que viu tanta imitação quando muito novo, perde a capacidade de perceber na maturidade o autêntico. E só por isso consegue reconhecer algo do Mondrian num jardim romano. Enfim comete um anacronismo. Fiz o que não devia, parafraseando o que não se parafraseia. Paciência.

Os primeiros versos de Satori — vou repeti-los, "O problema foi ter visto / tantas reproduções com tão pouca idade" — trazem logo dois pontos: o da reprodução, i.e., aquilo que é de segunda mão, cópia; e o da juventude. Embora o primeiro seja realmente tentador, porque recorre à própria natureza da arte, para mim o segundo é que é decisivo na poesia de Horácio Costa. É a juventude e suas implicações, acho, que dão a essa poesia um tipo de procedimento ou uma habilidade muito especial para manipular imagens & ideias e, o mais importante, encontrar um tom. É a juventude que cria a possibilidade de usar reproduções como quem desdenha dos originais. E isso já é muita coisa em um tempo em que só há reproduções e muita gente falando mal delas — metade usando-as de modo negligente, metade desprezando-as (para ficar sabe-se lá com o quê). Dessas duas questões depreende-se uma terceira que só amplifica o poder da juventude: a questão do malogro, do falhanço, como for: "O problema foi ter visto". A juventude conduz à inépcia, à incoerência. Mas é justamente essa inépcia que dá ao sujeito de seus poemas liberdade e poder de locomoção. Daí que eu tenha falado antes na habilidade para encontrar um tom, o que no geral é bem difícil em poesia.

 

Satori

 

O problema foi ter visto

tantas reproduções com tão pouca idade.

Paragens fabulosas que murcharam,

palácios e suas escadarias comidas

pelos anos. Parques, estatuárias congeladas.

Páginas e páginas. Acervos estanques.

Rostos de turistas apressados

que pouco acrescentam à banalidade

essencial de todo espaço. Não é esta

minha geografia encantada. Além

dos olhos e do coração selvagens,

cresce e caminha a resultante

supostamente habitável. Gimme shelter.

"Acredite em mim, receberás abrigo". Acompanho

esta violeta partida de pólo em que jogam

centauros, à qual felizmente faltam regras.

Sou sua bola, de néon. Batem-me: não protesto

(...)

 

Se eu fosse ler esse poema na íntegra, fora o dístico inicial, eu começaria pelo que me vem logo à vista: Gimme shelter. Então eu leria o que está na primeira estrofe dessa canção dos Rolling Stones de mesmo nome: "Oh, a storm is threatening / My very life today / If I don't get some shelter / Oh  yeah, I'm gonna fade away". Isso pode ser um aviso, mas a julgar pelos poemas recentíssimos do Horácio — "Velhos" que ele fez circular por email e "Assistindo um especial sobre Leonard Cohen numa sauna gay em Ipanema", publicado no blogue Papel de Rascunho — essa ameaça e seu respectivo contra-efeito (shelter, que não é exatamente o poema) estão ficando não só mais interessantes, mas também mais belos, porque não fazem do malogro um gesto heróico da negação e um embrutecimento, como muita poesia por aí, apesar da oficina. Pelo contrário, a poesia de Horácio Costa é jovem, audaz e despretensiosa o suficiente para converter o malogro em gesto afirmativo.

Para terminar, queria citar o narrador de um filme recente que revi, há pouco tempo. O narrador de Santiago, documentário de João Moreira Salles, pelo menos no tom tem grandes afinidades com o verso de Horácio Costa. São parentes nas contas da juventude e, como disse, afirmativos mesmo no malogro:

 

"Enquanto viveu, ele [Santiago] se ocupou com seus nobres e suas castanholas. Foi salvo por coisas tão gratuitas quanto a dança no parque [de Fred Astaire e Cyd Charisse] de que gostava tanto. Com elas, quem sabe?, pôde suportar a melancolia de quem suspeita que as coisas não fazem mesmo muito sentido".

 

 

 

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O livro: Horácio Costa. Satori. São Paulo: Iluminuras, 1989.

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março, 2009
 
 
 
 

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