HERMES TRISMEGISTO

 

as brancas águas do Silêncio

dissolveram-me os tímpanos

e meu brado lacerou

o duro tecido dos séculos

restou-me caçar esfinges

por entre miragens no Deserto

 

 

 

 

 

PLATÃO

 

apalpar

a pele

da Sombra —

esse pássaro que nunca é o mesmo —

até que a Treva

inunde o Silêncio

 

 

 

 

 

ECLESIASTES I

 

erigir

estátuas

de vento

 

esculpir

o rosto

do Abismo

 

afogar-se

num Mar

de Silêncio

 

 

 

 

 

ECLESIASTES II

 

nadar

desde a madrugada dos Tempos

nadar

até que o Pescador Implacável

lance a rede sobre o Mar

 

 

 

 

 

*

 

leve desliza

a folha no lago

pequeno barco

movido a brisa

 

 

 

 

 

metafísica das borboletas

 

serão almas

das flores de outrora?

 

 

 

 

 

versos escritos no vento

 

só os pássaros

conhecem o além

 

 

 

 

 

*

 

velho xadrez

o sopro do vento

derruba os reis

 

 

 

 

 

*

 

gotas d'água

na lâmina do lago

flores de cristal

 

 

 

 

 

*

 

chuva verde

sobre serra negra

pirilampos

 

 

 

 

 

*

 

dança das flores

no ermo da mata

o grito da garça

 

 

 

 

 

*

 

noite escura

o voo da coruja

QUE FRIO

 

 

 

 

BERNARDO Valois SOUTO (Recife/PE, 1982). É bacharel em Crítica Literária pela Universidade Federal de Pernambuco e mestre em Literatura e Cultura: Estudos Comparados pela Universidade Federal da Paraíba. Tem poemas publicados em revistas literárias como Zunái e Caqui. É autor do livro de poemas Elogio do silêncio (2010).