Nichos / PetNicho XXXII

 

 

Para Inger Christensen

 

 

ouvia cavalos

 

lavava roupas

 

ouvia cavalos suicidas

 

lavava roupas conhecidas

 

ouvia e lavava cavalos pelados de qual fé, meu Deus?

 

e morreu

ali mesmo, morreu ela.

 

ela que, meu Deus, morrera ali

como no abismo da pelagem de quem morre?

 

 

 

 

 

 

cabaças / como explica o que dança em Pina – 2

 

 

Série para Pina Bausch e para tudo o que dança em Pina

 

 

estou nessa estrada

onde tudo é escuro

fundo marinho fundo

sei meus cabelos correndo contra

sei dum caos no mais íntimo da cadência

sei do Tango em Orion

dando à luz à ordem dos trens no oriente

 

estou quase ao fim dessa estrada

onde tudo é terra e nada

Terra e nada

e nada sei do sonambulismo nas coisas

e nada sei do que dorme ao açucareiro

assim

assim sendo

sendo que sei do Fado em Orion

dando alguma luz à ordem que não minha

 

sei do Flamenco em Orion

fazendo inverno, primavera

tramando outono, inverno

testando, legando verões à nuca

essa

essa que não sabe meus cabelos correndo contra

sei

do inverno

do Samba

sei do Samba em Orion

piscando-me a luz

e nada sei do sonambulismo nos garfos

meu cabelo

estou

quase ao início dessa estrada escura

uma mão se vai à cintura

quero saber das xícaras

e dos botequins

 

 

 

 

 

 

Nichos / PetNicho – ser a mosca

 

 

as linhas

que curvas

caindo a mim feito rede

 

eu a ler das tuas mãos

 

próprio, o curso que vem ao tempo

 

um tabefe, matando ao meu recesso

 

à reta

ser a mosca:

 

 

Ser a mosca louca na corda bamba entre os ouvidos dela.

 

Ser a mosca rouca, na ponta do nariz, entre as maçãs dela, caçando metáforas de amor.

 

Ser a mosca em desespero, quase em desvantagem, lutando contra o assovio dela.

 

Ser a mosca, um ponto no horizonte para onde ela empurra o infinito.

 

Ser a mosca caminhando sobre as águas, fugindo à rubra carpa, a boca dela.

 

Ser a mosca na meia maçã, sobre a mesa, ao lado da faca, o reflexo da meia-calça dela.

 

Em ser mosca, a Terra é um exagero; ser a mosca a orbitar o cume dela.

 

Ser a mosca do lado de fora da vitrine, fazendo cerimônia antes de lamber o vidro da janela.

 

Ser a mosca à mesa, à sombra do jornal nas mãos dela; ela a enrolar meu fim zombando da notícia.

 

Ter o peso da outra mosca; a que pousa o limite, quebrando todos os ossos dela.

 

Ser a mosca sensitiva, saber e querer do tapa, antes, bem antes da sucessão delas; ela, ela; elas.

 

Pequena dama cheia de frescuras. Sórdida e misteriosa, não importa onde, viva, morta: ser a mosca.

 

Ser a mosca suicidando-se, feito Virginia, na pocinha de brandy, porém, debaixo do cálice dela.

 

Ser a mosca fazendo graça, contorcionismos, truques de mágica, saltando feito pulga, domando feras invisíveis no lugar da bailarina na caixinha-de-música dela.

 

Ser a mosca é ser nostalgia, é provocar nas gentes a vontade de estar em casa em qualquer ambiente.

 

Tão secreta, ser a mosca mergulhada nos dias santos, contados pelo sangue nos ovos dela.

 

Ser a mosca na horta de palavras, eu e minha enxada, semeando frases ao que imita a língua dela.

 

Ser a mosca triple, a mosca que separa a torrada da manteiga das manhãs dela.

 

Ser a mosca na ferida, lutando contra todas as células da estúpida defesa dela.

 

Ser a mosca chata, solidária porém. Ser a mosca-marcador num Guimarães Rosa dela.

 

Entendo a sorte num sempre reto a passar por mim, ser este ponto solto para qualquer frase, ser a mosca, feito ela.

