Olhos azuis

 

Quando contemplava aqueles olhos azuis,

Profundos, expressivos às vezes assustadores,

Não compreendia nunca na sua imensidão,

O valor inexplicável dessa profundidade.

 

Olhos azuis que diziam muito de si mesmo,

Que traduziam carinho e severidade,

No mesmo olhar longo e transbordante

De brandura involuntária revelada a cada momento

 

Olhos azuis que por vezes se me afiguravam cristalinos,

Manifestando rancor ou extravasando numa mesma expressão,

Meiguice, amor e doação nunca vistas.

 

Olhos azuis que eu amei e nos quais senti segurança,

Que me bastavam na hora do sofrimento irremediável,

Que se fazia presente, quando todos me faltavam descomprometidos,

E que lá estavam quando eu mais sentia dor ou solidão.

 

Olhos azuis que meu pai ostentava indiferente à sua beleza,

Que escondia em óculos de armações elegantes,

Olhos azuis que eu soube fitar com ternura ou mágoa,

Mas que hoje os vejo até no escuro brilhando azuis,

Inesquecíveis e sinto dentro d'alma,

    O incrível magnetismo radiante

    E quase onipotente.

 

 

 

 

 

 

Copacabana

 

Copacabana que esconde nossos desejos

Em suas ruas largas e movimentadas,

No anseio das pessoas que passeiam

Trazendo nos corações a vida

Que ela transmite

 

Copacabana de minha infância e adolescência

Presente em cada sonho prestes a explodir,

Em cada momento vivido sem tréguas,

Na alucinação dos espaços movimentados

 

Copacabana, dos bares cheios de gente

A contar os segredos recônditos

E a buscar no burburinho constante

A felicidade encontrada e perdida.

 

Copacabana, rainha de todos os prazeres

Princesa cujo magnetismo conquista o espaço

E se faz presente e testemunha

Nos sentimentos sussurrados

Em suas esparsas calçadas

 

Copacabana, de crianças esperançosas,

Adolescentes a um tempo,

Desconfiados e vibrantes,

Adultos que ainda trazem

No olhar concentrado

A admiração e carinho,

Pelo encanto carismático

Do bairro mais amado do Brasil.

 

 

 

 

 

 

Seca Indigna...

 

Nunca vi a seca de perto.

Mas olhando e acompanhando

Meu coração se entristece,

Ao ver tantas pessoas humanas,

Sofrendo e passando fome.

 

Não podia existir isso,

A natureza é sábia e mestra,

Crianças sofrem em desespero,

Os pais de aflição e dor.

 

Por que a seca? Por quê?

Seria a devastação da natureza?

Ou  o apoio e humanidade

Estão ausentes atualmente?

 

Vemos amargurados, a secura dominar

E nos sentimos impotentes

Diante de quadro tão devastador,

Desse povo que já nasceu sofredor.

 

Os pequenos, a magreza dominando,

Ossos aparecendo salientes,

Adultos agoniados e descrentes

Rezam a Deus na angústia extrema.

 

Alguma coisa é preciso fazer,

Não podemos, inertes e cépticos,

Assistir ao espetáculo público,

De degradação e miséria humanas.

 

Não nos conformemos, pois

Peçamos que a piedade tome conta

Das autoridades competentes,

E possamos dar um grito de alerta!

Não! Seca, não!

 

 

 

 

 

 

Oração

 

Senhor,

 

Dê-me força para continuar percorrendo

Esse caminho contornado de obstáculos,

Ensinai-me a ter vigor em todas as horas,

Nos momentos de fragilidade ou desesperança,

Nas tristezas, alegrias ou depressões,

E quando me sentir vulnerável ou incompreendida.

 

Não deixai que eu seja egoísta ou indiferente,

Permita-me enxergar as necessidades alheias,

Não ser exigente, intolerável ou mesquinha,

Nunca me julgar superior e insubstituível,

Para todos ter uma palavra amiga

E não guardar mágoas desnecessárias.

