A literatura é o campo dos extremos da linguagem. Para cada escritor comunicar os paradoxos e limites da própria linguagem, é preciso aceitar a solidão da obra, como afirmava Maurice Blanchot, e os riscos da interminável busca pelas veredas da criação. Para ultrapassar as barreiras desse silêncio precedido de toda escrita — que é solitária —, nada melhor do que travar diálogo e afiar a escuta em direção ao outro. Assim surgiu a ideia desta conversa entre mim e o escritor Flávio Ricardo Vassoler, doutor em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Nossa conversa não encerra certezas e expande o sentido de cada questão apresentada, como se estivéssemos caminhando pelas veredas de um rizoma. Munido pela dialética, Flávio Ricardo nos lança à aventura do pensamento contraditório e para além do bem e do mal como prelúdio a uma escrita do futuro. [Fernanda Fatureto]

 

 

 

 

 

Fernanda Fatureto - Flávio, para iniciar a nossa conversa, gostaria de lhe perguntar sobre seu novo livro que vem sendo escrito desde meados de 2014, a obra Exílio em Atlântida. Como será construída a estrutura narrativa e quais temáticas serão abordadas?

 

Flávio Ricardo Vassoler - A maioria dos textos que comporão Exílio em Atlântida foi escrita entre setembro de 2014 e agosto de 2015, período em que vivi em Chicago para concluir minha tese de doutorado sobre o bom e velho Fiódor Dostoiévski. Devo terminar a revisão dos escritos — sem dúvida, a parte mais extenuante e interminável do ofício de um escritor — em meados do primeiro semestre de 2017. [Borges, por sinal, costumava dizer que apenas publicava seus textos para se livrar das infinitas revisões, já que, a cada vez que nos deparamos com um texto de nossa autoria, parece haver algo a ser transformado/cortado/acrescentado. Assim, seria possível dizer que, quando um texto resiste de forma (mais ou menos) intacta às sucessivas (re)leituras de seu autor, ele como que está pronto a transformar o escritor em mais um de seus leitores.]

 

Exílio em Atlântida será minha terceira obra literária após as publicações de O Evangelho segundo Talião, em 2013, e Tiro de Misericórdia, em 20141. Pensando dialeticamente, me parece que Exílio em Atlântida tenderá a compor uma síntese em relação a Caim e a Abel, seus dois irmãos mais velhos.

 

O Evangelho segundo Talião é um livro mais propriamente ficcional, enquanto Tiro de Misericórdia apresenta aforismos e ensaios. Entretanto, as narrativas taliônicas têm vocação ensaística e estão repletas de aforismos (como uma planície sob cuja calmaria se esgueira um campo minado), assim como os aforismos e ensaios de Tiro de Misericórdia, tanto para os leitores avisados quanto para os desavisados, bem podem despontar como narrativas.

Nesse sentido, Exílio em Atlântida como que aprofundará esse sfumato — essa neblina de (des)caracterização poética — que enreda narrativas e ensaios. Haverá escritos sobre histórias (e/ou estórias) de Chicago e Moscou, cidade onde vivi durante o mestrado, e São Paulo, e Havana, e uma série de outras paragens por onde este escritor nômade já passou. E quando me refiro a este escritor — isto é, a mim —, não estou falando do Flávio Ricardo Vassoler empírico, mas de um eu que se vê e se revê de forma bastante afetada pelo contato com a alteridade em suas mais diversas manifestações: seja a memória dos entes queridos que já cruzaram a terceira margem do Hades; sejam obras, autores e temas que me obsedam, tais como a banalidade do mal, a reprodução deste mesmo mal em face da (in)existência de um Deus (supostamente) bom, o ímpeto pela bondade e pela reconciliação, o perdão acossado pela vingança, a vingança cicatrizada pelo perdão, as afinidades ontológicas entre o ético e o estético, o réquiem e a utopia, Mike Mefistófeles Tyson, as várias faces do exílio, as metamorfoses de Atlântida — em suma, o exílio em Atlântida.

 

Assim, esse eu, sempre envolto pelos heterônimos de lembranças e experiências, diálogos e (auto/alter)análises, autores e obras, aporias e esperanças, pessoas e personagens, mais parece orbitar ao redor do cosmos de Atlântida, como se, de fato, a afetação que o eu sofre ao longo do exílio o fosse transformando a ponto de corroborar uma colocação de Montaigne — seria Montaigne um ensaísta narrativo e/ou um narrador ensaístico? —, para quem existe menos diferença entre mim e um outro que entre mim e eu mesmo; eu agora e eu depois somos, a bem dizer, dois. Em Exílio em Atlântida, então, o eu talvez seja um eu-outro, nosotros, nós outros. Nós que ainda não conseguimos desatar.

