Alumiado céu de estrelas rotas

 

Os quadros mais bonitos são aqueles com que sonhamos quando fumamos cachimbo na cama, mas que jamais pintamos. Mesmo assim, devemos atacá-los por mais incompetentes que nos possamos sentir ante a perfeição indescritível, os gloriosos esplendores da natureza

Van Gogh

 

Entre o peito o céu a punção delírio

Estrelas como caspas ascendendo mansão petróleo

Imenso cacto estático espinhos fúnebres

Leito Vincent recluso andrajoso

 

A alma do poeta (Jack quero água) sempre tesa frente ao escarcéu abelhas zunindo em torno de ou em ou entre onde lóbulo frontal extravasando signos o poeta poetinha

 

 

                                                          G         I         N         S         B         E         R        G  Olá sim eu                                                                A                                              I

                                                                                                                              M

No Sir him                                                                                                                B

                                                                                     L        I        N        H       A

Si por supuesto                                                                                                         U

                                                                                                                              D

 

 

O peito é theo vindo velho vórtex cambaleia torrencial fração equimose eureka esdrúxulo

 

                                       -- Faz -- mas -- O -- QUÊ -- A -- QUI --         

 

Ninguém disse quem não sabe Maomé quase entornou a saga veloz das fúrias por querer abrir

        Farelos de borracha até o pé da boca da parede {pântano}

 

A mente humana, essa roça árida, despe-se e sai de cena

 

 

 

 

 

 

Chuvas molham a incerteza outrem

A carne corta a carne

o sangue escorre na pia

e assim eu escrevo

Carl Solomon

 

Letargia o peso nas costas aliviando o ombro da humanidade

Séculos e séculos de marfim o denso jabuti que corre veloz – linhas no espaço de tal que pareçam afiadas lâminas de esquartejar corpos – nunca atingirá nem mesmo em suma a gênese: alucinose empírica

 

(a pedra sonolenta desenha rouxinóis ensolarados dentro de uma gruta primitiva)

 

Senta-se ao trono do insípido: o corpo: dos homens: eclode

Hesitação -- mezzo-harmonia -- írisdescente da carne – dura

Verso confessional, anti tese, separação: faces: estrados – hoje acordei nove: eram noite: as cores entram no quarto pesadas cheias de ódio porém ainda cores – lamaçal verde de tulipas decepadas escorre de cima da cama para abaixo do abismo – alguns cheiros estalactiformes caem sobre a cabeça do doente (são os restos estrangulados de uma menstruação-hemorragia)

Parado frente ao Hades analgésicos analgesiam amálgamas:

                                               in-

                                                     orgânico

 

 

 

 

 

 

Cenestopatia do lusco-fusco

 

Quando o passo se faz mais ligeiro, o pensamento para, procura se apoiar nos objetos. Às vezes não consegue se apoiar, só os toca ao passar, ou os toca apenas com o olhar. As coisas decisivas e concretas – a jarra com os heliotrópios ou o pássaro que leva o girassol em seu bico rosado –, teriam que ser varridas com o tato. Um olhar é suficiente para congelá-los em seu percurso?

Lezama Lima

 

Lápis voadoras e o medo violeta a insegurança realçando as grades do cerco Opus Dei como chuva de louros sobre a cabeça das elites tártaros escalam as paredes e namoram com traças chupam mofos tudo é orgia nas ancas verde-bexiga da cortesã

Na escarcha do real estalo dedos até falanges sôfregas e de zinco gritem balbuciem meneiem as unhas peçam indulto e o sono caminhe e a alma só Karma

Geme Anastácio perdido na Rua Augusta ele ortografa e ortografar não paga o arrendamento e os usurários estão everywhere oh holy shit agora então assim que tal Asdrúbal e reflete grafar é jogar golfe com os globo oculares a retina toda perplexa purpúrea dos golpes onde estão onde estão Lezama onde estão as refrações aquosas desse sertão de Seu Paulo onde estão Lezama onde está