 

Fazei com que enxergue as virtudes do próximo,

Que encontre as qualidades ocultas dos amigos,

Agradecendo o sorriso confortador e sincero

De todos que me entenderam em momentos difíceis,

E daqueles que jamais e  por nenhum motivo me faltaram.

 

Senhor eu lhe agradeço a minha vida,

A vida de todos os meus entes queridos

E também daqueles que desdenham os sentimentos.

Agradeço os sonhos que realizei e realizarei,

Os ideais perseguidos e alcançados,

Os dias de prazer, reencontros e alegrias,

As pessoas tão importantes que encontrei em minha estrada.

A minha família, meu companheiro, meus irmãos,

minhas filhas, parentes, amigos e companheiros de estrada

Todos os seres encantadores que me ajudaram e serviram

E as pessoas especiais que puseste em meu caminho.

 

Ajude-me a não cometer injustiças,

A relevar ressentimentos e raivas,

A ser amena nas reações,

A desenvolver o dom da paciência.

E me dê forças para agir e sentir dessa forma.

 

 

 

 

 

 

Traumas

 

Aquela ferida de ontem,

Da infância sofrida,

Marcada,

Lesada,

Não será apagada

Nem curada.

 

Ficará para sempre presente,

Doída às vezes levemente cicatrizada,

Porém se abrirá em chagas,

No momento de qualquer dor.

 

Por vezes pensamos,

Sonhamos,

Que tudo passou,

Acabou,

E lá vem a recordação

E com ela

Tudo volta, transtorna,

Não ficamos livres dela.

 

Lá longe ficam as gravuras,

Que o tempo solidifica,

Nos desgostos e agruras

E jamais com o passar do tempo,

Nem cura nem modifica.

 

O pensamento às vezes tortura,

Nessas imagens de traumas,

E intensifica a latente amargura,

Fixada na infância longínqua

Com suas lembranças e traumas.

 

Os vestígios das feridas reagem e acendem,

Quando nela involuntariamente tocamos,

Tempos idos revivem e voltam

E os traumas

Machucam, torturam e reacendem.

 

Eles ficam dormentes, porém indeléveis,

Esperando o ligeiro sofrimento,

Para retornar agudo e profundo

No suspiro de intenso lamento.

 

 

 

 

 

 

Eu me enterneço...

 

Eu me enterneço na saudade,

Na lembrança da paixão ávida,

Nos instantes de intensa lealdade

E na palavra meiga e cálida.

 

Eu me enterneço ao som mavioso,

Quando aprecio a instintiva natureza,

No beijo apaixonado, louco e ansioso

Nas diversas formas de beleza.

 

Eu me enterneço ao ouvir a voz

Tão querida e tão harmoniosa,

Nos momentos de conversa a sós,

Na disputa de amor vitoriosa.

 

Eu me enterneço ao corresponder

Ao seu profundo olhar misterioso,

Conseguir  me fazer entender

Na efusão do coração silencioso.

 

Eu me enterneço nas lindas noites

Em que as estrelas poderosas cintilam,

Esparzindo como suaves açoites,

Seu brilho nas janelas que ventilam.

 

Eu me enterneço no reencontro,

Longo tempo na espera e realizado,

Com o toque das mãos no breve encontro,

No abraço tão especial idealizado.

 

Eu me enterneço em cada gesto de amor,

Nas horas escaldantes e tocantes de paixão,

Na triste, aflita e tão amarga dor,

Quando os amantes separados lá se vão.

Eu me enterneço...

 

 

 

 

 

 

Escrever poesias

 

Escrever poesias para mim

Aconteceu desde pequenina,

Quando a minha alma solicitava,

E meus dedos se moviam.

 

Quando me recolhia enlevada,

Sem nem saber o que discorria,

Ansiosa e feliz a procurar-me,

E só me encontrando lá no final.

 

Nas horas de alegria absorvente,

A extravasar em sorrisos e letras,

O intenso e delicioso delírio de viver,

Perdidas nos sinais que eu amo.