 

 

FF - Parte de seus textos parece girar em torno da culpa, da redenção, do perdão. Como você entrelaça esses temas a partir da obra de Dostoiévski? E como lançá-los para além da obra do escritor russo e articulá-los na sua própria escrita e busca como escritor?

 

FRV - Tua pergunta é bem propícia, Fernanda, para que eu prenuncie a escrita de um texto cuja ideia surgiu a partir de uma conversa com o Welington Andrade, que é crítico de teatro da revista Cult.

 

Welington e eu acompanhamos as ótimas adaptações do ator e diretor Celso Frateschi de três obras de Dostoiévski para o teatro — o conto "O sonho de um homem ridículo" (1877), "O grande inquisidor", capítulo fulcral do romance Os irmãos Karamázov (1879-80), e "O subsolo", primeira parte da obra Memórias do subsolo (1864). Assim, em meio à coluna "Cena Contemporânea", no site da revista Cult, Welington analisou as adaptações, e eu escrevi sobre as obras dostoievskianas2.

 

Enquanto percorríamos a via crucis dostoievskiana, Welington e eu tivemos várias conversas sobre o escritor russo. Em uma delas, contei para o Welington que Dostoiévski poderia ser tido, de fato, como um marco para a minha trajetória. Veja só, Fernanda: desde que, em dezembro de 2001, uma ex-namorada me deu Crime e castigo de presente, venho (re)lendo as obras do escritor com muito ímpeto. Meus estudos sobre Dostoiévski, como disse anteriormente, já me fizeram viver tanto em Moscou, cidade natal do escritor, quanto em Chicago — Dostoiévski, assim, me fez cruzar as fronteiras oriental e ocidental da Guerra Fria que hoje parece rediviva.

 

Mas quando o Welington ficou sabendo que eu faço aniversário no mesmo dia de Dostoiévski; que eu nasci 100 anos depois de sua morte; e que meu pai, filho de poloneses, era muito parecido com o jovem Dostoiévski — a família de Dostoiévski, por sinal, também tem ascendência polonesa —, Welington como que me intimou literariamente para que eu escrevesse uma história sobre esse diálogo com o escritor russo ao longo da minha trajetória — texto que vou escrever, provavelmente, no mês vindouro de janeiro de 2017.

 

Prenunciada a vinda desse diálogo, Fernanda, eu responderia aqui que há uma concepção criativa em Dostoiévski, que me parece muito interessante para pensarmos o devir de suas muitas questões que transitavam por vários campos do real — o sagrado e o mundano, a fé e o ateísmo, a revolução e a reação, o utilitarismo e a abnegação. Refiro-me ao procedimento que o crítico literário norte-americano Joseph Frank (1919-2013), grande estudioso da obra de Dostoiévski, chamou de escatologia criativa: o russo não concebia as ações de suas personagens apenas como a expressão parcial das ideias que as obsedavam — lembremos que a geração convulsionada de Dostoiévski foi a geração imediatamente anterior à Revolução Russa, que ocorreria em 1917. As personagens dostoievskianas parecem sempre vivenciar o limite febril de determinada ideia, elas levam às últimas consequências os desdobramentos lógicos de suas ideias e os transformam em ações frequentemente trágicas e traumáticas. Assim, a morte histórica de Deus, a partir do espectro de que se Deus não existe, tudo é permitido, leva as personagens não só a discussões encarniçadas, mas também aos mais diversos tipos de ramificações lógico-práticas: Raskólnikov (Crime e castigo, 1866) sentencia que, se Deus não existe e tudo é permitido, é preciso matar o Não matarás — a personagem comete, assim, um duplo homicídio; Kiríllov (Os demônios, 1872) sentencia que, se Deus não existe e tudo é permitido, o eu se torna Deus, o eu deve tomar o lugar do criador e, logo, o eu tem o poder para fundar uma nova religião, a religião do nada, a religião do deus Nihil, e pode se oferecer em holocausto, o eu pode se crucificar, para fundar um novo tempo histórico — Kiríllov se suicida; Ivan Karamázov (Os irmãos Karamázov) sentencia que, se Deus não existe e tudo é permitido (esse aforismo, aliás, é originalmente atribuído a Ivan), é preciso matar não apenas o Pai, mas também seu pai — Ivan é o mentor do parricídio cometido por Smierdiakov, seu irmão bastardo.

 

Sabendo quais foram os desdobramentos lógico-práticos das rupturas dostoievskianas, parece-me bem possível e instigante arremessar Dostoiévski contra si mesmo por meio de sua própria escatologia criativa. Assim, e se Crime e castigo pudesse se transformar, em nossa época, em Crime sem castigo? (Eis o título, por sinal, de um texto de minha autoria que certamente fará parte de Exílio em Atlântida3.) Assim, se Deus não existe e tudo é permitido, poderíamos perguntar se, para que Deus ressuscitasse, não seria necessário que a espiritualidade acompanhasse balizas mais racionais — eis um diálogo possível, por exemplo, entre Dostoiévski e Allan Kardec (1804-1869), o codificador do espiritismo. Assim, e se Crime e castigo, em uma nova metamorfose, nos levasse às afinidades eletivas envolvendo "Patíbulo e perdão"? (Eis o título de um outro texto que também fará parte de Exílio em Atlântida4.)