 

Ser a mosca certa na sentença errada, fazendo sombra numa vírgula essencial.

 

Ser a mosca em alto-mar, no olho do peixe morto, tomando banho de sal no colo dela.

 

Ser a mosca na testa da estátua pela qual cada um que passa leva a mão à cabeça, como num ato solidário. Menos ela.

 

Ser a mosca morta, de ausência tão pequenininha que buchicho e então descanso.

 

 

 

 

 

 

PRÉ-Nós medicinais) décimas quartas...(

 

 

não dê nome ao pecado distante

enrosca-te dos outros, inerentes

ou faça-te assim

chama-te gula preguiçosa

chama-te luxuria rompente

chama-te mesmo A Pecadora do Sim

que a travanca há de ser sempre o sobrenome

ou que somos todos o mesmo pecado e que cada pecado é um só, este: tua boca violentada a carmim.

 

 

 

 

 

 

primeira piada com nós

 

 

Nessa Vila, numa espécie de bando duns EncéfalosGigantes deu-se que Encéfalas deram de engravidar do pólen da magnânima magnólia e passaram a dar à luz filhotes bem miúdos, tão pequeninos que cabiam em cascas de nozes, tão imensos quanto pode o mundo numa casca de noz, essa flor dura e de interior comestível.

Nessa espécie de bando, decretou-se que em relação aos miúdos Encéfalos, os Encéfalinhos, qualquer suposição que ultrapassasse o tamanho ou beleza duma noz deveria esticar-se das náuseas até caber-se na feiura que é não supor do ângulo mínimo que pode o máximo em se caber, em ser, em se surpreender do ser, enfim, desatarmos e atarmos nós aos gigantescos seres, os Encéfalinhos.

E os miudinhos brincavam tanto que dormiam exaustos e choravam e voltavam a brincar e também comiam guloseimas e sonhavam com nuvens e onças e ornamentos feitos de algodão açucarado e brigavam entre si e davam-se as mãozinhas aos nós após as brigas e viam-se sem se olharem e defendiam a liberdade de rumos e sentidos dos galhos das árvores, das letras e palavras e frases, a coisificação das aerovias vibratórias para pirilampos queimados, e e e.

Mas o horror sonhado não morava nessa coisa tanta, nesses poucos casos.

Morava esse horror ao medo de que um dia, de uma orla para outra, os imensos lindos meios deixassem de jazer nos mínimos, esses que rogam por nós e lá da Vila dos EncéfalosGigantes, digo, os Encéfalinhos que rogam tanto por nós, pequeníssimos que somos, vice-e-versa e versar-se-ia tão menor e melhor essa espécie de causa, soubéssemos ser, essa flor dura e de interior comestível.

 

 

 

 

 

 

Nós, os hábitos e Nós – oitavo costume

 

 

das lembranças brancas

estampadas

uma

onde nos vermos

frente a frente

ou duas proas em pauta

contudo

o frêmito da algazarra

nossos últimos vestidos, sítios, estampas

eu, do todo, num só gesto

teu

primeiro

tu tateando minha fome

meu couro, subsidiário teu, estampado

brilho, coisa lacrimal, ondas e golfos por vir

compreendem, por fim, nossas mães

elas, oh, elas então

este baile então

deram-nos um baile

de memórias

essa

esse baile

nossos vestidos, sítios

estampados

bordados a mães.

 

 

 

 

 

 

NÓS NA CRUZ

 

 

e vamos e haveremos de encontrar uma solução e nem entenderemos para quê

ao fundo.

JesusCristo, seus pés aos nós,

e estaremos aplicados em ir. indo,

desaparecerão os tempos que não teremos para e para e para pensar.

não teremos desse tempo azucrinante, inculto, digo, agrestino

e seremos os primeiros por sair a noite pitando nossas palhas rotineiras para gritar da morte bem-vinda, como passas? e as crianças?...

JesusCristo, tonalidades desse teu sangue emoldurado no pulso do nosso inda impulso desses temos sem curso.

e nos eximirão das mãos, os nós da culpa e nem saberemos de quê.

inda JesusCristo, Cris, teu rosto ocorrendo à estas mãos, mães, ao pão.

inda para o passeio clássico da língua ao corpo do pão

vestiremos-nos da lã que melhor desperte um apascentar do espelho do quê, nosso bom, nosso tão bão pastor.

