poema aberto para reforma
Em sua infância, os meninos ouviam:
"os incomodados que se mudem"
E partiu Venâncio na primeira hora,
Luis refugiou-se em Santana do Livramento enquanto
Jair foi à noite para Juiz de Fora.
As meninas falavam em ficar e crescer
Árvore que segue
retorcendo galhos depois da poda
As incomodadas é que mudam
estrela do norte
antes de tua voz,
eu me apressava em desenhar em linha reta
assim como costumam ser o metro,
a rua e os carros de corrida
depois de ouvi-la,
venho aprendendo a não medir distâncias,
a dobrar fronteiras e a me demorar
o traço começou a tomar formas elípticas
assim como a lesma
assim como o abraço
eva e rebeca
rasgaremos as vestes
e nos cobriremos de cinzas
pelo sangue
sobre o chão da tribo do norte
pelo escárnio na boca das outras tribos
mas sobretudo pelo meio
onde está o nó
onde a corda arrebenta
onde o ventre é um corte em vinagre
e os olhos, um aguaceiro
fotografia de alceu olhando o chão
E não me apuro ao saber que as garras do felino prevalecem sobre as veias do antílope
Há mesmo um alento na lei do mais forte quando
vejo as asas de um coração apontadas para alguns vermezinhos,
para os insetos purulentos
e o silêncio da morte
fogo-apagou
corpo, balão de ar,
que a morte
estoura
sopro, ave sem rosto,
que aos céus
retorna
composição íntima sobre o silêncio
a voz é uma espécie de vento
que sai do peito coberto de panos:
timbre, letra, fonemas…
quando ele está nu
é beijo
theodoro
a teus olhos
sou como vaca, uma vaga
uma vala qualquer onde despejas
o detrito de tua alma
aos meus olhos,
tu és mais um cara
de quem recebo ira
mas não tenho medo
tu não irás me pegar à cega
a cor dos meus olhos é mel
menina mulher operária
o zangão é quem se ferra
a história invisível
atrás de um portão que nunca se fechou, cravejado de ouro e brasões da tribo de Judá, há uma biblioteca em cujo acervo encontra-se um livro onde está plantada a árvore de um menino nascido em um rincão do extremo oriente. Em suas páginas foi escrito que naqueles dias aconteceu de Eva ter gerado Sarah que gerou Miriã que gerou Ruth que gerou Tábita que gerou Isabel que gerou Ester que gerou Laila que gerou Raabe e assim ocorreu por 40 gerações até Ana que gerou Maria, mãe do menino que iria viver cercado por Madalena, Suzana, Marta, Joana, Deborah... e por mim que ainda hoje, séculos depois, por ser mulher, tem o nome desconhecido.
dreyer
desenganou prognósticos
atravessou desertos
amansou leões
resgatou náufragos
engravidou a estéril
calou oceanos e sua revolta
ressuscitou palavras enterrando mortes
— grão germinado em seu nome.
o que faria deus,
sem a fé dos homens?
cálcio
em seu olhar
tanto escorre uma luz castanha,
quanto lâminas que inauguram o caroço
amigo também diz respeito ao que o corte nos ensina
vínculos se aprofundam entre a polpa e o bagaço
por isso a boca não é só língua
fragmento de carta a kar-wai
Chan
Chow
choveu hoje em Hong Kong
sobre
as cores do vermelho que tuas mãos acenderam
e ainda são brasa
Segredam pelas frestas que os olhos abriram e ainda são passagem
amor
as sangrando na fruteira pelo
desejo amor
daçado amor
tecido frente
a mor
talha verde sobre a pele leito sa
quando a nudez vestia a alma
quando o outro era a mor ada
de cada um
seria amor
pedaço de uma outra palavra?
ex-votos
A existência entregou uns avexamentos ao coração de Avelina
que se pôs submersa
em raios de brevidades e ânsias
Avelina não sabia repetir a reza dos livros
nem cantar salmos ou hinos
mas chorou todo missal
O Senhor dos exércitos tomou cada pinguinho de lágrima
como uma conta do rosário
— Amém
No quintal de Avelina há um Rio de Contas
e, na capela, um navio sem margem
como se atravessasse um oceano pacífico
dezembro, 2016
Ehre. Quando nasceu, um anjo ainda menino, lhe disse: vai escrever. Ela o respondeu: posso não, guri. Meu lápis é gago. Ele a retrucou: melhora quando chove. Hoje, anda aqui e ali tentando pegar o peixe vivo com as mãos. Segundo Verunschk, é poeta cronista do passado não vivido.
Mais Ehre na Germina
>Poemas