 

Com isso, Fernanda, quero dizer que a escatologia criativa nos permite pensar, dostoievskianamente, com Dostoiévski, contra Dostoiévski e para além de Dostoiévski — a escatologia criativa, dialética e dostoievskianamente parricida, nos permite projetar tanto a morte quanto a ressurreição de seu pai literário.

 

 

FF - Em Niilismo e comunhão, Flávio, seu mais recente texto publicado na coluna "Exílio", aqui na revista Germina, você traça um diálogo entre Caim e Abel, personagens que expressam matizes radicalmente opostos da natureza humana. O que a dialética, articulada por essas personagens, pode nos dizer sobre a busca de sentido para a existência ou sobre a absoluta falta de sentido e o encontro com o fim, com a morte? 

 

 

FRV - Para não fornecer chaves autorais ou atalhos hermenêuticos claros para os leitores e leitoras da Germina que acompanharão o diálogo entre Caim, o (suposto) niilista, e Abel, o redentor que também flerta com o profano, vou me centrar na sua colocação sobre a dialética.

 

A dialética, que poderíamos chamar de movimento antidogmático por excelência, talvez apreenda as noções de verdade(s) como algo tão espraiado quanto o pólen — talvez, e não mais do que talvez, a dialética seja um efetivo exercício de alteridade, na medida em que o movimento da contradição envolve não apenas antíteses entre mim e o outro, mas também contiguidades que conformarão (ou melhor, que tentarão conformar) possíveis sínteses. Assim, alguém que se considere politicamente liberal, alguém que clame pela defesa dos direitos individuais, por exemplo, tende a se contrapor, em um primeiro momento, às demandas mais esquerdizantes de vertentes que defendem maior intervenção do Estado — querendo com isso dizer maior intervenção pública — na economia. Entretanto, quando o Estado vai sendo encampado pela ingerência de lobbies privados de grandes corporações, tanto os direitos coletivos quantos os direitos individuais passam a ser minados. Revelam-se, com isso, não apenas as aporias dos direitos individuais que querem se estruturar em contraposição à totalidade social, como se o indivíduo fosse uma mônada autossuficiente, mas também as insuficiências das percepções sobre o Estado como um locus público por excelência, na medida em que ele se vê tomado por uma série de interesses privatistas que tolhem justamente os princípios coletivos. Assim, uma movimentação dialética nos faria ver que, em sociedades transpassadas por desigualdades de classe descomunais como a brasileira, talvez haja mais pontos de diálogo e retroalimentação entre os teores de verdade de liberalismo e coletivismo do que distanciamentos estanques poderiam apreender.

 

A criação dialética, nesse sentido, poderia ser entendida, digamos, como uma tentativa de estruturar uma personagem ou uma ideia — uma personagem-ideia, a bem dizer — que consiga pensar e agir a contrapelo de suas próprias aspirações e posições. Assim, em "Niilismo e comunhão" — e agora eu contradigo minha colocação anterior e me apresento como leitor de aspectos do meu próprio texto —, os amigos Caim e Abel, sempre com a aura da bela Julieta a rondá-los, discutem a escatologia do niilismo e procuram esgarçar, em termos ateus e espirituais, os limites e (im)possibilidades de sentido para a vida e para a morte em diálogo com Millôr Fernandes e Mark Twain, Emil Cioran e Machado de Assis, Michelangelo e Van Gogh, Schopenhauer e seu discípulo parricida Philipp Mainländer.

 

Eu não saberia dizer se, ao fim do diálogo, um dos polos prevalece — se o ímpeto de Abel pelo absoluto cicatriza o e se reconcilia com o niilismo de Caim ou se a completa falta de sentido (supostamente) vivenciada por Caim, qual um buraco negro, acaba engolfando o ímpeto de Abel por redenção. Mas me parece, no entanto, que Caim e Abel se expõem a uma experiência dialógica que tensiona suas posições iniciais para levá-los a possíveis reconsiderações de seus pontos de vista. Assim, após o corredor polonês de "Niilismo e comunhão", se Caim e Abel ainda quiserem se aferrar às suas ideias originais sobre ser e não-ser, eles terão, a meu ver, que levar em consideração as colocações e contraposições do outro. A dialética, então, em sua alteridade contraditória, talvez diga para Caim e Abel: ser e não ser, eis a resposta. (Por sinal — e em tempo: Caim e Abel já travaram um outro duelo dialógico no work in progress do Exílio em Atlântida. Trata-se do texto "Pandora está em coma, Pandora vive", ao longo do qual eles discorrem sobre os sentidos e ressentimentos da vingança e da pena de morte em um diálogo que também tenta sondar o além-mundo e a transcendência5.)