JesusCristo, dado a vaga-lume sob as horas de rede na varanda inda as horas e vezes e salas de estar, estaremos distraídos donde justo vagará teu lume, JesusCristo, Jesus, este homem pretendido.

e teu nome

e historiar teu nome no branco das paredes de quê

inda as variações e para tanto mais e mais paredes e de igrejas e de hospitais e quando menos soubermos o quê, num belíssimo baque do sangue, dessa seiva da árvore que teu pai fundou, como uma cavala louca com seus cascos desenfreados, patas implumes, nós, novamente nós aqui, como no começo, como passas, iremos e haveremos de encontrar uma solução e nem entenderemos para quê, seremos, dum passo só, Santos, Ceias inda Jesus e Cristo, não poetas. nunca esses, Cris. poetas não.

 

 

 

 

 

 

DOSSIÊ DUM VAZAMENTO / PRIMEIRA RACHADURA

 

 

Atiravam a água à nossa janela depois rasgavam. Podíamos ver sentando uns nós a mesa, no cimo do dilúvio que se fazia, nossa casa, o vidro mareando a janela, barcas do que se fazia, afora e adentro, amor. Nem sequer havia começado a chover, atiravam a água à nossa janela. Mas se doesse só aos nós, meu amor... Apagavam a todas as velas do jantar, apagaram aos caderninhos de sonhos, o que escrevemos nas paredes aflitas, o dedo no osso de tanta parede, a parede no talo, de tanto ou de nenhum sentido. Vieram e veio a água. Atiraram-nos mãos. 'Tudo vindo cas água!' ouvimos de dentro e entendíamos aos goles. Sombreávamo-nos, sombreávamo-nos d'água. Movíamo-nos apenas aos limites da película, película que, por sua dispersa vez, não imitava ao gesto, nem ao meu, nem ao teu, nem ao da mãe d'água. Era de lavar. Sabíamos. Éramos de saber. Lavávamos, na medida em que a gente entendia como dádiva, dizias 'Tudo venvino cas água, na medida que a gente entende como presente, daí a gente constrói, enche a casa, olha o Hélio na beira catando as coisa d'água! daí a gente constrói, enche a casa, olha o Hélio na beira, coisa d'água!' e era mesmo o Hélio a colher. Subiam-se coisas d'água, pecados lavados, ideias mais leves, papel em branco, camisolas em renda e nacos de nevoeiro. Eram das mãos d'água. Hélio saltou a agarrar-se à vazante deles. Hélio, Hélio, Hélio que não sofre e tem suas manias. Mania de Hélio de ser gato e mania de não sofrer. Agora era Hélio na vazante e Hélio a chorar por nós.

 

 

 

 

 

 

ESTAMPAS PARA PIJAMA - V

 

 

Pouse o teu chapéu de palha

a palha

Não o permita chapéu quando palha

Então

caia a página dos olhos

ao encontro de mais paredes dessas:

a tua mão na minha cara a tua mão me sabe na minha cara sabe

há vaga nos passos das mão, nos dos pés

mas estas, ante esta parede na minha cara

folheada de ti a minha cara, vaga

carrancuda inda perdura o delicado, tua mão na minha cara

e de mãos entrelaçadas vagam, tua mão e minha cara

acostam-se a parede sagrada daquele sonho da amanhã em palhas nossas

quando palha

na cabeça novas sentenças quando a palha

caindo olhos

porque deve ser assim, que só assim, esse fogo se dará.

 

 

 

 

 

 

ESTAMPAS PARA PIJAMA – X

 

 

todas as manhãs, duas galinhas se encontram e fofocam sobre o mar. fofocam porque não sabem o mar e cacarejam a largura e rasuras e os babadinhos ditos ondas e rococós e molhaceiras e  rococós e cococós.

porque não o sabem, o fofocam.

todas as manhãs, para que possam todos os poucos peixes do mundo, duas galinhas inventam o mar.

