Emily Elizabeth Dickinson nasceu no final do outono de 1830 na cidade de Amherst, Massachussets, nos EUA. A cidade de Amherst, onde Emily passou toda a sua vida, era um pequeno mundo em si mesma. Bastante equilibrada economicamente, a cidade também possuía uma intensa cultura religiosa e intelectual.

Na época de Emily, as regras convencionais que ditavam como a poesia deveria ser, diziam que a mesma deveria aproximar-se da prosa tanto no que diz respeito à gramática quanto à sintaxe, e que seu vocabulário deveria ser diferente do utilizado na fala comum, ou seja, mais refinado. Emily, no entanto, fugiu a toda e qualquer convenção. Sua poesia trata de questões relacionadas com a morte, a imortalidade, Deus, a natureza, o amor, a opressão e questões relacionadas à arte da escrita, entre outras coisas.

Para Emily Dickinson, o mundo no qual vivemos é um lugar assombrado e cheio de mistérios, espaço este onde habitam as criaturas de Deus envoltas por fenômenos de toda ordem, regidos pelo Criador.

Em seu poema "Nature" is what we see, a poeta retrata a natureza por meio de sensações, ou seja, através das coisas que vemos, ouvimos e sentimos, as quais coexistem de forma equilibrada e harmoniosa.

 

 

         "Nature" is what we see –

         The Hill – the Afternoon –

         Squirrel – Eclipse – the Bumble bee –

         Nay – Nature is Heaven –

         Nature is what we hear –

         The Bobolink – the Sea –

         Thunder – the Cricket –

         Nay – Nature is Harmony –

         Nature is what we know –

         Yet have no art to say –

         So impotent Our Wisdom is

         To her Simplicity.

 

 

O que vemos é Natureza –

         A Tarde – o Monte –

         Esquilo – Eclipse – a Abelha –

         Mais ainda – é Firmamento –

         Natureza é o que ouvimos –

         O Mar – a Triste-pia –

         Trovão – o Grilo –

         Não só isto – Natureza é Harmonia –

         Natureza é o que conhecemos –

         Mas expressar não conseguimos –

         Tão pouca é Nossa Capacidade

         Frente a sua Simplicidade.

 

 

         Emily Dickinson estava sempre atenta aos vários aspectos da natureza, sendo que um de seus melhores poemas tem por tema o nascer e o pôr-do-sol.

 

 

         I’ll tell you how the Sun rose –

         A Ribbon at a time –

         The Steeples swam in Amethyst –

         The news, like Squirrels, ran –

         The Hills, untied their Bonnets –

         The Bobolinks – begun –

         Then I said softly to myself –

         "That must have been the Sun"!

         But how he set – I know not –

         There seemed a purple stile

         That little Yellow boys and girls

         Were climbing all the while –

         Till when they reached the other side,

         A Dominie in Gray –

         Put gently up the evening Bars –

         And led the flock away –

 

 

         Eu lhe direi como o Sol nasceu –

         Uma Fita de cada vez –

         As Pontas na Ametista flutuavam –

         A notícia, como Esquilos, corria –

         As Colinas suas Toucas desatavam –

         Principiava – a Triste-pia –

         Eu disse, então, a mim mesma –

         "Isto só o Sol faria"!

         Mas como ele se pôs – eu não sei –

         Degraus púrpura existiam –

         Por onde Louras crianças

         O tempo todo subiam –

         Até que alcançado o outro lado,

         Um Pastor de roupa Escura, gentil

         Ergueu as Barras noturnas –

         E o bando para longe conduziu –

 

 

Nesse poema, os raios do sol nascente são comparados a fitas tremulando no céu, enquanto no ocaso, os mesmos raios são associados a crianças que são recolhidas, conduzidas para longe por seu mestre.

         A sensibilidade da poeta às cores, e de modo particular ao amarelo, é  mostrada no seguinte poema:

 

 

         Nature rarer uses Yellow

         Than another Hue

         Saves she all of that for Sunsets

         Prodigal of Blue

 

         Spending Scarlet, like a Woman

         Yellow she affords

         Only scantly and selectly

         Like a Lover’s Words.

 

 

         A natureza mais raro usa o Amarelo

         Do que outra Cor diferente

         Guarda-o todo para o Ocaso

         Quando mais Azul dispende.

 

         Esbanjando Escarlate, como uma Mulher

         Do Amarelo vai dispor

         De modo seleto e escasso

         Como Palavras de Amor.

 

 

         Sua preferência pelo amarelo nos faz pensar que, talvez, não seja por acaso que ela tenha retratado com mais frequência, em seus poemas, os seres que apresentam essa coloração, entre eles a abelha.

 

 

         To make a prairie it takes a clover and a bee,

         One clover, and a bee,

         And revery.

         The revery alone will do,

         If bees are few.

 

        

        Para fazer uma campina juntar um trevo e uma abelha,

        Só um trevo e uma abelha,

        E fantasia.

        A fantasia sozinha dá conta,

        Se as abelhas são poucas.

 

 

        Emily Dickinson morreu na primavera de 1886, aos 55 anos de idade.  Tendo vivido uma vida na qual não buscou fama, fortuna ou o reconhecimento público, ela viverá para sempre no coração dos que a amam e admiram.

 

 

 
 
março, 2011
 
 
 
 

 

Nádia Montanhini (Rio Claro/SP). Doutora em química pela UNICAMP, e graduada em Letras pelas Faculdades Integradas Claretianas de Rio Claro/SP. Faz, atualmente, especialização em Língua Inglesa e Tradução na UNIMEP.