*

 

A vida tem várias vitrines,

Visões de vitrais —

Diversas versões,

Vendavais

Veladuras gravadas nos alicerces do Universo

Que se veem com o vir-o-tempo,

Nos vobordes, na violência do mar,

Ou num sorriso alvorada.

 

 

 

 

 

 

*

 

Nos dias que não me mato os sentidos,

Penso nas verdades recônditas no ódio,

Esse leite acre que, bem ou mal,

É óbvio.

 

Os ódios são os espelhos da alma.

O ódio é a vitória do Diabo,

E a beleza, sim, é um tipo de ódio.

 

 

 

 

 

 

*

 

Manhãs madrugadas, reclusão, silêncio.

Seja como Besta ou Deus

Despertei o sol

E mais coisa alguma.

A cidade aconteceu sozinha.

 

Eu sequer retirei do colo

O peso incontável do mundo,

E nem esvaziei os bolsos,

Repeltos de areia do tempo.

Fiquei ali, insone alma,

No costume do nada.

 

 

 

 

 

 

*

 

Tenho escrito umas inconsciências

Suores, excreções diversas, nojos

Estive terra e sangue prensado em feridas,

Aflições,

Palavras cáries,

E insônias de verbos.

 

Tenho escrito umas desconsciências

De unhas lascadas.

Ciscos nos olhos das letras...

 

Poesia pode ser metáfora ou metástase.

 

 

[imagens ©randy aquilizan]

 

 
 
 
Pedro Pizelli (Belo Horizonte/MG). Poeta estreante, professor universitário e historiador. Metade Homem, metade Lobo. Bloga no Escotomografias [ http://pedropizelli.wordpress.com ].