sapateado

 

"quem acha, vive se perdendo"

noel rosa

 

guardava consigo

segredos tão seus

que um dia

se tornaram nossos

 

e entre umas e outras

coloria os dias de cinza

enquanto alguma coisa gritava

e chegava ao fim

 

não entendia o porquê

dos sons desconexos

do sapateado da vida

 

mas sempre colhia as lágrimas

para plantar sorrisos

de um sol noturno

 

cedo ou tarde

se calava

para enfrentar a sorte

enquanto a dor a consumia

no interior da morte

 

não sabia mais o que seria de si

somente a dúvida lhe era certeza

porém,uma coisa era fato

 

ao se perder lhe encontrara

ao lhe encontrar se perdera

em um ciclo sem fim

 

 

 

 

 

 

havia

 

havia uma casa branca

cheia de lembranças

das quais não me recordo mais

havia uma nuvem cinza

cheia de tormentos

dos quais me recordo bem

havia esperança,

havia alegria,

hoje não há nada mais...

apenas um havia

 

 

 

 

 

 

amar

 

amar

às vezes cansa

encanta

desperta

engana

destrói

dói

 

 

 

 

 

 

deserto

 

corações vazios

ruas desertas

o meu ser habita

 

sozinho

 

as estradas da vida

pelas quais

nunca ousará

caminhar

 

 

 

 

 

 

diário

 

perto da noite

o silêncio se calou

 

desabafou

 

diante da covardia

 

minha alma já morreu

 

diante da fragilidade

dos momentos

que poderiam ter sido

e nunca serão

 

 

 

 

 

 

monstro

 

o mundo gira mais rápido

do que posso suportar

cheio de verdades hipócritas

e mentiras sufocantes

de sua infeliz felicidade

no abre e fecha

de janelas solitárias

onde habitam monstros

também solitários

como eu

 

 

(imagens @dlemieux

 

 
 
 
 
 
Mima Carfer (Belo Horizonte/MG, 1988). Estudante de Produção Editorial na Faculdade Promove. Gosta de Hilda Hilst, Coca-Cola, cerveja e chocolate. Escreve contos e poemas.