©taro416
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

o poeta não descansa

poesia não permite tréguas

 

 

 

 

 

 

o poema entre os dedos

(pedra de fogo)

queima e ilumina

 

 

 

 

 

 

perto do cais

a morte do sol

 

 

 

 

 

 

o poema curto

não cabe no livro

o poema curto

é out dor

 

 

 

 

 

 

três da manhã

o mosquito e o poema

não deixam dormir

 

 

 

 

 

 

versos para lápide

a grande arte

 

 

 

 

 

 

se o poema é longo

logo cansa

 

se o poema é curto

espanta

 

 

 

 

 

 

escreve-se pelas retinas

agonia vira filme

 

 

 

 

 

 

universo

cada um tem o seu

o mel é breu

 

 

 

 

 

 

um poema na mão

grão para semeadura

 

 

 

 

 

 

entre a dor e o verso

o silêncio é fato

café amargo

 

 

 

 

 

 

antes da conta

mais um verso

 

 

 

 

 

 

escrever é vício

sempre trago a vida

num labirinto

 

 

 

 

 

 

solitário

um ipê amarelo

dentro da manhã

 

 

 

 

 

 

a calçada iluminou-se

com lágrimas do ipê

 

 

 

 

 

 

um ipê

no meio do tempo

sorri para a solidão

 

 

 

 

 

 

o corvo

pensa no fígado

devora a solidão

 

 

 

 

 

 

 

esquina

na espera do sinal

estão à espera do sinal

 

 

 

 

 

 

há dias o canalha

salta do espenho

com sorriso entredentes

 

 

 

 

 

 

todos dos dias vem o medo

da morte

e dos números da loteria

 

 

 

 

 

 

na boca

estranho enxofre

(certeza do fim?)

 

 

 

 

 

 

no fim da tarde

salve a morte de cada dia

 

 

 

 

 

 

o sol acariciou os olhos

de ressaca

graves acordes

 

 

 

 

 

 

 

no horizonte

tanta mágoa

 

longe de casa

o perfume da morte

 

 

 

 

 

 

um naco de carne seca

queima ao sol

 

a vida é prenúncio de azul

entre as nuvens

 

 

 

 

 

 

na lagoa

o beliscar da isca

sol de verão

 

 

 

 

 

 

o reino das coisas vãs

no aterro sanitário

 

vizinhos catadores de corações

brincam no quintal

 

 

 

 

 

 

a estrada

o tempo ilumina

tudo diz sim

 

 

 

 

 

 

longe dos olhos

a nuvem desfia

o milagre das águas

 

 

 

 

 

 

às vezes luz

(nuvem escura)

alma sempre vazia

 

 

 

 

 

 

o temporal limpa a cidade

não leva a mágoa

sem fim

 

 

 

 

 

 

essa coleção de espinhos

levou uma vida

 

não é fácil

pisar nos corações

 

 

 

 

 

 

mundo das cores

amarelos gris e blues

a vida sempre bemol

 

 

 

 

 

 

2 de novembro

no centro da cidade

solidão

 

 

 

 

 

 

na fogueira a solidão

tarde para ser triste

 

 

 

 

 

 

vende-se tempero na praça

a vida leve brisa

 

 

 

 

 

 

no outdoor

a ponta do espinho:

Não te amo

 

 

 

 

 

 

na estrada do sol

                      mi

perdeu em si

                     

menor

 

 

 

 

 

 

beijos perdidos

entre o caos e o lixo

 

 

 

 

 

 

à beira d'água

tudo tão lento

a brisa o tempo

 

 

 

 

 

 

nos trilhos da ponte

o céu explode em mercúrio

 

abrir as algemas

e pular do trem

 

 

 

 

 

 

um coelho narigudo

brinca na montanha

 

(eternos segundos)

 

perto da janela

apenas fumaça

(estado de choque)

 

outra ilusão

 

 

 

 

 

 

aprendi enfim

todo poema

vem de um poço sem fim

 

 
 
dezembro, 2010
 
 
 
 

 

Caio Negreiros (Teresina/PI). Poeta. Publicou A decadência das horas, Portal do Hades, Sombras do dia, todos pela Edições Não-Ser. Mais em seu site: http://www.naoser.hpg.ig.com.br
 
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