A meretriz de voz cavernosa olhos de botão metálico à esquerda e à direita do nariz balbucia oh Anasdrúbal vo-cê tá doi-dão não es-ca-la-fo-be-tiii-za sai dessa seu judeu de Yah yo lo se yo lo se que o usurário é você yo lo se yo lo se

Cáften recolhe cadáver de cliente todo psicótico —bad trip— num mictório de azulejos portugueses celestes azuis desbotados

 

 

 

 

 

Temp-orar

 

Quando conhecer sua alma

pintarei seus olhos

  Amedeo Modigliani  

 

 

O ressoar: galhos

luzes tímidas tremem luzem em papel – pastiche

a matéria idiossincrática


paralela


ao


universo

 

 

(----------espaço----------)

 

 

Árvores verde-rubras

da Paris quimioluminescente em escamas

camélias diletantes – o néctar

de chafariz ateniense cortando

pés de Aquiles

 

Estética transgenecendo as maçãs da Aurora

pintando de ocre-verde ou chumbo-doce os

alabastros / balaústres

das cerâmicas cordas de vidro

do Parthenon

 

Jugular em retro-simbiose

eletrocardiogramas de um arbusto

exclamação da tragédia humana

em pequeninas veias de plâncton (ou fungo)

 

               this is 

modigliani 

on pajamas            

ou Arquimedes fundido à lei do repuxo

 

Prótons: o cilício é de silício

Iluminate Sancta Sanctorum de Leonardo

toda Roma anseia por seu esfíncter

 

Insurreição em aniluz

os espirros sobremovendo os espíritos

bailarinas de Degas

excelsas com

espadas: distintos

expoentes da gastúria

 

Punção na Macedônia:

gárgulas de Chopin

depois de

sorrir

erodem no

escusocéu –

intercorrência 
de

planos:

 

cálculo renal

  

 

 

 

 

Island Empire  

 ao sudoeste do teu sonho
uma dúzia de anjos de pijama urinam com
transporte e em silêncio nos
telefones nas portas nos capachos
das Catedrais sem Deus

Roberto Piva

 

A morte

tal qual envergadura do

sonho

 

-cerne-

 

 

natureza inexata, cítrica

sobe, desce, desalucina

estanca o instante que é

 

 

-para

ísso-

 

 

colérica insensatez

todo fechar

 

o

  

lhos

 

 

 

Telephone Boobs

 

Arderíamos a noite toda entre os pinheiros do pico 

visíveis de Denver na escuridão do verão, 

clarão nada natural da floresta

iluminando o topo da montanha:

 

infância adolescência idade & eternidade

se abririam como doces árvores

para as noites de outra primavera

atordoando nos de amor

Allen Ginsberg

 

[Senhora vai me ouvir

Deixar

Me vai senhora

Vai me

Ouvir deixar]

 

-Belzebu, o quê

O quê

O quê-

 

Você, cônjuge

Organizações anátamo-fisiológicas diferentes

Unidas

 

-AHN?! Um Doidivanas-

 

Pi pi - pi pi - pi pi - pi pi

Maluco sem movimento orelhão de cor sinestésica (limão-borracha) empresa que nos rouba até a alma gancho boca fala liga – sem parar liga umas nove vezes desliga – três e meia da manhã [o raio que parta degenerado] liga liga – fio do telefone idiossincrático vestido de vênus sai do aparelho ---paradoxo--- maluco infeliz maluco do mal maluco maluco mameluco que antes de dominar o Egito foi pego pela PM passando trote no corpo de bombeiros – lhes deram espelhos

 

Senhor Doidivanas causa impressão moral espanto (ó convenção social nossa de cada nascer do sol) na Senhora atendente que do primeiro segundo ao terceiro pensa Whata fuck is this about Jesus Mary Josué and or in or the or that on with Chaim e depois do quarto segundo em diante olha cônjuge com face desfigurada de riso atento a estupor esquizo da Senhora and laugh, laugh all the night

 

So was that? What he said what he said?

