Walmir Faria - Embora você tenha iniciado oficialmente a sua carreira como escritora há cerca de dois anos, as suas obras vêm chamando a atenção do público, da crítica e da mídia não só do Paraná, mas de outros estados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e, claro, Minas Gerais, que foi o palco que inspirou a história de seu último livro, Mariana. Como você avalia a rapidez com que suas obras vêm ganhando destaque nos últimos tempos?
Ana Rapha - Fico muito feliz com a repercussão que a minha obra vem ganhando. Vejo que as pessoas estão gostando das histórias, o que acaba ajudando a divulgá-las. Também me empenho em comparecer aos eventos para os quais sou chamada, bem como ir às escolas, visto que meu público-alvo são as crianças e os adolescentes. Acho que esse conjunto acaba influenciando na divulgação dos meus livros e levando a esse destaque que eles vêm ganhando.
WF - Preciso admitir que seus romances A lua que eu te dei e Mariana me inquietam. Não vejo como posicionar essas obras simplesmente como arte autoral ou arte comercial. Desse modo, seus livros nos revelam certas preocupações estéticas, culturais e temáticas, embora permaneça um certo furor na recepção da sua obra que a leva para uma esfera mais comercial, porém sem recair na dita "literatura para consumo". Como você avalia isso?
AR - Fico feliz em conseguir conciliar essas duas características, pois quero fazer uma obra de qualidade, mas também quero que ela ganhe alcance de público, o que costuma ocorrer com as obras comerciais. Acho que as pessoas podem, sim, consumir produtos culturais de qualidade, temos que nos engajar para isso.
WF - Como você vê o papel da era digital para a literatura contemporânea?
AR - Não acredito que seja o fim do livro, mas acredito que amplie o papel da Literatura. As mídias sociais estão trazendo novos recursos, hoje temos booktrailers, uma infinidade de resenhas, blogues, todos voltados à Literatura. Assim, podemos notar que a tecnologia pode ajudar a difundir a Literatura.
WF - Você vê diferenças entre a sua geração, que viveu a infância e a adolescência nos anos 1980/1990, e a jovem geração atual?
AR - Muitas diferenças. Na minha época, frequentávamos às bibliotecas, tínhamos mais contato com a natureza, mais liberdade. Hoje estão todos conectados desde muito cedo. Se, por um lado, eles têm acesso maior à informação, por outro, deixam de vivenciar o real, a troca com o outro, o olhar, as sensações. É algo que me preocupa, pois vejo que se há um limite, um tempo predeterminado para o contato com a tecnologia, tudo bem, mas se há excesso, pode prejudicar o desenvolvimento das crianças e dos adolescentes.
WF - Recentemente, você publicou crônicas, contos e também romances. Você já se aventurou pelas veredas da poesia? Pensa em publicar algo nesse domínio?
AR - Não. Quando adolescente, me atrevia a escrever uns versos, mas, hoje, por enquanto, ainda não. Aprecio muito a poesia, mas me sinto à vontade na prosa, ainda que muitas vezes poética.
WF - Que escritores nacionais e/ou estrangeiros mais lhe inspiram?
AR - Há muitos, mas vou citar alguns indispensáveis. Sou fã de Guimarães Rosa e do seu jeito peculiar de utilizar a linguagem. Amo o tom de Machado de Assis. Admiro as reflexões de Clarice Lispector. Viajo nas aventuras de Monteiro Lobato. Deleito-me com os poemas de Vinícius de Moraes.
WF - Que aspecto você julga como o mais relevante na disseminação de eventos literários que marcam a vida cultural do Brasil nesse momento?
AR - É preciso maior divulgação desses eventos, muitas vezes, os próprios autores desconhecem alguns desses eventos. Há várias atividades literárias de qualidade acontecendo pelo país afora, mas falta sabermos quando e onde elas acontecem.
WF - Em seu livro mais recente, Mariana, é notável a sintonia entre texto e ilustração. Sempre que percebo essa afinidade em uma obra literária, inevitavelmente relembro a parceria mediada pela editora José Olympio, entre João Guimarães Rosa e o ilustrador Poty Lazzarotto, nos anos 1960. Sabe-se que, nessa época, Rosa e Poty ficavam horas a fio no telefone conversando sobre detalhes das ilustrações, afinando as dimensões verbal, imagética e gráfica de obras como Sagarana e Grande Sertão: Veredas. Como se deu a parceria entre você e a ilustradora de Mariana, Karen Basso?
AR - Não conhecia a Karen antes de Mariana, aliás, durante o processo só nos falamos via e-mail. Mas ela soube captar muito bem a essência da obra, com cuidado e delicadeza que revelam a atmosfera da história. Vim a conhecê-la pessoalmente na Feira do Livro de Caxias do Sul, na qual ela foi uma das homenageadas. Amei a parceria com ela, a sensibilidade dela ao traduzir para as imagens as nuances da narrativa. Espero futuramente trabalhar com ela novamente em outros projetos.
WF - Você deseja publicar outras obras em breve? Pode nos falar um pouco sobre seus projetos para 2017?
AR - Sim, tenho outras obras a caminho. Quero, em 2017, seguir divulgando Mariana e A Lua que eu te dei pelo país, participar de mais eventos literários e, também, lançar mais um título.
WF - Que tal concluirmos essa entrevista com uma série de perguntas instantâneas?
Um livro inesquecível: Vidas secas
Um título: O tempo e o vento
Uma frase: "O sertão está em toda parte" [Guimarães Rosa]
Que livro já escrito você gostaria de ser a autora? A extraordinária jornada de Edward Tulane
Um livro indispensável para as crianças: A bolsa amarela
Um personagem que merecia vida: Capitu
Uma palavra que defina a literatura: Sonho
WF - Muito obrigado por essas palavras. Tomara que inspire os novos e os futuros leitores a conhecerem mais de perto as suas obras.
dezembro, 2016
Ana Rapha Nunes é carioca, mas radicada em Curitiba/PR. Autora dos livros infantojuvenis Mariana (Editora Inverso), que aborda a tragédia ocorrida na cidade mineira de Mariana sob o ponto de vista de uma menina de 12 anos, e A Lua que eu te dei (Editora Appris), que conta a história de uma grande amizade de infância, em que a Lua pode ser uma prova de amor. Além de escritora, é professora de Língua Portuguesa, atuando no Ensino Fundamental e na Graduação.
Walmir Faria (Curitiba/PR) é poeta, pesquisador e professor. Mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná. Em suas aventuras, abordou o relegado passado do contista Dalton Trevisan e a trajetória de vida do ilustrador Poty Lazzarotto. Como poeta, figurou na antologia Amor ontem, hoje e sempre (poesia, Litteris, 2011) que reuniu autores do Brasil, Portugal, Estados Unidos, Espanha. Atualmente, trabalha na obra poética Castelos de Areia. Sua estética alia elementos de antigas correntes com a liberdade inerente à poesia contemporânea.