 

 

FF - Pois é, Flávio: você não dá ao leitor uma resposta pronta ao fim tanto de "Niilismo e comunhão"quanto de "Pandora está em coma, Pandora vive". Você parece lançar o leitor em meio a um labirinto de possibilidades para que tentemos entrever um caminho para as escolhas de Caim. Mas, então, eu lhe perguntaria: qual o desfecho que você, Flávio Ricardo, escolheria para sua personagem?

 

FRV - Antes de lhe responder, Fernanda, eu gostaria de dizer que Caim e Abel, como personagens, não são propriamente minhas. Levo bastante a sério a colocação do bom e velho Luigi Pirandello, para quem há sete personagens — Cristo diria haver até setenta vezes sete — à procura de um autor. Ora, personagens e heterônimos como pessoas não despontariam como uma imagem radical para a noção de alteridade? Nesse sentido, pensemos: como autor, sou apenas uma voz em meio a um contexto/concerto profundamente polifônico. E a minha própria voz, por sua vez, está repleta de contradições — isto é, a minha própria voz está repleta de outras vozes. (Montaigne já dissera: Há menos diferença entre mim e um outro que entre mim e eu mesmo; eu agora e eu depois somos, a bem dizer, dois.) Sendo assim, há personagens/vozes que não apenas discordam de seus pares, como também discordam do próprio autor.

 

Tanto em "Niilismo e comunhão"quanto em "Pandora está em coma, Pandora vive", há momentos em que me sinto mais próximo de Caim e há momentos em que concordo com Abel. Os leitores e leitoras talvez possam pensar que o autor é como um mestre de marionetes que fica puxando os fios das personagens. Mas, ora, o que eu estou sugerindo aqui é que, ao invés de um master of puppets, o autor muitas vezes entra no ringue e, com ou sem luvas, também está sujeito aos jabs, ganchos e diretos de direita e de esquerda das personagens. (Por falar, de esquiva, no bom e velho boxe, convido vocês à leitura de um texto algo mefistofélico que certamente fará parte de Exílio em Atlântida: "Mike Tyson, tudo o que existe merece perecer", originalmente publicado no site da revista Cult6.)

 

Ademais, há uma pergunta no bojo dessa argumentação que me parece importante: como é que um leitor ou uma leitora, para quem tanto o autor quanto as personagens de um texto são outros, chega a considerar que determinada narrativa fala dentro de si ou que "essa estória é sobre a minha vida"? Sabemos que experiências literárias desse tipo de fato acontecem. Nesse sentido, se os leitores vivenciam a alteridade narrativa como algo seu, isto é, como algo que tem o potencial de descentrar e ressignificar suas próprias experiências de mundo, de modo que eles possam se (re)conhecer e se (re)ver no e pelo outro, por que um autor não poderia ter uma experiência dessa dimensão com suas personagens?

 

Agora vamos à sua pergunta, Fernanda: que desfecho eu escolheria para "Niilismo e comunhão": Caim ou Abel?

 

Dialeticamente, eu escolheria Caim e Abel — espero que tanto as personagens (Caim, Abel e Julieta) quanto os leitores e leitoras possam sentir em si mesmos os conflitos, contraposições e contiguidades que o diálogo de "Niilismo e comunhão"tenta trazer à tona. Enquanto escrevia esse texto, Fernanda, lhe digo que o texto também me reescrevia: as articulações de Caim e Abel também me rearticularam, de modo que, durante a escritura, entendi melhor as personagens na mesma medida em que elas mesmas me tornaram mais compreensível para mim mesmo.

 

 

FF - Sobre os dois polos envolvendo sentido e morte, cernes do diálogo "Niilismo e comunhão", me ocorre uma curiosidade, que eu transformo em pergunta: você me parece uma pessoa esperançosa, apesar da dor e da dúvida que transpassam suas narrativas. Isso te faz sentido? Como você articula o niilismo na sua obra?

 

FRV - Em parte, creio que minhas colocações anteriores insinuam como niilismo e ímpeto por redenção, crime e castigo, patíbulo e perdão, ascensão e queda, torpor e cura se articulam em minha obra.