 

 [Senhora vai me ouvir

Deixar

Me vai senhora

Vai me

Ouvir deixar]

 

Senhora fecha os lábios e abre o riso senhora a mais sem hora de todas Senhora há um riso no meio do caminho asshole tell me the rest tell me the rest stop laughing like a pig swimming under the sea stop laughing like a portentous pig pig – pig pig – pig pig – pig pig  

Anônimo descauteloso sóbrio só decadente organizações anátomo-fisiológicas insurgentes unidas anônimo descauteloso Señor e a grande orelha telecomunicativa sem brincos

 

 

Trilogia do Apartamento

  

I. Repulsa ao septo (ou Horizontes)

 

John Borgia foi mergulhado enfim. (O ruído do relógio
                                                                              atravessa a vista)

O Tibre, escuro sob o manto, gato molhado a brilhar em
                                                                                                  malhas

                                                                                           Ezra Pound,

                                                                                                Canto V

 

Na argúcia minha benevolência

castelos escalam sinos

torres se dobram os mares

passarinhos cantam desengonçadas notas si

rinocerontes embebem rio

 

sol-forasteiro

subo horas digo adeus ventos

caio estatelado circunferências da

graça divina

me desmonto pedaços

constantes-acesos

finos-cítricos

laranjas em ebulição do

Novo Tempo

 

Adentrar: horrores da mente

cálidos bustos honras dissecadas

soníferos elos elmos pontes

submetidas

aos

arraiais

do instante

 

calo circundo um hexágono doente

chão de qualquer hospital

qualquer vida burlesca:

enfermidades do Cristo

 

flores estalam não me

podem ver

estão armando rebelião

---indiscretas---

querem mostrar minhas calcinhas ao

mundo

formigas carregam lentamente meus

poros abertos sinalizando

sou

sangue infinito de septo

carrapatos psiquê grita

grunhidos guturais gelam grutas

dores calos imersa suspensão

exposta contragosto nobre templo

decadente

 

privadas estão também acometidas pelas notas si

si não tivesse tanto dejeto no mundo si não tivesse xiii-xiii

portas mesas todas cadeiras hajam

ais no fundo

subam direção aos céus

deixem surrealismo dormir

não brigar com amiguinhos

descansar depois correr pelo mato

relvas selvas iconoclastia

 

as colheres poder tem ínfimo

sol nasce lindo rouco

mar afogou Rimbaud: próprios elogios

Cantos estão presos no Colorado

 

Super Libidinosa Mãe pare de jogar nossos

sonhos

aos

céus

 

noutra hora mesmo dia argolas emudecem

Humanidade pede perdão –  meia dúzia de

Vaidades

 

idade das nossas vaidades é superior um ínfimo

sua

Sanidade

 

não cansa de tagarelar

boca suja e solta

Orgulho entoa seus provérbios

Humanos correndo

correndo corram

O AMOR DE DEUS

duendes não podem ultrapassar

mais

austeros

 

doença espalhou-se toda parte

espíritos terrestres tomam soro

pronto socorro

indulgente

enfermeiras tratam crianças como

estacas: aço

estacas de aço panfletam contra

corrente

 

 

momento etéreo

anjos tocam Terra

balançar nuvens parece mais salsa que

samba

 

sou a loucura toda pintada de preto

Clarice Lispector – todos seus medos

 moinho disforme anuncia morte

Van Gogh

Frida Kahlo estarrecida mundo

bêbado

cura nunca chega também não dorme

alça infernal sistema impune

raiva todos-os-costumes

dedo direito do desapego

 

 

Na languidez percepção

esférica

acudo límpido escuridão:

Há Baudelaire escondido

abaixo

meus pés:

recolher amores

 

 

II. O bebê e João de Melo

 

 

— O meu nome é Severino,
não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.

