A quem caberia decifrar a cartografia do acaso?

 

 

I

 

 

Elegância, lírios dos detalhes

se rangem vibráteis fibras que

aos pelos eriçam

 

Zunem asas, aguçam

rútilas quelíceras

 

e rara pulsa prenha

a peçonha do furor

 

 

 

II

 

 

Intrusa, em sericígena mortalha desfaz-se

qual aurora transfixada por torres de babel,

 

vítreas lâminas; arranha céus

 

 

 

 

 

 

Grumete

 

 

Náufragas

loucas

beijam-me

a boca

sedentas

de vertigem

 

E meu coração,

guardado no

cárcere

da razão,

nunca possuiu

o vício

da esperteza.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mutamorphatriz

 

 

Íntima equestre

escravagista,

de perfil dadaísta,

ao seu dispor

para o que for

 

lógica, desafeto

& corrosão

 

abstrata figura

mutamorphatriz,

 

fronteira do abismo,

espécie rara & beleza,

plágio

da Realeza,

sem salvo conduto

 

& eu,

 

agrimensor

do absoluto

 

 

 

 

 

 

Tanatologia das Relações Humanas

 

 

Para melhor compor

o puzzle

das fantasias

nostálgicas

acerca do futuro,

horas em dedicado

estudo

ao feixe solar

que incide sobre a colcha

ou ao intervalo

entre fusas e semibreves

no minueto

calha sob chuva.

 

farta

de sua máscara hipócrita,

aguarda

o habeas corpus

que a liberte do mundo real;

 

hypnos sussurra

em seus ouvidos

enquanto felinos

festejam a sua volta

 

o mundo

ao seu redor

sempre lhe pareceu

um tanto

fora de órbita.

 

 

 

 

 

 

Convite à uma dança

 

 

Eis-me aqui

a contemplar encantos,

danças ao fogo cigano

que brotam do teu

sorriso e tornam-me

lago e Narciso

em Ti.

 

Musa descarada,

mal sabes

a que cobra

destes asas.

Por quanto tempo

queres

te manter

ilesa?

 

Eu,

que já flertei medusas

sei, que há mais perigos

em teu afeto franco

a despertar minha alma

a tudo que é sensível,

que tanto quanto

possa descrever,

é apenas

tocar pássaros

de seda,

comer com

os olhos

banquetes

sobre a mesa.

 

Saiba,

o desejo é

armadilha estranha;

nos conduz

à jardins magníficos,

quais girassóis imprecisos

que tangem-se,

momentâneos

e ruborizam-se

 

na fronte do sol.

 

 

 

 

 

 

[fotos ©ricardo pozzo]

 

 

 

Ricardo Pozzo (Buenos Aires, 1971). Poeta, fotógrafo e abstêmio. Vive em Curitiba/PR. Produtor do projeto VoxUrbe no Wonka Bar toda terça-feira. Membro do grupo literário Pó&Teias, idealizado pela prof. e escritora Glória Kirinus. Na área fotográfica, dedica-se ao projeto UrbeFágica, que registra aspectos urbanos e sociais da cidade de Curitiba.

 

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