 

Como a Germina é uma revista eletrônica, esta conversa nos dá o benefício de poder remeter os leitores e leitoras aos mais diversos textos. Assim, para que o leitor e a leitora desta nossa conversa possam acompanhar, com a devida concretude literária, as maneiras pelas quais este escritor articula uma série de temas contraditórios, lhes indico agora, como uma sucessão de teses e antíteses, pares de textos que narram e/ou ensaiam temáticas contíguas e contrapostas: (i) "Sísifo rolará a nossa pedra para além do réquiem e Réquiem e utopia"7; (ii) "Deus em Atlântida e Deus, um estudo de caso da indústria cultural sobre a pré-história da onipotência, da onisciência e da onipresença"8; (iii) "Fernando Abujamra, Antônio Pessoa e André Riobaldo"e "E se o transatlântico, enquanto vai a pique, fizer o elogio do próprio naufrágio"?9

 

Ademais, Fernanda, tua pergunta traz uma observação que me parece bastante peculiar: "você me parece uma pessoa esperançosa, apesar da dor e da dúvida que transpassam suas narrativas". Assim, como é que o espectro de Pandora que ronda o Flávio Ricardo poderia conviver com a dor e a dúvida das minhas narrativas?

 

Neste momento, gostaria de retomar uma colocação de Abel sobre a obra de Emil Cioran, em Niilismo e comunhão, colocação com a qual este escritor concordaria e que talvez possa sintetizar, de certa forma, essa relação literário-existencial contraditória entre Pandora e Hades, niilismo e ímpeto por redenção:

 

Será que alguém que sente a nervura do real com tamanha visceralidade a ponto de querer abraçar o mundo e aceitar e cicatrizar todas as suas imperfeições; será que alguém que caminha entre os nossos escombros como se ainda fosse possível selar a paz com o canto gregoriano e a plenitude de um órgão que nos acalentam sob a abóbada intangível de uma catedral gótica; será que um esteta sob cujo desespero parece pulsar o sagrado; será que um artista cujo ateísmo parece rezar para que a beleza salve o mundo; será que um apóstata como Cioran é de fato um niilista, ou será que, sob a apostasia de seu culto ao nada, não pulsa, ardorosamente, uma nostalgia do absoluto?

 

 

FF - A arte, então, seria a comunhão que esse diálogo entre Caim e Abel evoca, Flávio? A arte seria a resposta ética frente ao niilismo?

 

FRV - Tua pergunta fez com que eu me lembrasse de uma foto de Pablo Picasso com a qual me deparei numa exposição de seus esboços e desenhos no Museu Berggruen, em Berlim, em dezembro de 2006.

 

O fotógrafo — quiçá um dos netos do pintor — capturou Picasso junto à janela de seu ateliê. (O fotógrafo/neto estava fora do ateliê.) O rosto de Picasso junto à janela, entre melancólico e impetuoso, parece nos revelar algo sobre a condição paradoxal da arte como sentido.

 

Picasso toca o vidro da janela com a mão direita aberta em palma — a mão cheia de manchas multicoloridas parece uma emanação do arco-íris, a verdadeira paleta do pintor (ainda que a foto tenha a palidez do preto-e-branco.) A mão esquerda do pintor nos deixa entrever pincéis e dedos de vários tamanhos. (Picasso já dissera: "Eu pinto como eu respiro".) Assim, o rosto impetuoso do pintor nos remete ao artista plenamente identificado com seu ofício, como se, durante os momentos intrépidos de suas criações, a realização artística já apontasse para um outro tipo de sociedade que não alienasse os homens e mulheres com trabalhos que lhe são completamente estranhos e avessos — uma sociedade que, ademais e sobretudo, não alienasse os homens e mulheres dos frutos de seus trabalhos. [É nesse sentido, aliás, que Theodor Adorno discorre, no ensaio O artista como representante, sobre o escritor e poeta francês Paul Valéry como a imagem de uma reconciliação existencial e social futura (a utopia) a partir de uma bela vida que, já neste tipo de sociedade, tem o privilégio de se formar como e de se enformar e transformar em uma obra.]

 

A solidão do artista, então, seria plenamente povoada e transpassada pela polifonia da alteridade — a arte, nesse sentido, poderia ser uma resposta ética, para o artista, frente ao niilismo.

 

Ocorre que o olhar de Picasso naquela foto não era apenas impetuoso — ele também era melancólico. O ateliê é o templo de criação do pintor — mas também é o locus que o aparta dos demais, seu bunker. Quando Picasso diz que "eu pinto como eu respiro", não se trata apenas de entrever como Picasso foi vivenciando a nervura do mundo como múltiplas tonalidades de cores e texturas, a nervura do mundo como as curvas e reentrâncias de suas musas — como se suas pinceladas pudessem parir o mundo. A mulher que Picasso mais amou quer conhecer o Pablo através e para além das telas, os netos e os filhos querem abraçar o avô e o pai. Assim, essa dimensão de ascese que a arte traz para o artista profundamente embrenhado em seu trabalho — um sentimento quiçá irmanado à plenitude de experiências espirituais — implica uma fusão entre vida e obra que acaba tornando bastante tensas as demais relações e afazeres. Assim, a janela translúcida deixa Picasso ver o mundo fora do ateliê — Picasso até pode retratar e ressignificar o mundo, mas, em seu ateliê-bunker, Pablo não pode tocá-lo. (Pablo e Picasso não deixam de ser guias e reféns de si mesmos.)

