©sØlve sundsbØ 
 
 
 
 
 
 
 

Fadas

 

 

Rapunzel

Rapunzel soltou as tranças, e toda linda e esbelta, saltou da torre de asa delta.

 

 

Chapeuzinho Vermelho

Chapeuzinho Vermelho não aceitou nenhum conselho. Encarou o Lobo Mau e foram para o luau.

 

 

A Bela Adormecida

A Bela Adormecida acordou chateada, aborrecida, com um bocejo. Queria bem mais que um beijo.

 

A Sereiazinha

A Sereiazinha deixou o mar. Largou a piscina, o tanque. Mergulhou no baile funk.

 

Sherazade

Sherazade, uma beldade. Cansada de tantas histórias, mais de mil, uma noite deu ultimato ao Sultão: — ou dorme de boa ou acaba a relação.

 

 

 

 

 

 

Desamada

 

 

Chega. Chega de romance.

Amor agora só free lance.

 

 

 

 

 

 

Ressaca

 

 

Sonhei que te amava como quero,

Acordei. Na boca, um gosto de bolero.

 

 

 

 

 

 

Mix de Mim

 

 

Meu lado forte

Gira ao norte

Meu lado cool

Mais ao sul

Meu lado negro

Veio com o grego

Meu lado bom

Em alto som

Meu lado cego

Curtia um ego

Meu lado singelo

É amarelo

Meu lado poeta

Um esteta

Meu lado humano

Era cigano

Meu lado místico

Tão artístico

Meu lado gringo

Veio no domingo

Meu lado louco

Não tem pouco

Meu lado sonho

Toco e componho

Meu lado rosa

É todo prosa

Meu lado zen

É também

Meu lado verdade

É liberdade

Meu lado alegria

Tem todo dia

Meu lado consciente

É muito gente

Meu lado guerreiro

Foi companheiro

Meu lado Diniz

Tão feliz

Meu lado Tânia

A miscelânea

Hiiii... espera aí...

Meu lado doce

Eu comi!!!

 

 

 

 

 

 

Feito Flor 2

 

 

Tão apaixonada

Não se continha.

Morria de orgulho

De orgasmo

De orvalho.

 

Sôfrego

Beijava-lhe a mão

A boca

A palma

E a pétala.

 

 

 

 

 

 

*

 

 

Tinha uma lua nova no pulmão esquerdo.

Um doído no peito. Um sem jeito,

Dores, amores.    

Quando explodiu,

Da boca saltaram-lhe flores,

Estrelas, cometas, luas e sóis,

Arrebóis.

Ternas juras entre lençóis.

Boquiaberta, sem oráculo ou profeta,

Viu-se poeta.

 

 

 

 

 

 

*

 

 

Minha flor é água-viva

Exposta ferida

E grita o silênCio

Da ausência, a guarida.

E pulsa. Lateja!

 

Minha flor é água-vulva

É mina turva

É tua falta em cada curva

De pétala

É seca de tua chuva.

 

A carne viva

A carne vulva

Não perdoa:

Exige, precisa, deseja.

E ferroa!

 

 

 

 

 

 

Reinos

 

 

Ter

formas de maçã

A surpresa

de textura e cor

da romã

Do caju,

sumarenta carnadura

Da goiaba de vez,

o frescor

Então,

apetitosa e nua

a fome acesa

em tua mesa,

ver, talvez,

o emergente calor

da tua carne dura.

 

 

 

 

 

 

*

 

 

O MELHOR VINHO

CARINHO DE TUA BOCA AO LONGO DOS MEUS PÉS

RUBIS CRAVEJADOS NAS SANDÁLIAS ESCARLATES

 

 

 

 

 

 

Luas

 

 

Na lua nova

de recurvo brilho

a paixão renovas

 

No meu céu

de cio crescente

a chama alteia

 

E serpente e sereia

me encontro vindo:

lua cheia

 

E quando, bacante,

mesmo minguante,

me prendes a cintura

na quadratura de cada mês,

a cada vez,

desvendas com arte

a sanguínea face

de minha lua escarlate.

 

 

 

 

 

 

Penélope

 

 

Espero.