 

 

 

 

 

 

ESTAMPAS PARA TOALHAS DE MESA – IX

 

 

A mesa e a última vela acesa, insistente, mas acesa,

alumiando as quinas do teu rosto.

Uma, a vela

e a mim, tantas, as quinas, todas, as direções.

Removo os pratos e talheres.

Tua, a mesma voz, porém quase-quase ao breu, aguda:

Meu bem, deu-se minha hora.

A vela susta.

Ele, não chore. Vemo-nos na quinta. Dê cá uma beijoca.

 

Volto à mesa, acho.

Estendo os braços sobre a toalha.

Sinto-te em cada migalha que toco.

 

Sou a mesma ante a mesa, parece.

Sou esse vício, um círculo teu,

espécie de enxoval em desuso.

 

 

 

 

 

 

ESTAMPAS PARA TOALHAS DE MESA – X

 

 

quase escondida

na palavra que quer do teu gesto

a tua charada

fico líquida

quase que goteira e gota

ou todas elas

as gotas

sim, goteira de todas as gotas

e quero tanto dizer

gota em gota

da calmaria

de quando isso de me esconder

repetida

na palavra da paisagem para qual aponta

teu queixo profícuo

a tua charada sobre a mesa sem razão

que não é do vazio da casa

já entre os teus dedos

tuas migalhas de gestos

sobre o papel em extinção

a altivez do teu queixo

quase escondido

na palavra de boca chamada

PROCURAÇÃO.

 

 

 

 

 

 

ESTAMPAS PARA TOALHAS DE MESA – XI

 

 

Na bruma

embebidas do nada

as divisórias e as portas

as rochas pichadas de folhas

o teto das venetas de Deus

adentro o caminho de romãzeiras

nossas antigas vagas.

Na bruma, a cidade tão longe

tremendo ao vinho

o vinho à toalha

ditando de estrelas traiçoeiras

que perdem lugar a uma romã aberta, ao cheiro aberto da romã do dia inda sob a vaga névoa da manhãzinha nas sementes de águas róseas e tão caudalosas, meu bem.

Meu bem dentro da bruma, meu bem, meu bem.

 

 

 

 

 

 

ESTAMPAS PARA TOALHAS DE MESA – XIII

 

 

sentar-se à mesa e

deitar-se a expressar

dum tudo e sem medo

distrair-se

que alguém

que um distraído, dissesse uma bobagem

 

O MUNDO PRA FORA DO QUE CREMOS

brumosa serpente matusquela

ser-te a taberna

onde nascem depenados sustos e galinhas sabichonas.

 

estar à mesa, em casa, com o marido e as crianças

/já não existem sinais de que há crédito nisso/

sentarmo-nos levemente bêbados

querermos reeditar as crianças

/rirmo-nos/

daninhas nessa Terra

/rirmo-nos tanto/

mundo onde o homem

bebe e bebe dum requinte destilado

e morre da superdosagem das plumas.

 

meu bem, nossas crianças andam

complicando a visão do abrigo dado a liberdade.

 

então, novamente e tantas outras vezes sem vozes, sentar-se à mesa

brindar ao nosso ideal de vida

sem sabe-lo comida

cumprirmos as sestas na varanda

O MUNDO PRA FORA DO QUE CREMOS

e roncarmo-nos ao desabrigo de não saber

quem irá lavar a louça, quem apagará a luz.

 

 

 

 

 

 

nós no torvelinho de fios em nós

 

 