 

Picasso, vale frisar, foi um artista sumamente privilegiado por poder entrelaçar vida e obra. Sabemos que a maioria dos artistas não tem essa condição – pensemos, por exemplo, nas agruras de um Kafka a cindir seus dias, de modo potencialmente esquizofrênico, entre o trabalho burocrático durante o dia e a visceralidade de sua escrita madrugada adentro. Ademais, a arte não é uma essência estanque que não dialoga com as e não se vê transformada pelas contradições histórico-sociais. Nossa época torna bastante contraditórias as tentativas de criações artísticas que queiram movimentar determinada tradição, que queiram questioná-la e que pretendam trazer à tona dúvidas, tensões e ressignificações — em suma, verdadeiras vivências — para aqueles e aquelas que se aproximam, por exemplo, das obras de um escritor. Ora, parece que a ideia de indústria cultural como administração, colonização e mistificação das massas como que se maturou historicamente em nossa época para muito além de suas origens nas primeiras décadas do século passado, quando Theodor Adorno e Max Horkheimer, na Dialética do Esclarecimento, a conceberam em diálogo com a ascensão da indústria cinematográfica de Hollywood. Em termos literários, textos que se queiram orgânicos — isto é, textos que auscultem suas próprias premissas, textos que tenham, por exemplo, a longevidade que precisem ter, a leveza e/ou a complexidade requeridas por suas personagens e articulações —, tais textos tendem a enfrentar muitas dificuldades de inserção e interlocução (para não mencionarmos a indiferença e o silêncio) em relação a parâmetros coisificados de leitura que vêm consolidando a forma e o conteúdo das obras. Se os textos são muito longos; se os textos são demasiado intertextuais e dialógicos; se os parágrafos e as frases são longevos e repletos de idas e vindas — ainda que as personagens, por meio de fluxos viscerais de (in)consciência, estejam se liquefazendo e se espraiando pelas páginas, de modo que a sensação da leitura consiga transcender a moldura das frases horizontalmente dispostas; se, em suma, os textos demandarem interações mediatas e mediadas para além do imediatismo e do cansaço de nosso pouco tempo livre [ou melhor (ou bem pior), de nosso pouco tempo em liberdade condicional], a indústria cultural, a reproduzir e a socializar a mediocridade e a coisificação como nossa segunda natureza, tende a relegar tais criações a nichos de mercado tidos como elitistas, sobretudo em um país com problemas gravíssimos de universalização da educação, como o Brasil. Elitista, na verdade, é a reprodução da realidade como privação e ignorância materiais e espirituais; como cerceamento a priori da própria imaginação; como ressentimento sadomasoquista em relação a quaisquer prenúncios e ideias para além do atual estado de coisas. Mas, ora, segundo procedimentos bem próprios às inversões e deformações ideológicas — ideologia, aqui, desponta como o obscurecimento e o falseamento do processo de reprodução da realidade —, o pássaro é que é o culpado pela gaiola; o cão, pela coleira; o trabalhador, pela mais-valia; e a legião de desempregados, quiçá por ainda existir. E, se um artista demanda algo a mais (algo além) de seus interlocutores e interlocutoras, parece haver dolo na proposta de diálogo com as tensões e questionamentos de suas obras — trata-se de alcunhá-lo de elitista e de colocá-lo em quarentena. Ora, seria importante questionar por que determinadas pessoas têm o privilégio de forjarem suas subjetividades com o – ou melhor (ou pior), a despeito do — processo de socialização que nega tais possibilidades à maioria da população.

 

Assim, Fernanda, me parece que a arte tem o potencial de trazer ressignificações existenciais e políticas, sociais e transcendentais para todos aqueles e aquelas que com ela se imbricam. Mas cobrir as contradições da realidade com o manto do era uma vez significa hipostasiar Atlântida como se ela fosse uma cidade em que já vivêssemos — como se Utópolis já fosse a morada dos homens e mulheres e como se já não estivéssemos exilados de nós mesmos.

 

 

FF - Falemos, agora, sobre um tema escatológico por excelência, Flávio — falemos sobre a morte. Haveria em sua obra um apaziguamento em torno do fim?

 

FRV - Vou tentar lhe responder com novas perguntas isto é, vou lhe responder, literariamente, com o trecho de um texto que intitulei Decifra-me ou devoro-te? Não. Decifra-me enquanto te devoro10— texto que também será exilado em Atlântida:

 

O filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein sentencia:

— Os limites da minha língua são os limites do meu mundo.

Eis que a colocação de Wittgenstein cai no ouvido do médium brasileiro Francisco Cândido Xavier.

Encafifado, Chico coça o cocuruto. (E se os limites do meu mundo forem os limites da minha língua?)

