Grupo Uai Só Comédia na peça Em Cena São do Riso, Itaúna/MG
 
 
 
 
 


 

O poema

 

 

cinco freirinhas
hábitos brancos
um só marido
rezam u'a prece

jesus querido
a lua cresce
perdão há fogo
dentro das pregas

passa uma nuvem
aguinha fresca
vê-se fumaça
perto das pernas

oh virgem santa
que coisa boa
deus abençoe
chover à toa

 

 

 

 

Razão

 

 

Lembro-me do exato momento em que esse poema surgiu: tinha caído uma chuva braba, dessas de fim de novembro, depois estiou, a lua apareceu, a noite ficou perfeita, apesar do calor — tudo muito rápido. Era aniversário da Nana, filha da minha amiga e escritora Roberta Silva, fui lá. Na esquina das avenidas Getúlio Vargas e Afonso Pena [Belo Horizonte], ainda muito longe do meu destino, atravessam na frente do carro cinco jovens vestidas de branco, cinco freirinhas, como numa cena de filme... Caminhavam tão fogosas, saltitavam sobre as poças dágua, riam, cochichavam, davam-me a impressão de que iam a algum lugar proibido, a algum encontro amoroso. Parei o carro para admirá-las e nem pensei muito — o lápis e o papel se encarregaram do resto. 

dezembro, 2010
 
 
 
 

Líria Porto. Nasceu em Araguari, no Triângulo Mineiro, e mora em Belo Horizonte/MG. Professora, poeta, é autora do livro Borboletas Desfolhadas, editado em Portugal (2009), e de poemas publicados em vários sites e blogues, entre eles a revista Germina, Cronópios, Balaio Porreta. Faz parte de Dedo de moça — uma antologia das escritoras suicidas (São Paulo: Terracota Editora, 2009). Edita o blogue Tanto Mar e escreve no Putas Resolutas.

 

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