AGOSTO

 

de cinza

de chumbo

se dissipa o gosto

(névoa frágil)

 

 

 

 

 

 

JANEIRO

 

Águas da manhã

que escorrem

termômetros frios

desmedidos

relógios de Sol

que adormecem.

 

 

 

 

 

 

DUAS VIAS

 

na via  —  vida

de mão dupla:

duas placas de contramão.

 

 

 

 

 

 

ASTRACÃ

 

 I

 

É estrangeiro

o olhar

aqui ou em

qualquer lugar

 

E se perde sem

bússolas

por ruas estreitas

disformes

desprendidas teias

 

Naquele beco,

naquela conversão

à beira do nada

desvio

a decomposição

da palavra

 

E o corpo

— estrangeiro na essên-

cia —

traça suas tortas linhas

assimétricas

antirreflexo

estruturas desiguais.

 

 

II

 

É estrangeiro

o mover-se

a passos largos

filme barroco

experimental

agonia

semiaparente

desprezo

ou poesia.

 

 

 

 

 

 

FARPAS

 

I

uivo de sangue

a matilha estanca

a lua corada.

 

 

II

 

Entre cortes e recortes

no farpado arame

dos dias

 

Costuravas noites

com palavras despidas.

 

 

 

 

 

 

CICLO

 

Terça-feira

O ciclo se repete

Ajeito as lentes dos óculos

E o reflexo da manhã

se despede.

 

 

 

 

 

 

EXÍLIO

 

O lirismo está exilado no porão.

 

 

 

 

 

 

SEGUNDA-FEIRA

 

O barulho do

jasmineiro

aponta um

cifrão

$

 

 

 

 

 

 

PINTURA

 

Com aguarrás se

dissolve

o poema

qual tinta escura

Numa pincelada só

e nada muda.

 

 

 

 

[imagens ©anita groener]

 

 
 

Leandro Rodrigues nasceu em 06/01/1976, em Osasco/SP, onde vive com a esposa Lúcia A. Lins e o filho João Gabriel. Formado em Letras, é pós-graduado em Literatura Contemporânea, e professor de Literatura Brasileira. Autor do livro digital: a t o n a l  ou das distâncias da aprendizagem cinza, que pode ser lido aqui: nauseaconcreta.blogspot.com.br. Tem poemas publicados em várias revistas literárias.