Súbito, o médium interpela o filósofo:

— Se os limites da minha língua são os limites do meu mundo, meu caro, quem poderia ser o sujeito da frase "eu acabei de morrer"?

 

 

FF - Todo escritor possui uma filiação, ou seja, pensadores que norteiam seu imaginário para que se estabeleçam diálogos antes mesmo de a escrita vir à tona. Gostaria que você nos contasse um pouco sobre essa filiação e sobre os pensadores com os quais você mais dialoga no decorrer das suas criações.

 

FRV - Creio que, ao longo desta nossa conversa, o leitor e a leitora puderam entrever uma série de autores, obras e temas que vêm contribuindo sobremaneira para (de)formar meu imaginário. De qualquer forma, entre a miríade de leituras e influências, consigo identificar alguns autores sem os quais, muito provavelmente, minha forma (e conteúdo) de ver o e de estar no mundo seriam bem distintos. Refiro-me, assim, a Sócrates e Platão — ou melhor, a Sócrates como mestre e personagem de Platão (personagem-pessoa com o sentido já discutido em nossa conversa). Sócrates, para mim, representa uma experiência dialética fundamental — a cada diálogo platônico, quando eu achava que havia capturado a visão de Sócrates sobre determinada questão, o pensador me escapava como um pássaro cioso de sua própria liberdade. Só que Sócrates não nos escapa com contraposições exteriores — isto é, por argumentar em função de uma postura existencial ou política radicalmente distinta da nossa. Sócrates assume a voz do interlocutor de forma a iluminar, por dentro, cada uma das aporias de sua forma de (não) refletir sobre o mundo. Ao final, quando achamos que encontramos um píer para atracar a jangada de nossa travessia, Sócrates implode o edifício das ideias justamente ao alcançar seu cume e proclama não ter certeza sobre a bandeira do conhecimento que acabara de hastear — algo como um vórtice constante de questionamentos de si e do outro, de nós outros. Nós que ainda não conseguimos desatar.

 

Menciono, também, as afinidades eletivas, em termos de crítica social e sentido de justiça e reconciliação, envolvendo Cristo, Dostoiévski, Allan Kardec e o socialismo, Hegel, Marx e a Teoria Crítica, sobretudo a partir de Theodor Adorno e Walter Benjamin, dois verdadeiros poetas do conceito. Nesse sentido, cito aqui dois fragmentos e um aforismo que talvez sintetizem a pletora de questões e tensões que se confundem com e expandem as balizas do meu imaginário.

 

O primeiro fragmento faz parte do depoimento Grande Sertão: Veredas, ao longo do qual o bom e velho Antônio Cândido discorre sobre a obra magna de João Guimarães Rosa11. Em determinado momento, Cândido nos revela qual seria a maior inquietação do escritor mineiro:

 

Eu [Antônio Cândido] tive uma conversa com ele [Guimarães Rosa] e com uma outra pessoa que era o cônsul brasileiro em Gênova, em um restaurante muito bonito à beira-mar, creio que na região de Portofino. No decorrer da conversa, nós estávamos discutindo as posições ideológicas do Congresso. Eu declarei que era socialista e que, para mim, aquelas posições eram normais. Guimarães Rosa disse que ele achava perfeitamente normal o socialismo; que, por ele, todo mundo seria igual e feliz, sem problema nenhum; que o ideal da terra seria justamente a igualdade de todos. Mas, para ele, esse não era um problema fundamental. Para Guimarães Rosa, o único problema fundamental para o homem era saber se Deus existe ou não.

 

O segundo fragmento vem de uma das vozes do livro O fim do homem soviético, da escritora bielorrussa Svetlana Alexievitch, uma das obras que mais me impactaram nos últimos anos.

 

Há cento e vinte anos, Dostoiévski terminou Os irmãos Karamázov. Aí escreveu sobre os eternos "rapazes russos", que discutem sempre as questões universais, que só podem ser: Deus existe, a imortalidade existe? E os que não acreditam em Deus, bem, esses falarão do socialismo e do anarquismo, da transformação de toda a humanidade segundo um novo padrão, de modo que vai dar tudo no mesmo, nas mesmas questões, mas apenas de outro ângulo12.

 

O aforismo, por sua vez, foi decantado por Bernardo Soares, uma das pessoas do poeta Fernando Pessoa: "Deus é o existirmos e isto não ser tudo"13.

 

[Li esse aforismo, pela primeira vez, em dezembro de 2009, em uma cidadezinha desértica chamada Ica, que fica a umas duas horas (se tanto) de Lima, no Peru, sentado junto à beira de uma laguna e cercado pela geometria errante de enormes montanhas de areia. Anos depois, esse aforismo acabaria desaguando no texto "O que seria da existência sem as coisas que não existem?"14, escrito que também será exilado em Atlântida.]

