A literatura dramática norte-americana atingiu plena maturidade com as peças de Eugene O'Neill, Robert Sherwood, Elmer Rice, Sidney Howard e outros dramaturgos da década de 1920. Embora tivesse sofrido influência europeia, a dramaturgia norte-americana refletia costumes, ideais e conflitos tipicamente nacionais, os quais surgiam e se expandiam no país em desenvolvimento.

         Desde a Segunda Guerra Mundial, entretanto, o teatro norte-americano encontra-se dividido em duas frentes, forças ou alas, sendo uma de esquerda, liberal, tendendo para a mudança e o novo, e a outra de direita, conservadora, comprometida com a tradição e o velho.

         Verifica-se que essas duas alas não se relacionam entre si, o que traz prejuízo para ambas. Ou seja, a direita, não ousando sair de seus limites, consolida êxitos do passado e permite que velhos hábitos  se fortaleçam. A esquerda, por sua vez, é alienada e preocupa-se tão somente em efetuar transformações cada vez mais radicais.

         Com isso o público tem de escolher entre acompanhar o profissional e lugar-comum ou optar pelo amador e original.

         Sabe-se, entretanto, que todas as inovações testadas e efetuadas pela esquerda se dirigirão inevitavelmente para a direita, sendo que, lá, elas serão desenvolvidas e trabalhadas de forma adequada, pois é da direita que vêm as obras-primas. É lá que os grandes dramaturgos produzem de forma periódica as principais obras para um teatro em constante funcionamento.

         Contudo, quem decide o que pode ser transportado de uma ala para outra, ou seja, aquilo que o teatro está apto a incorporar em certo momento histórico, é o público. Interpretando seu papel de mero espectador, demonstrando entusiasmo ou repulsa, temos que é o público o elemento principal para o desenvolvimento do teatro.

 

 

Tennessee Williams (1911-1983)

 

         Da mesma forma que Eugene O'Neill dominou a cena teatral dos Estados Unidos até 1925, assim também Tennessee Williams estava destinado a tornar-se o principal dramaturgo da segunda geração de teatrólogos norte-americanos do século XX.

         Quando sua peça The Glass Menagerie (Algemas de Cristal), estreou em New York, teve início uma nova era na história do teatro norte-americano.

         A ascensão de Williams, no entanto, foi acompanhada de controvérsias por parte da crítica, uma vez que o crítico John Gassner, entre outros, preferia a forma literária de Eugene O'Neill, Thornton Wilder ou Arthur Miller, embora reconhecesse a eficácia teatral das obras de Williams.

         A principal virtude de Tennessee Williams como dramaturgo é a capacidade que possui para criar personagens, situações, diálogos e ambientes cênicos verossímeis. Ou seja, foi sua habilidade em criar a ilusão da realidade no teatro que lhe garantiu um impressionante rol de honrarias. O primeiro grande prêmio lhe foi outorgado em 1939, pelo Teatro de Grupo de New York. Em 1940, ele foi contemplado com uma bolsa Rockfeller para autores teatrais. No ano de 1944, seu nome foi citado, por realização excepcional, pelo Instituto Nacional de Artes e Letras. Conquistou ainda quatro prêmios do Círculo de Críticos Teatrais de New York (1945, 1947, 1955 e 1961), dois Prêmios Pulitzer (1947 e 1955) e a qualidade de membro do Instituto Nacional de Artes e Letras (1952).

         Tennessee Williams foi o primeiro autor teatral norte-americano a angariar o título de "dramaturgo popular", sendo que sua obra tem sido mais exposta ao público do que a de Eugene O'Neill.

         Em quase trinta anos de carreira profissional, Williams teve treze de suas peças encenadas nos palcos nova-iorquinos, sendo que seu primeiro sucesso foi The Glass Menagerie, em 1945. Entre seus outros sucessos podemos citar A Streetcar Named Desire (Um Bonde chamado Desejo), em 1947; Cat on a Hot Tin Roof (Gata em Teto de Zinco Quente), em 1955, Sweet  Bird of Youth (Doce Pássaro da Juventude), em 1956; Suddenly last Summer (De Repente no Último Verão), em 1958, etc

         Embora Tennessee Williams seja considerado um mestre do palco, foi o cinema que aumentou ainda mais a sua popularidade, uma vez que seu enfoque visual das cenas tornou viável a transposição de sua obra para as telas cinematográficas.

         Para Williams o teatro devia voltar a ser um entretenimento alegre e irreverente, devia simular a comoção e o terror, bem como explorar o cotidiano do homem moderno.

         O desprezo com que Williams tratou os imperativos aristotélicos — unidade de enredo, nobreza de caráter, refinamento de linguagem, controle da violência e subordinação do espetáculo — foi a sua maneira de dar vida a uma forma dramática fiel às realidades contemporâneas. Com isso podemos dizer que os dramas de Williams não são escritos sobre pessoas comuns, mas que, na verdade, eles se destinam a gente comum.

         Além de dramas de sucesso, Tennessee Williams escreveu peças de um ato entre 1936 e 1940, publicadas em 1953 e 1970, dois volumes de poesia (1956 e 1977), além de muitas coleções de prosa e um romance, publicado em 1950. Em 1975, publicou suas memórias, nas quais relata uma vida consumida em sentimentos de culpa, raiva e inferioridade, temas estes que podem ser facilmente associados à maioria das suas personagens.

         Embora não possamos assegurar que as peças de Tennessee Williams resistirão ao tempo como exemplos de grande dramaturgia, é certo que os futuros teatrólogos ficarão em dívida para com ele, por ter sido ele um hábil mediador entre o passado e o presente, o tradicional e o original, o teatro e o homem do povo.

 

 

 
 
dezembro, 2009
 
 
 
 

 

Nádia Montanhini (Rio Claro/SP). Doutora em química pela UNICAMP, e graduada em Letras pelas Faculdades Integradas Claretianas de Rio Claro/SP. Faz, atualmente, especialização em Língua Inglesa e Tradução na UNIMEP.