eye of the tiger
com Edson Valente, clinchando
"Float like a butterfly, sting like a bee".
(Muhammad Ali)
sobre abelhas e borboletas
jab direto
jab direto
nada
jab jab sai
suave pra esquerda
fatal
o soco e o outro
vez ou outra abdicar da esquiva
ir de encontro
só
quebra o que é dente
só
jorra o que é sangue
só
dói o que é corpo
estamira por ela mesma
um
quem é deus
que é deus
que deus
eu sou
deus ninguém é
deus
no meio dessa confusão toda
com jesus
não tenho nada
contra o homem
que nasceu
dois
você viu o toró ontem
você sabe o que que é um toró
era eu discutindo
com meu pai
astral
três
olhar o coqueiro
e saber
isso é que é o real
isso é que é o poder
quatro
estamira tá longe estamira
tá em todo lugar
eu podia ser filha
ser irmã
até esposar espaço
podia ser verso humanitário
mas não
na mão de homem
aterro sanitário
a soprano invisível
com Djanira, mãe de mãe
"Duas fortes mulheres
Na sua dura hora".
(Da morte. Odes mínimas – Hilda Hilst)
e disse
são seus ouvidos
como quem diz
são seus olhos
fechando-os
como bemol invade as posses
de sustenido
e dissipa e permanece
stay
"It's not just something you take
it's given"
(Unapologetic, Rihanna, 2012)
sobre margens desbordadas
mergulho num sono
lento navegado
lá
falar contra fronteiras
dizer sua boca
pela matéria que é a minha
deixar escorrer seu nome
dá na mesma
não me assustam mais naufrágios
não quero mais vestir coletes
à prova de últimos abraços
o sonho
fica
dito assim
será que é algo
pedido ou confessado
ou na mesma medida
the thrill is here
with Riley Ben, riding with the King
sobre o fio da história
encontro
da tua mão
na minha
em carne ou imagem
digitação duma
penta blues com dedos
duma mão que nem
é minha
história extensiva
em carne ou imagem
facada
cravada numa possibilidade
e num feitiço
qualquer
duma existência pouca
e fria
miguel ângelo
deitar fora da pedra
tudo o que não é necessário
esculpir por subtração
domar
não
mutilar o mármore
desbrutá-lo
cuspir um construto
corpo portátil
e poder não carregá-lo
a mão que perfura verso
com Camila Braga
memória encravada
palpável
sente na pele em tempo
real o perecer da carne
não há dor
que tinta e derme não enfrentem
a mão que rasga e o couro ciente
implacáveis
agulha e vinil
e umas canções deslaceradas
dizem
vai pro corpo que te carregue
tatuagem
strange fruit revisitada
em uma capa da Revista Mortal
no pé de feira
só frutas pisoteadas
refugadas
no meio fio refugiadas
meio
fio de calçada
meio
fio de vida
há fio
apesar
que não aguenta
esses muitos frutos agarrados
e não rebenta
sustenta estranhamente
frutas outras pendendo
enforcadas
numa abolição inacabada
que é que vão pensar se re pousarem
aqui os afronautas
cenobitas
"The box. You opened it, we came.
[...] Explorers in the further regions of experience.
Demons to some, angels to others".
(Pinhead/Captain Elliot Spencer)
ai minha nossa irmã
você viu o que fala naquele comercial
não irmã qual
eita irmã
aquele da churrascaria
sei lá
do restaurante
um aí que passava na band
vi não irmã que que é
fala assim oh
venha saborear os prazeres da carne
crendeuspai
eh
e a gente aqui com fome
e medo
orgasmatron
"Your bones will build my palaces
Your eyes will stud my crown
For I am Mars the god of war
And I will cut you down".
(Motörhead)
os templos dos pais
as cinzas dos deuses
edificações mortais
na guerra tudo vale
e vai por
do pó ao pó
terra fica
as capacidades bélicas nos diferenciam
das outras feras
blues de quando a vó e o cão quase
"And I guess that's why they call it
the blues".
("Too Low For Zero", Elton John, 1983)
sobre e entre sombras
nunca
muito dado ao
eu choro
quando muito um quase pranto
e sempre a desculpa
e sempre o
nada não é só um incômodo
naquele cômodo lá no fundo
luz desacesa
só dela via o rosto
canção que chegava sem
terem composto
pauta
que um no outro desvendava
voz
dela vinha como soprassem
uma gaita de fôlego
consolante no tom sobreposto
vai desaba sem culpa
entreolhavam
no escuro dedilhavam
mão
dada ou no ombro
tremia aquela de escorrer
de desenhar lágrimas dos outros
encontrava enfim
resquício de encanto
morria
por fim o cisco no olho
metonímia
"Ballerina, you must've seen her".
(Tiny Dancer – Elton John)
tem uma pequena dançarina
sob os pés
de quem a pista
de dança vai maior
que chão da terra
ballerina
dezembro, 2015
Ricardo Escudeiro (Santo André/SP, 1984). É autor do livro de poemas tempo espaço re tratos (Editora Patuá, 2014). Graduado em Letras na USP. Possui publicações em mídias digitais e impressas: site da Revista CULT, Mallarmargens — Revista de Poesia e Arte Contemporânea, Revista Nefelibata, Revista Gente de Palavra, Revista SAMIZDAT, 7faces caderno-revista de poesia, Revista Soletras (Moçambique). Participou do Espaço Literatura da 13ª Feira Cultural Preta. Publica poemas mensalmente na Revista Soletras, de Moçambique. Participa da antologia 29 de abril: o verso da violência (Patuá, 2015). Foi poeta convidado no Espaço Literatura da 13ª Feira Cultural Preta, em 2014.
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