 

Quero mencionar também Arthur Schopenhauer, Friedrich Nietzsche — pai e filho parricida — e Joaquim Maria Machado de Assis, três verdadeiros literatos da vida exilada de qualquer sentido, da vida que mal consegue se escorar na folhagem da contingência.

 

Para falar da suma importância de Franz Kafka e Albert Camus para a (de)formação do meu imaginário, Fernanda, proponho, aqui nesta nossa conversa, um breve excurso literário.

 

Imaginemos que Camus tenha em mãos um texto brevíssimo de Kafka — mais precisamente, a Pequena Fábula:

 

"Ah", disse o rato, "o mundo torna-se cada dia mais estreito. A princípio era tão vasto que me dava medo, eu continuava correndo e me sentia feliz com o fato de que finalmente via à distância, à direita e à esquerda, as paredes, mas essas longas paredes convergem tão depressa uma para a outra, que já estou no último quarto e lá no canto fica a ratoeira para a qual eu corro". — "Você só precisa mudar de direção", disse o gato e devorou-o15.

 

Imaginemos agora que, atormentado pela Pequena Fábula, Camus já não consiga pronunciar a primeira e a última frases de seu ensaio O mito de Sísifo — respectivamente, Só há uma questão verdadeiramente filosófica: o suicídio e É preciso imaginar Sísifo feliz16. (Eis o alfa e o ômega de Camus: a primeira frase desponta como o Apocalipse diante da vida exilada de qualquer sentido; a última, como uma tentativa contingente de um novo Gênesis sem Deus.)

 

Mas e se, após a leitura de Kafka, o alfa e o ômega de Camus sofrerem uma metamorfose?

 

Ora, Camus, se só há uma questão verdadeiramente filosófica, o suicídio, é mesmo possível imaginar Sísifo feliz?

 

 

FF - Como última questão desta nossa conversa, Flávio, assumo a voz de Antônio Abujamra, saudoso ator-personagem de quem eu sei que você gosta bastante, e lhe pergunto: para você, Flávio Ricardo, o que é a vida?

 

FRV - Tua pergunta me remete, literal e literariamente, a um aforismo do escritor austríaco Ferdinand Kürnberger (1821-1879) que Theodor Adorno transformou em epígrafe de sua obra Minima Moralia: A vida não vive17.

 

Enquanto ainda houver frestas exíguas em meio ao corredor polonês da Pequena Fábula, a contingência de forjar a própria vida segundo aspirações mais próprias — a vida como vocação — configuraria um forte teor de verdade para tentarmos imaginar Sísifo feliz.

 

Nesse sentido, façamos outro breve excurso literário com alguns versos de "Utopia"e "Ocaso do século", poemas seminais da polonesa Wisława Szymborska18.

 

A "Utopia" seria uma "Ilha onde tudo se esclarece" — ora, por que uma ilha? Por que a utopia não poderia se espraiar por todos e cada um dos continentes?

 

Em "Utopia", não haveria estradas, "senão as de chegada" — os campos de trabalhos forçados sino-soviéticos e o paredón cubano nos fazem tremer com tal one-way ticket.

 

Diante do crepúsculo da utopia — ou pior: diante do recrudescimento distópico que parece se confundir com o espírito atualíssimo de nossa época —,

 

"Como viver me perguntou alguém numa carta,

a quem eu pretendia fazer

a mesma pergunta.

 

De novo e como sempre,

como se vê acima,

não há perguntas mais urgentes

do que as perguntas ingênuas".

 

Com o ímpeto de Sócrates, Szymborska ousa perguntar com a ingenuidade afiada pela lâmina do sentido. Sendo assim, eu me pergunto e lhes pergunto: por que é que a vida não vive?

 

dezembro, 2016

 

 

 

Flávio Ricardo Vassoler, escritor e professor, é mestre e doutor em Teoria Literária e Literatura Comparada pela FFLCH-USP, com estágio doutoral junto à Northwestern University (EUA). É autor das obras literárias Tiro de Misericórdia (nVersos, 2014) e O Evangelho segundo Talião (nVersos, 2013) e organizador do livro de ensaios Fiódor Dostoiévski e Ingmar Bergman: O niilismo da modernidade (Intermeios, 2012). Periodicamente, atualiza o Portal Heráclito, página em que publica fragmentos de seus trabalhos literários, os programas do Espaço Heráclito e fotonarrativas de suas viagens pelo mundo.

 

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Fernanda Fatureto é poeta e jornalista. Bacharel em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero. Seu livro de estreia Intimidade Inconfessável foi publicado em 2014 pela Editora Patuá. Participa das antologias poéticas 29 de abril: o verso da violência (Patuá, 2015); Subversa 2 (Patuá, 2016) e Senhoras Obscenas (Benfazeja, 2016). Possui poemas publicados em diversas revistas literárias do Brasil.

 

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