João Cabral de Melo Neto

 

 

 

Farfalhar de gotas no Jardim

João de Melo e a menina entre gravetos engravatados os dedos presos angústia do instante tático tácita a luz que fagulhas que pedras o feto esperas entoar do Mal Farfalhar de poças rotas rotas crescendo sibilando choro diagonal a cruz o credo as veias no teto cannabis no Jardim

A cruz o credo o berço que balança a mão que trincha parede sombria equiválida a cruz o credo João de Melo o sertão psiquê arrepia

 

 

Dentro rotas rotas

Pálidos contra-ventos

Calado morro portas

8 ritmo-senso

 

    Sol den so

       a     tro vões

       r     rot inas

        o    p as mem

     g      rot     b

     a tent as       r

         q uero           a

           u                n

            i               a

                                sol

                                         u

                                                    çam                

 

Psiquê picíquê physics

Terreno infértil irascível

Roça cru acima montanhas

Seringas, feito fossem, madeiras

Ponta-cabeça

Quebra-chocalho

Sucuri estável

 

(sai Savana)

Elohim Jeová

YHWH

Tetra gramas

Focking

raised

mon

th

 

S

s

s

s

s

s

s

s

s

s

S    

 

Cabeça

 H

 O

 M

 E

 M

                                                                   joe              lho

                                                                   em             

 

 

III. Anasdrúbal de chapéu (ou Anasdrúbal menino; ou o infante Anasdrúbal – o desgarrado)

 

Remontando o Zaino, nosso cavalo, tio Rosenaro, guiado pelo guarani Imbaraté, trotou cuidoso as trilhas espetadas de espinho-santa-maria até as cercanias da maloca, ninho no oco da floresta onde o escasso povo do cacique Asîguera se escondia.

Wilson Bueno

 

 

Amarelo quase verde meio degringolado uns paetês coloridos CMYK gênese Anasdrúbal saltando olhos carroças agulhas como estacas em meio à savana o tigre esse Tibre tímido córneas recuadas unhas desinibidas como em Cézanne Anasdrúbal, o inquilino das conas marinhas, como Roseleno, nosso avô, aos miados dizendo

 

Na solidão velho jazigo

Sombra permeiar túmulos

Injeções mudinhas: doença fatal

Fanáticos fetos natimortos falantes

Rondam: sono dos transeuntes

Álvares pelado de estômago empty

 

Anasdrúbal, nosso irmão, chegara há pouco na cidade ele seu chapéu as purpurinas já causavam grande adjacência cultural nos pregos na casa tudo tremia bêbado de insônia gemidos de alusão moral ao caos ódios escondidos atrás do armário atrás do buraco atrás da parede dentro da mente

 

Catalepsia:

Poema nu sobre montanhas:

Olhos de carcaça humana:

Disfarçados de feixe-lux

 

O vento chacoalhava seus cabelos como fosse angústia passageira – mortos João de Melo e a menina ou a menina de João de Melo ou João de Melo menina – átomos entoavam estrofes canto sem lamúrias: a gorda o vidro – desconcerto

 

De costas olhos humana

Carcaça física

Poente:

Vazios cálices habitam

Flores

Interior de piano

Sem cordas

 

 

 
 

 

Insert the coin (ou baby-Ofélia)

 

The butterfly obtains

But little sympathy

Though favorably mentioned

In Entomology –

 

Because he travels freely

And wears a proper coat

The circumspect are certain

That he is dissolute –

 

Had he the homely scutcheon

Of modest Industry

‘Twere fitter certifying

For Immortality –

 

                                                                                                                                        ***

 

A borboleta desfruta

De pouca simpatia

Embora com louvor citada

Na Entomologia –

 

Porque viaja livremente

E apropriado casaco veste

Circunspectos estão certos

de que é devassa –

 

Tivesse ela o escudo rústico

Da indústria despretensiosa

Certa estaria

sua Imortalidade –

Emily Dickinson

 

 

 