Tal Penélope

teço a teia

de suspiro e saudade

em ponto meia.

Às noites de lua

entremeio

fios de paixão

brilhos de prazer

bordados em canção

eu, toda nua,

vestindo tua mão.

Pronto o manto

envolvo de encanto

loucos sonhos na cama,

a trama de quem ama.

Tal Penélope

na noite sem lua

sem teus passos na rua

desmancho, desfaço,

meus pontos, teu laço.

A solidão, não meço.

Amanhã, recomeço.

 

 

 

 

 

 

Borboleta

 

 

Um beijo

pelo corpo inteiro

ligeiro

deixou

uma borboleta roxa

mordida

na

coxa

 

 

 

 

 

 

*

 

 

no tango-drama

da cama

clima de romance-

byron

rompeu-me a meia de

nylon!

 

 

 

 

 

 

*

 

 

Teu ritmo ágil ralenta

ora vai, ora vem, inventa.

Minha carne frágil e sedenta!

 

 

 

 

 

 

*

 

 

Mais te amava

sem saber que me deixavas.

Rompeu-me a alma em sustos.

(Até tu, Brutus?!)

 

 

 

 

 

 

Constelações

 

 

Noite —

a curvatura do dorso

o singelo pescoço...

na placidez, o boi rumina rubis

e baba, leitosos, quartzos róseos,

onde cintila aldebarã.

De manhã —

presepeiro, pesado, às vezes ligeiro,

boi de canga, boi de farra,

bumbo-meu-boi.

E touro bravo, de sangrenta arena,

me volto manso,

sem qualquer pena.

No laço fácil do teu abraço,

vaca leiteira, lambe-lambê-las,

rumino estrelas.

 

 

 

 

 

 

Fragmentos

 

 

olhos de cobra

fascinam e prendem

meu olhar no teu

 

 

.........................

 

 

lábios exatos

naufragam os meus

 

........................

 

 

cálida e forte

tua mão veste

de nervosa seda

a forma firme

a curva cheia

 

 

........................

 

 

ajeita minha pele

de gata ou pantera

e te mordo, fera,

que marque e revele

 

 

........................

 

 

 

a cintura

enfeita em laços

doce,

amarra em abraços

 

 

........................

 

 

serpente inquieta

movediça areia

meu seio eriça

no corpo passeia

minha flor ativa:

tua língua, água-viva.

 

 

junho, 2019

 

 

Tânia Diniz (Dores do Indaiá/MG). Vive em Belo Horizonte desde criança. Graduada em Letras pela UFMG. Professora de idiomas, poeta, contista, haicaísta, editora-idealizadora do mural poético Mulheres Emergentes (ME), o sensual em cartaz desde 1989, que já se tornou fonte de pesquisa. O ME tem circulação internacional desde o número zero e visa descobrir autores novos publicando-os junto aos já conhecidos. Enfatiza o feminino — dando-lhe voz — bem antes do movimento feminista atual. Tem espaço para os homens também (menorzinho) e para ilustrações. Alternativo, resiste à custa de parcos patrocínios, garra e paixão da editora. Por ele, já organizou sete concursos internacionais de poesia, com excelente acolhida. E fez a I Mostra Mineira de Haicai Mulheres Emergentes, em 2008, na Galeria da Rodoviária, de onde, a convite, foi para a Feira Nacional de Artesanato do Expominas, pelo centenário da imigração japonesa no Brasil, tornando-se itinerante. Em 2019, organizou um Calendário Comemorativo dos 30 anos do ME, com exposição e bate-papo, na Casa Idea de Cultura. Citada em diversos Dicionários de Escritora/e/s como os organizados por Olga Savary, Nelly Novaes Coelho, Constância Lima Duarte e Hilda Flores, participa de sites nacionais e estrangeiros e de inúmeras antologias. Tem vários livros publicados, sendo o de estreia, em 1988 (2 ed. em 1989), O Mágico de Nós, de contos curtos. Pinta e borda para colorir mais a vida. Vem vencendo a batalha contra o câncer de mama há 20 anos e considera, além da família e amigos, a poesia, o trabalho literário e a alegria, os melhores remédios. Mais em www.mulheresemergentes.com.

 

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