O novo festim

 

O revelado marujo,

Rei rítmico entronado

Pela feiúra do grotão último, brasileiro,

Com nobre orgulho da pobreza de seus 

Bondes e becos.

A benta união de mitos circulados

Por um novo medo.

Rema a marinheira.

Morre o espírito velho.

O caboclo regenera a floresta.

A morena mãe canta o ponto angélico demorado e violento.

 

Sou o olho renovado mesmo do que há de mais antigo.

Guerrear com calma, brandura e lógica mariana me espalha a figura.

Contar a mole profecia umedece o manto

Que alegremente purifica

A vocação infinita

De sonhar o Brasil.

 

 
 

A raiz no telhado e no terreiro

 

O rei está moço

E ganha ovos de moça.

Anda a pé,

Num deserto.

Sabe-o o mito.

Cristo negro ou caboclo.

Corre a lenda,

Corre o livro.

Municias o rio com o vento.

A aurora é vagina e tambor.

Colo o grau marujo.

Cristo está percutido

Em ovários e astrônomos.

O casto grau do Brasil

Ao norte e amazônico.

 

A água é doce e olímpica,

Há grades e muros no país,

Passam cantos e pássaros.

A raiz se esconde

No telhado e no terreiro.

Há credos dentro do castelo

De um mito.

Há noivos e há justiça.

Nada corre em desalento.

O outorgado rei em mim

Habita.
 

 

 

 

Uma visão olímpica (trecho)

 

Másculo,

 

Meu

Ardor,

 

Meu

Rubescimento.

 

Se

Pudesses

 

Imitar

Meu recato.

 

Amar

É mágico.

 

Teu

Peso

 

Recurva-me

Como

 

Desalento.

Fardo,

 

Cruz

Posta.

 

Mago,

Adoro-te

 

O condão

Dos dedos.

 

Escreves-me,

Me dás

 

Passado.

Músculo,

 

Oratório.

Fazes

 

Pia

De oratório.

 

Meu côncavo

A queimar-te

 

Feito

Febre.

 

Desejo

Cavalos

 

Que

Me dominem,

 

Porém

Que eu

 

Lhes

Cubra

 

A cara

Com

 

Meus

Cabelos.

 

Pastos,

Montanha

 

Infinita,

Olhos

 

Bordados

Sem

 

Mãos

De impaciência.

 

Visto

Sacros

 

E mantos.

O peixe

 

Do

Teu

 

Amado

Ferimento.

 

Nada há

Mais

 

Místico

Que tua

Crista,

Tua

 

Boa

Hora.

 

Reconfortamo-nos

Na dor.

 

Pego

Em tua

 

Mescla

De boi

 

Com

Gato,

 

Tua

Possante

 

Vertente

De

 

Pontos

Virulentos

 

De

Sabedoria

 

Atlética,

Olímpica,

 

Adulta.

O tempo

 

Vai

Virar-nos.

 

Femininos

Serão

 

Teus

Dardos,

 

Tuas

Conquistas,

 

De

Modo

 

A que

Também

 

Menstrues.

Espessos

 

Serão

Nossos

 

Laços,

Combinando

 

Teu

Cheiro

 

De

Mar

 

Com

Minha

 

Pele

Reescrita.

 

Partidos

Permanecerão

 

Nossos

Sexos.

 

Porém,

Finíssimo

 

Ocaso

Da distância

 

Se

Anuncia.

 

Serás

Meu

 

Mais

Compreendido.

 

Olhando

Para o céu,

 

Saberemos

De

 

Um rebanho,

De um

 

Retroar

Do varão,

 

Esculpido

Pela

 

Mulher

Em novas

 

Páginas

De filosofia. 

 

 

Bicos

 

Árvores encantadas

De sol

Me espinham o riso

Maduro e fértil

De dourados frutos

Acordados pelo vasto

Amor dessa mãe

Terra, que zomba

Da doce cantiga de

Ninar pequenos seres

Enfeitados com bicos

Maternos de sugar

A seiva pura que

Jorra no amanhecer

Aflorado em matas

Virgens.

 
 
 
 

Olhos de Tarsila

 

Dai-me senhor

Olhos de Tarsila.

Para que o meu

Templo seja arte.

Afina meus dedos

Tortos e meus

Pés doídos.

Que meu útero

Cansado descame-se

Em vermelho vivo

Para pintar a

Aurora.

Dai-me senhor

A beleza das mãos

Agitadas a moldar a vida.

Dai-me também

A linha curva da

Boa obra.

Que eu seja posta no

Espaço configurado

Pela minha retina solta.

Amém.

 

 

(imagens@ a negra ama jesus)


 

A Negra Ama Jesus - Sílvia Goulart (1966), artista plástica e poeta. Marcus Minuzzi (1971), poeta e jornalista, doutor em Ciências da Comunicação. Radicado em Goiânia há dois anos, proveniente do Rio Grande do Sul, o casal forma A Negra Ama Jesus, coletivo de arte voltado à reconstrução do mito brasileiro através da conjunção entre filosofia, poesia, música e artes plásticas. Realizou, em 2009, sua primeira exposição, intitulada O Livro Lírico e Lógico da Deusa — poemas pintados d'A Negra Ama Jesus, na Biblioteca Central da PUC-Goiás. Mais em http://www.anegraamajesus.blogspot.com.