A égide do beco estátuas farfilhando as escadas do céu seu João entrou e disse Vá! e ela foi ela foi ela está perdida Ofélia – o bebê Ofélia – a onda que bate no teu rosto é o firmamento em pedaços ó fel da humanidade a criança pelos negros de discórdia alva alma de prazeres afeto o feto emana azuis os olhos cruéis dilaceravam entranhas o peito angústia melada de horas inválidas o peito a água as bombas nucleares de emoção

 

Não soubesse os rostos – cada um

Estaria agora com fome

 

Além-túmulos fechado rio comiseração em vários matizes chamem Matisse pintem uma Monet pontinha japonesa --burgueses agradecidos-- estética sem desespero mulher Ofélia afundando braços como que implorassem qualquer deus olhos parados na curva-infinito de cada sonho gélido 

Não fossem flores

Resto fosse fato

 

Protótipos-estrelas raízes à direita à esquerda mato ofegante luz afunda a fundar afunda a fundar afunda a fundar ao fundo – cólera – esqueleto vestes verdes

 

Toma ônibus pro paraíso

Oh senhora dos despachos

 

A caminho menino sem camisa barriguinha de vermes menino não foi a missa também tem vermes menino sua cantado soando Bach rua tuas vestes fedem guaraná

 

Que tanto                    que fala

Que fala         que tanto

 

Papagaio engoliu você

Que tanto que tanto

Engoliu você papagaio

Papai-gaio

 

Sssssmmmmmtsch

saliva lançada espaço-full

  

Olha menino olho só pai-cobrador —introduza a moeda, introduza a moeda— passa uma perna só uma vida não suba na catraca disse não falaria com uns pobrema nasceu agora sim papagaio engoliu você estrangulou excursão papai gaio não não não

 

Na borda do Hades

Ônibus robô eletrostático

Árvores aeróbicas eróticas

Aves-autoestrada

Na borda-infinito

Aquém guerra nórdica

Granito-parede

Mármore-sala

Palito-menino

Espécime rara

 

Na noite tiro o certeiro lança ressonante de ossos olhos entreabertos entrevias entreviu luz abismo rouco: meia-vida – chaos – felicidade re-torna simples  de-

                                                                                                                       va-

                                                                                                                           nei-

                                                                                                                                o

 

Eu irmão dos acontecimentos apocalípticos eterno em torno balança-Tempo (bombas de efeito moral passantes) pequena vida tensa contra-braços perde-se redemoinho-vento escassos olhos introspecção leitosa viajando em velocidade-lux

 

 

 

Hemoftalmia

 

Quando o tempo acurar cada mina, e o disforme juntar-se à grama, ei-lo: é chegada hora das auroras. 
Vento, si-lenço: as notas estão congeladas.
Retornas solto e breve ao que te é de origem, ao negro do sulfato, e terás en tí as glórias - lindo estourar de ossos.
Abrirdes os moinhos da sensibilidade:
tempestade, te adentro!

 

Dobra da guitarra

BBlues

Saxofones prateados – escudos

Gatos acasalando
entre orelhas:

escutar

 

Doroti cantante

Cantare per non morire
Ella parece tão
bem
que engano

Córnea Sr. Kerouac

Jack afundo em neblina:

mim Nunca é

dia

Metais adentrando poros:

vellejo

 

 

 

 

 

 

Orides foi tela

 

 

A um passo

do pássaro

res

piro

Orides Fontela

 

 

Orides volta

pula do minhocão e

se faz entender

 

Orides, morta:

só um cadáver

fedendo sem

cheirar

 

Vai Orides

surta esquizofrênica e mente

na pós-modernidade

 

Espalha sandice a toda

ausência de

 

 

L

        U

Z

 

 

 

 

 

 

Avestruz

 

A morte não há? Por isso insisto que todo narrado e acontecido com Rosenaro, nosso tio, sua viagem, seus céus e entrecéus, é de muito antes de treze de março de mil novecentos e quarenta e nove, de antes que eu nascesse, do antes do antes ou do depois do depois, a morte não há, cavalgue-se
Wilson Bueno 

