Equinócio

 

Longo dia

Longa hora

Logo

O agora

Já será

Ontem

 

 

 

 

 

 

Sem comer passarinho

 

Tenho aprendido

Com os gatos

A viver as

Minhas 7

Mil vidas

Tenho apreendido gatos

Nas mil vidas dos olhos

 

E escuto no miado desconfiado

O solfejo milenar que anuncia

Não confies só porque é

Semelhante

Nem todo telhado é aliado

Nem toda ração vivifica

 

Tenho aprendido

Com os gatos

A ser

Tão egípcia quanto budista

A endeusar-se até perceber

Que só

Se pode

Mandar em si.

 

 

 

 

 

 

Esquizo-frenesi

 

É que os dias me movem até o caminho

Até o outro ponto da estrela ou da estrada

Tanto faz que o que me fez é o que me vive

Assim como todos que moram em si

E não servem as casas

Eu andaraia por ai a nômadiar

A dizer coisas sobre a gente que dizia coisas sobre bichos

E nem me lembro do rastro nem do rosto

Nem se vinha de repente algo de gente-bicho-serpente

Que pensava que o segredo segregava

Pois o rastro levou-se pelo mar

Depois de tudo já existia música naquela tarde sem escala

E a escada era colorida de azulejos amarelos

A amaralina era cantada pelo Veloso

E antes da flor e de tudo isso

Não me lembre de nada Não é nada e a gota é serena

Me deixe!

O que eu digo não

Tem gota de meMória

Não me deixe!

Se me quer toda sou

Ilógica

Parte

Do que eu vejo é métrico,

A outra maior parte

Vive do que é intenso

Porque nenhum céu é azul como o daquele verão

E nenhum mapa divide as terras dos sentidos.

 

 

 
 
 

Louvre

 

Histórias de amores fracassados

Em conversas de champagne

Em champs ou no Japão

Sempre falta linguagem

Que lhe cabe

Porque a dor é muita

E o prazer é outro

Mas não comporta

Entre os goles e as conversas

 

A História que faz a humanidade inteira.

 

 

 

 

 

 

Psique

 

Não pensava em liberdade

Por isso mandava

Quando sentia

O vento

Segurava

Guerra e paz em si mesmo.

 

Botava nome nas coisas

Como se as definisse

Chamava tudo de algo.

 

Certo emprego certo dia

Certa hora certa portaria

Num entrecruzado momento

Quando não soube de nada

O mundo virou num olhar

E transbordou sem saber.

 

Desde esse dia,

Desejou

Existir.

 

 

 

 

 

 

De um canto a outro

 

 

Canções pertencem ao tempo

Que se sente e nunca se passa

Canções são livros

Mas o choro também

Pode ser

 

Silencioso.

 

Quem canta pode

Ofuscar-se de tanto existir

Mas há por trás

Da força fosforescente

Algo que vira-se

E vive 

Só no lugar

De onde

Indo humano

Não sai mais 

Nenhum grito.

 

 

 

 

 

 

Veni, Vidi, Vici

 

Ressuscitou no terceiro dia

Do feriado de fevereiro

E viu que seria melhor

Entregar a si

Toda vida

E fênix ser.

 

 

 

 

 

 

Safo desterritorializada

 

Meus passos são largos.

Transpiro a quimera.

Danço com Deuses, homens e mitos

Não nasci dos confins da terra.

A única semelhança é a mudança.

 

Nasci com as metamorfoses

Que celebram as nuances

E estranham os uniformes.

Meu verso existe pelo átomo

E por isso declamo o universo.

 

Além de qualquer ilha

Sou a sólida cria flutuante

Trago comigo

Os delírios de Siriús

No embalo dos prazeres da quântica.

 

Sou o temporal que tem

Como mãe, a substância.

E hoje venho trazer a veemência

Que canta com a invenção Atlântica.

 

 

 

 

 

 

Inefável

 

Entre

O meu pensar e o teu

Cheiro

 

Nasce

Uma SuperNova

 

Entre

A noite e o dia

 

Pupila e pálpebras

Acariciam o ar.

 

 

[imagens ©kate macdowell]

 

 

 
Eunice Boreal nasceu em 1984. Em 1994, estuda música. A partir de 2005, alia a sua poesia às instalações, filmes e outras artes. Em 2007, inicia Partícula, blogue de poemas inéditos, antigos ou em processo. Desde então, os seus poemas também estão presentes em sites e revistas. Continua com a música. Simultaneamente, dedica-se ao seu projeto multimídia e a pesquisa da estética filosófica na UFPB.