fernando fiuza | luciana na janela | carvão sobre papel | 27x 35 cm | 1996
 
 
 
 
 


 

O poema

 

 

Morenas mineiras,

serenas sereias

de tetas pequenas

e nádegas plenas

(abundantes).

 

 Sóbrias maneiras

de moças faceiras,

saudáveis mineiras

de além horizontes

(visitantes).

 

Nos clubes, nas ruas,

nos lençóis, à lua,

vestidas ou nuas

— é comê-las cruas —

(são suas?).

 

Em termas piscinas

as vejo meninas;

mineiras maneiras,

morenas apenas,

sereias serenas

louras vindouras

(gatinhas. São minhas?).

 

Negras, castanhas,

castas, me assanham:

discretas, insinuantes

— prefiro as mineiras,

sereias morenas

de tetas parcas e nádegas fartas —

(abundantes).

 

 

 

Razão

 

 

Esse poema foi concebido em Caldas Novas, minha cidade natal, em 1989 ou 1990. Como tudo o que temos no sul de Goiás, e tal como era até a década de 1970, nossos ancestrais tinham raízes em Minas Gerais. As famílias pioneiras de lá (Gonzaga de Menezes, Rodrigues da Cunha, Lopes de Morais e outras) vieram de Minas, tal como os hábitos e o modo de falar, especialmente do Triângulo Mineiro (que já integrou a Província de Goiás). Minha mãe nasceu em Minas (Conquista) e meu pai, que é goiano de Pirenópolis, tinha um avô mineiro (José Florentino Alves, de Bom Despacho). No decorrer da década de 1980, o turismo firmou-se em Caldas Novas e os finais de semana eram marcados por inúmeras excursões advindas de várias regiões brasileiras e, com farta frequência, também de outros países. As pessoas vinham conhecer "o maior manancial de águas termais do mundo" e deliciar-se nas piscinas dos clubes e hotéis.

 

E estava eu vivendo o conforto da minha década de quarenta. Não sei se o apelo vinha do DNA, mas o fato é que sempre me identifiquei, a partir da troca de olhares, com as mineiras. Costumava ir-me daqui, de Goiânia, para a minha terrinha logo após o término do expediente de sexta-feira; menos de duas horas de automóvel, já estava em casa (dos pais), aprontando-me para um circuito descontraído em torno das  excursões chegantes, ou mesmo de pessoas vindas em minúsculos grupos, em carros particulares. Curtia, assim, aquilo que chamávamos de "namoro de final de semana", que melhor se caracteriza, nos conceitos de agora, como "ficar".

 

De alguns encontros assim restaram-me algumas paixões que ensejaram viagens (ora eu ia, ora a namorada vinha) e a distância, sim, foi obstáculo, em alguns casos, para consolidarmos um envolvimento de maiores raízes... Mas ficou, nesse poema, o registro ao que me valeu como uns poucos, mas fortes e expressivos, encontros afetivos. Coisas memoráveis, sim!

 

setembro, 2010
 
 
 
 

Luiz de Aquino (Caldas Novas/GO, 1945). Poeta, cronista, ficcionista, publicou O cerco e outros casos (contos, 1978); Sinais da madrugada (poesia, 1983); De mãos dadas com a lua (poesia, 1984); Canto de amar (poesia. 1986); Menina dos olhos (poesia, 1987); Isso de nós (poesia, 1990); BEG — Nossa gente, nossa história (crônicas, 1994); Razões da semente (poesia, 1996); Deu no jornal (entrevistas, 2000); Meus poemas do Século XX (reedição dos seis livros de poesia num só volume, 2001); A noite dormiu mais cedo (contos, 2002. Prêmio Cora Coralina, da Agência Goiana de Cultura Pedro Ludovico); Sarau (poesia, 2003, festejando os 25 anos de O cerco, que foi publicado na mesma ocasião, em segunda edição); As uvas, teus mamilos tenros (poesia erótica, 2005). Vive em Goiânia. Escreve o blogue Pena&Poesia.

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