 

 

Dois

percebendo dia

ante

mão

ruge o peso

ex

is

tir

calando em

pedaços

é

brios:

sonho e razão –

monstros

 

Mais louco pro

fundo

densidade a

dentro

mais coluna água

pressão

sangra

mentos

 

Se

passassem

séculos

embaúbas

cordas ou

pescoços

 

Dois

falácia da

desenvoltura

único

ser

sus-

penso

 

Atroz

aquietar coriscos

conquanto

se quede

el furor:

soy besos

 

 

 

 

 

 

(Des)curso

 

Passo tardo, cercado de tropas,
Asdrúbal vai ao baile das rochas.

Vielimir Khlébnikov

 

Estrofes na janela

e cristais no berço

poesia deliberada

que

nem

vi

tro

la nua

 

Toca vibrátil

estratosfera de carne:

 

De perto –

grande angular –

nitidez indissoluta:

tudo

feio

 

 

Era um daqueles dias quando fogo toca o taco

O sapato descalço e os ouros no telhado

Cadafalso – espectros ziguezagueantes envoltos num espelho

E os móveis e a camélia e os pentelhos

O sofá com síndrome de tourette balançando almofadas onicofágicas – eriçados pelos nos pólos

Azul: um castor argentino – Néstor – escalava solstícios emocionais e iconoclastias quando Nelson – o carteiro do Além – brotou-se do chão como flor primaveiril, com carta que dizia:

 

 

Permeiar poros

ouvir à mulher do tranco

as corujas são e se esquecem

o menino gozou e

se

a-

canha

 

 

Cânhamos suaves e a escrita do dilacero poeta do misticismo efêmero esmero

 

 

Rapsódia in blue

Explode!

o poema

 

 

Os tecos os tiques os frogs a velha liberdade que dorme fere mas que não é libido

 

 

Estranho intruso

inquilina

Atenas

 

 

É Pound grafando hieróglifos em tampas-cremes

É Joyce casando feridas e nomeando açucenas

Carne cura: Viktor a olhar glandes em seu caleidoscópio de navalha

E toda conferência agridoce de fast foods saudáveis aplaudindo-o

O troço o Trakl o tico – mesa de restaurante sempre fora boa empreitada – papel amassado e cânones; refrígeros e árvores engasgadas

 

Linguagem no cair do verso que inflama: é Ingmar e suas novecentas mil personas – Liv is in the Liv-in-room: waiting for the noon – e o doce do cortante da caneta do menino à frente

 

 

Com licença

(Robô com pano de pó

passando só sobre

mesa:

éter:

etílico:

isopropeno)

 

 

Do outro lado da rua mesmo dó desses pelos – alma estilhaçada como um chocolate branco roído – e as esferas as esfinges as elipses: cactos estrábicos brilhando sem nomes

Amanda – Arnilda – Marcela – ou Marmóides: nones of them have um nome: signos signos signos – tiros soltos de escopeta no cão do mato – signos signos signos música estadunidense que fere fura e se instaura – signos signos sinos: sou semântico signatário do Tao, on the road of never

 

As lentes curvas no dodecafonismo do Yage cores cores como lentilhas desbotadas sussurrando excretas e segredos como o lento emanar do que não se vê

 

 

De longe 

miopia e traças

o esteta cego

é aquele

que

crê

 
 
 
[imagens©francesca woodman]
 

 

 

Paula Freitas é escritora, apaixonada pelas artes plásticas, foto-grafista: em suma, sua coisa é gravar. Na pior das hipóteses, diz-se dela graduada em jornalismo. É natural de São João da Boa Vista, interior de São Paulo, terra-mãe de Orides Fontela e Pagu. Escreveu, como trabalho de conclusão de curso, o livro-reportagem Anjos em chamas: Roberto Piva e a geração mimeógrafo. Bloga em  I-n-t-e-r-m-e-z-z-o: www.inter-meso.blogspot.com.