Au revoir
ela contou que gostava de viajar e, por isso, conseguiu conquistar algum tempo. depois, ela contou que viajava e que, sair daqui era sempre muito melhor. mas, nunca contou qual era esse seu "aqui". ela disse que preferia Epicuro à Aristóteles, pois acreditava que a felicidade era muito ligada ao que celebrávamos nos atos fraternos. ela viajou e depois disse que tínhamos uma amizade. mas ela nunca lia a Ética de Aristóteles. e, talvez agora, seja a primeira vez que ela saiba: "não existe vida feliz sem prudência, beleza e justiça", como disse Epicuro. não sei o porquê. mas sinto que, apenas porque ela nunca esteve aqui, só pensou nos ganhos futuros. agora, está tudo claro. ontem choveu muito, hoje estiou. talvez logo em breve, possa nascer outro verão.
não adianta ir ao mercado
não adianta ir ao mercado
hoje não teremos pão
tome logo o seu café e leve
o jornal, o casaco e a chave
do carro
leve logo tudo
isso
que não tem mais
volta
ontem foi 21
22 é a data de hoje
amanhã será 23
e isso
basta.
o Cinema não existe
mais
naquele prédio Antigo
eles Agora
Só cultuam
Deus
mas ainda vendem
o ingresso
pra quem quiser
entrar
No
Paraíso
Afinidades
Eu prefiro os libertários.
Os que reinventam a vida.
Os que superam a si mesmo.
Os que escolhem a ironia
no lugar da agressão.
Eu prefiro aqueles que preferem o amor.
Aqueles que se permitem a surpresa
perante os seus próprios desejos,
mas não se reprimem.
Aqueles que rompem com a hipocrisia
e desintegram os seus próprios pré-conceitos.
Eu prefiro aqueles que valorizam a diversidade,
que respeitam todas as cores da humanidade,
que aprendem com as mitologias,
que acreditam no que querem,
mas não querem mandar no mundo.
Eu prefiro as potências criativas.
A dança sagrada do cosmo.
A vida que prefere a vida.
Espiral
Da paisagem nada sobra tudo ecoa
Mas dentro disso
Algo em suspensão amanhece
E entre a chama
Do nosso olhar
ignorante
Velhos Deuses se renovam.
junho, 2015
Eunice Boreal é poeta. Nasce em 1984, às 06h45 do dia 9/3. Em 93, toca em uma flauta doce e, a partir de 1995, começa a frequentar alguns cursos teóricos de música. No ano 2000, inicia-se em algumas artes e até 2006, estuda e trabalha com música, palestra e performance. Em 2005, alia a sua poética às instalações, filmes e outras artes. Em 2007 inicia as publicações do seu blogue Partícula, de poesia. Em seguida, publica em diversas revistas literárias e dedica-se ao estudo da estética filosófica. Em 2014, faz parte da exposição coletiva Vídeopoéticas no Centro Cultural São Paulo e trabalha com a Filosofia. Hoje, além das pesquisas filosóficas e dos estudos na música, também estuda grego clássico e realiza os próprios projetos autorais.
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