 

Nas eventuais tristezas passageiras,

As lágrimas transformadas em ecos,

Vislumbradas em meu coração,

E solicitadas em forma de criação.

 

Escrever poesias para mim,

É um grito de alívio e liberdade,

As criações do meu sentimento,

A sensibilidade tão aflorada.

 

É descrever as horas de amor,

Que rememoro em êxtase e carinho,

Entender cada um de seus momentos,

e vivê-los transformando em poesia.

 

Escrever poesia para mim é vibrar,

Ter a alma em constante movimento,

Sentir a ternura que acalenta e transtorna,

E do amor sempre criar uma canção.

 

 

 

 

 

 

A uma criança especial

 

Assim eu te amo,

Com a alma cheia de ternura,

Despertando cada minuto,

Entendendo tuas necessidades,

Perscrutando teu pequeno coração,

Olhando teus olhos azuis tão profundos,

E neles me perdendo em carinho.

 

Assim eu te amo,

Independente de qualquer pensamento,

Na incerteza do que tem a oferecer,

Não me importando das cobranças,

Nem pensando no  incerto futuro,

Tendo consciência do meu amor,

E por ele me doando em felicidade.

 

Assim eu te amo,

Em todas as horas difíceis  da vida,

No lento caminhar extenuante,

Na esperança renovada cada minuto,

Na insegurança de teu lindo olhar,

Nas expectativas irrealizadas,

E novamente com carinho renovadas.

 

Assim eu te amo,

Na luminosidade do sonho benfazejo,

Na escuridão da densa realidade,

Quando a ilusão me rodeia,

Em todos os momentos em que reflito,

Que existes e estás a fitar-me confiante,

Esperando a segurança que te transmito.

 

Assim eu te amo,

Nas múltiplas circunstâncias,

De mil maneiras diversas e estranhas,

Quando prevejo o porvir e não o alcanço,

Na proteção com que te cerco,

Em cada instante que penso em ti,

Na tua fragilidade que transformo,

Em fortaleza,

E no teu amor,

Que me enternece.

  

 

 

(imagens ©tanakawho)

 

 

Vânia Moreira Diniz (Rio de Janeiro/RJ). Escreve desde os sete anos de idade e fundou e dirigiu, durante dez anos, em Brasília, onde vive, o Centro de Treinamento de Línguas. Escritora, poeta,divulgadora e proprietária e editora do portal Vânia Diniz e do Espaço Ecos, Presidente Vitalícia, Fundadora e Executiva da Academia de Letras do Brasil Seccional DF. Autora do  romance Laura, Pelos caminhos da vida, Pelos caminhos da alma, Ciganinha, Aquarela em poesia, este último em parceria com a poeta Vania Serra. Autora de Raízes, em parceria com sua Irmã Cristina Arraes, uma homenagem aos pais das duas escritoras. Escreveu, em parceria com o Professor Paulo Matos Ferreira Diniz e o médico Antônio Paulo Filomeno, o Manual sobre a saúde física e mental do servidor  público civil da União. Edições eletrônicas: Olhos azuis [duas edições], Eu me enterneço, Além do horizonte, Acordes, Ternura, O caminho a seguir, Rabiscos, Coração em versos, Letras da vida. Tem participação em mais de 35 antologias publicadas. Participa da Saciedade dos Poetas Vivos Digital Vol. 3publicada por Blocos Online. Coordenou e participou da Antologia VMD (Vânia Moreira Diniz), onde reuniu colunistas de seu portal. Embaixadora da Paz no Mundo, título conferido por Gabrielle Simond, Presidente do Círculo da paz, Genebra/Suíça, em 5 de outubro de 2008. Ocupa a cadeira nº  001-2009, onde recebeu o título de Filósofa Univérsica  Imortal – "Honoris Causa". Diretora do departamento de Documentação e Registros Históricos da ALB. Diretora do Conselho da ALB/DF. Membro do Conselho Fiscal do Sindicato dos Escritores do DF.