Só depois que ele se foi, no último 16 de abril, ficamos sabendo seu nome verdadeiro: José Waldery Mangieri Pires ou José Pires, como ele preferia, se fosse necessário. Para nós, será sempre o Pipol (como people). Na biografia que enviou para a Germina, quando alguns dos seus poemas foram reunidos na revista, foi parcimonioso: poeta, diretor de TV, documentarista, desenvolvedor web e editor fundador do Portal Cronópios (que continua no ar, conduzido pelas mãos solidárias de Rosangela Stefanelli). Não contou que havia publicado os livros de poesia Pipoca e Espantalho. Não disse onde nasceu nem quando. Mas ficou extremamente feliz no dia em que a edição foi ao ar: era 22 de dezembro, seu aniversário, e aquele seria o melhor presente que ele poderia ganhar. Assim ele comemorou por e-mail, agradecendo-me pela publicação. Para meu espanto, com uma alegria infantil, que eu não imaginava sobressair tanto em uma pessoa aparentemente tão objetiva e "direta ao ponto", cujo portal, o Cronópios, é uma das melhores referências literárias do país. Foi solidário ao ser convidado a participar com a Germina de algumas homenagens feitas a escritores que partiram, como Wilson Bueno e Rodrigo de Souza Leão. Hoje, recebe a nossa, nesta entrevista feita pelo poeta Jovino Machado e ilustrada com a bela imagem de Guto Lacaz (um poema visual). Com a nossa saudade e a certeza de que você atravessou a nuvem e descansa em paz e poesia, Pipol. [Silvana Guimarães]
Jovino Machado - Quem é Pipol?
Pipol - Depois que descobri a palavra "iconoclasta" e seu significado, descobri também quem sou eu ou o que eu sou. Sou um iconoclasta desde criancinha.
JM - O que é a vida?
Pipol - É um motor desconhecido e que já movimentou dinossauros sobre a terra.
JM - O que é o amor?
Pipol - Na verdade, essa emoção não se chama amor. Ela é uma estratégia da natureza para gerar filhotinhos. Nada romântico dizer isso assim, eu sei. É até feio falar desse jeito e pensar assim.
JM - O que é poesia?
Pipol - Poesia é inteligência e emoção juntos numa sensação única. Só podemos fazer poemas para tentar gerar poesia nas nossas cabeças. É muito errado falar "fiz uma poesia". O certo é dizer "fiz um poema". E poemas são "brinquedos de palavras", como ensinou Manoel de Barros. Ele está certíssimo: brinquedos de palavras geram poesia na nossa cabeça. E poesia na cabeça de um ser é o topo da evolução.
JM - O que é o Cronópios?
Pipol - O Cronópios é uma Estação Hiperespacial.
JM - Dez coisas que você gostaria de fazer antes de morrer?
Pipol - Junto as dez coisas numa só: gostaria de me apaixonar novamente... mesmo sabendo que o amor não se chama amor.
JM - Como gostaria de morrer?
Pipol - Nunca fui piloto, mas adoraria ter tirado o brevê, um desejo desde a infância. Gostaria de morrer pilotando um avião. Atravessaria uma nuvem e pronto.
junho, 2015
Pipol. Poeta, diretor de TV, documentarista, desenvolvedor web e editor-fundador do Portal Cronópios [www.cronopios.com.br].
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Jovino Machado nasceu em Formiga/MG, foi criado em Montes Claros e vive em Belo Horizonte. Publicou os livros Fratura exposta (2005) e Cantigas de amor & maldizer (2013), entre outros.
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