tomo do teu corpo. Agrada-me tanto esse torvelinho de mundos, torvelinho-torvelinho, diz-me, diz-me logo que sim, que do teu foi adicionado o corpo da minha vida e que pelo tema, não há humano que chegue, que possa dos nossos planos de carne, torvelinho, torvelinho meu. Adorno da vida, adorno de vida e grande salão de ternuras e coragens. Espaço. espaço circunscrito ao tudo de coisa que surge aos saltos da vida. Obra divina, contratual. mandado do tempo e rasgaste clássico da paixão insuspeitável. do teu corpo a minha satisfação eleva o ar, farol de marfim. templo absorto. a casa. A minha casa de perfumes e laranjas aos livros. antes era só uma espécie de tempo burro, não agora. Agora é teu corpo, agora, olha-me dessa casa, olhando da falésia então das encostas, olha a tua marca nas minhas pupilas e nesse focinho, é de osso, é de osso o que eu digo é de osso, calcifiquei encontros de ossos nossos, ossos das palavras nossas, ósseas, Bonina minha, óssea flor, encontro-me em campos de cálcio pela nossa história, nossa de hoje na pelagem de ontem, nossas, minha casa, tua fuça, nossos gatos, passarinhos e regatos, arroio meu, arroio meu, agora descanse essas cascatas, durma meia era dessas nossas, durma para que eu possa te acordar aos montes e dessa causa tua, estrondo de vida, estrondo de tanta vida tua nesse jardim de abelhas, essa colmeia nossa e em plena era tão moderna e eu te amo e eu te amo e eu te amo tanto, flor, te amo tanto que vivo ao teto dessa tua cor.

 

 

 

 

 

 

nós nesse sobe e desce duns nós

 

 

Transporta-te pelo degrau

em grandes bocados menina

prepara-te para este próximo, tão próximo

quão próximo um degrau pode ser do degrau que se segue

para revelar um outro então outro até enfim aquele que indique o feito pronto

menina que sobe uma ou duas vezes ou quantas longas noites de escada

a coisa mais simples agrada-te tanto, subir a escada, o cabelo que desce o ombro, roça o perfil, tua mãozinha no corrimão, copo de leite morno com café, uma mão morna e o frio mogno do corrimão, menina, menina, bigode de coelhinho branco, transporta-te, suba e desça, menina, mas nunca te esqueças do intervalo a cada comboio, não te demores a olhar teus LíriosPés, a mínima onda no caramelo do copo, a quentura que também sobe e desce, sobe à mão, corre o braço ao teu ombro de menina onde se deitam caracóis dessa mania em comboios dessa menininha do sono e o sono dessa morna, tão mansa mania minha.

 

 

 

 

 

 

números na parede

 

 

as réguas a mim

luminárias de festa

a escada que dava ao fim

e toda a tristeza da minha mãe, do meu pai

essa tonalidade do tempo inteiro

 

há espessuras

imaginava tudo-tudo com mais altitude

estremecendo quando saísse da boca

 

 

 

 

 

 

ESTAMPAS PARA FAZER MENINO - I

 

 

Agora, para os olhos daquele menino, estou entre. Para mim, as gotículas de menino, são pequeníssimos planetoides caindo no meu cabelo. Agora estou entre. Sou pastosa e, a qualquer instante, posso ser cuia.

 

 

 

 

 

 

nós, que somamos gotas em nós, rezemos:

 

 

e eu

queimado cordel da raiva

num vago som de pingo acedente de nós

volante, canto caneluras, goteirinhas até ser fria e avalanche

quando faço a acaipirada seresta:

o que faz do tempo bom

neva na tua Terra

toma-me da distância, refresca

silenciosa e imprecisa da minha forma-palha de diálogo com o sol, sou

e dessa matéria de dicção predatória

¬fazer um convite ao vento¬

desloco da besta no arado-segredo uns estilhaços e como e não quero,

não posso te retesar, rezo

rezo pelo temporal, para a minha discussão de gotas no varal, para a impoluta dissertação dos nós nas gotas em nós, espero,

espero pelo segundo certo, certeiro,

matuto segundo que prenda à gota aquele sertão e do varal, a gota, a gota que parta ao chão aquele sertão, aquele sertão de nós.

 

 

 

 

 

 

 

 

[imagem ©kerry james marshall]

 

 

 

 

: sou carla diacov. de qualquer forma. não me importa tanto ser. e também vou e volto e babo durante. nasci (09/04/1975) e moro em São Bernardo do Campo e brinquei na praça-dos-meninos. morei a Londrina e ela a mim. fiz teatro e me desfiz. então escrevo e sei que vou, mas volto. de qualquer forma. e gosto tanto de pão de forma com amendocrem. de qualquer forma, que é como eu sou, mas volto. babando. Mais: http://carladiacov.blogspot.com.br.