Fadas
Rapunzel
Rapunzel soltou as tranças, e toda linda e esbelta, saltou da torre de asa delta.
Chapeuzinho Vermelho
Chapeuzinho Vermelho não aceitou nenhum conselho. Encarou o Lobo Mau e foram para o luau.
A Bela Adormecida
A Bela Adormecida acordou chateada, aborrecida, com um bocejo. Queria bem mais que um beijo.
A Sereiazinha
A Sereiazinha deixou o mar. Largou a piscina, o tanque. Mergulhou no baile funk.
Sherazade
Sherazade, uma beldade. Cansada de tantas histórias, mais de mil, uma noite deu ultimato ao Sultão: — ou dorme de boa ou acaba a relação.
Desamada
Chega. Chega de romance.
Amor agora só free lance.
Ressaca
Sonhei que te amava como quero,
Acordei. Na boca, um gosto de bolero.
Mix de Mim
Meu lado forte
Gira ao norte
Meu lado cool
Mais ao sul
Meu lado negro
Veio com o grego
Meu lado bom
Em alto som
Meu lado cego
Curtia um ego
Meu lado singelo
É amarelo
Meu lado poeta
Um esteta
Meu lado humano
Era cigano
Meu lado místico
Tão artístico
Meu lado gringo
Veio no domingo
Meu lado louco
Não tem pouco
Meu lado sonho
Toco e componho
Meu lado rosa
É todo prosa
Meu lado zen
É também
Meu lado verdade
É liberdade
Meu lado alegria
Tem todo dia
Meu lado consciente
É muito gente
Meu lado guerreiro
Foi companheiro
Meu lado Diniz
Tão feliz
Meu lado Tânia
A miscelânea
Hiiii... espera aí...
Meu lado doce
Eu comi!!!
Feito Flor 2
Tão apaixonada
Não se continha.
Morria de orgulho
De orgasmo
De orvalho.
Sôfrego
Beijava-lhe a mão
A boca
A palma
E a pétala.
*
Tinha uma lua nova no pulmão esquerdo.
Um doído no peito. Um sem jeito,
Dores, amores.
Quando explodiu,
Da boca saltaram-lhe flores,
Estrelas, cometas, luas e sóis,
Arrebóis.
Ternas juras entre lençóis.
Boquiaberta, sem oráculo ou profeta,
Viu-se poeta.
*
Minha flor é água-viva
Exposta ferida
E grita o silênCio
Da ausência, a guarida.
E pulsa. Lateja!
Minha flor é água-vulva
É mina turva
É tua falta em cada curva
De pétala
É seca de tua chuva.
A carne viva
A carne vulva
Não perdoa:
Exige, precisa, deseja.
E ferroa!
Reinos
Ter
formas de maçã
A surpresa
de textura e cor
da romã
Do caju,
sumarenta carnadura
Da goiaba de vez,
o frescor
Então,
apetitosa e nua
a fome acesa
em tua mesa,
ver, talvez,
o emergente calor
da tua carne dura.
*
O MELHOR VINHO
CARINHO DE TUA BOCA AO LONGO DOS MEUS PÉS
RUBIS CRAVEJADOS NAS SANDÁLIAS ESCARLATES
Luas
Na lua nova
de recurvo brilho
a paixão renovas
No meu céu
de cio crescente
a chama alteia
E serpente e sereia
me encontro vindo:
lua cheia
E quando, bacante,
mesmo minguante,
me prendes a cintura
na quadratura de cada mês,
a cada vez,
desvendas com arte
a sanguínea face
de minha lua escarlate.
Penélope
Espero.
Tal Penélope
teço a teia
de suspiro e saudade
em ponto meia.
Às noites de lua
entremeio
fios de paixão
brilhos de prazer
bordados em canção
eu, toda nua,
vestindo tua mão.
Pronto o manto
envolvo de encanto
loucos sonhos na cama,
a trama de quem ama.
Tal Penélope
na noite sem lua
sem teus passos na rua
desmancho, desfaço,
meus pontos, teu laço.
A solidão, não meço.
Amanhã, recomeço.
Borboleta
Um beijo
pelo corpo inteiro
ligeiro
deixou
uma borboleta roxa
mordida
na
coxa
*
no tango-drama
da cama
clima de romance-
byron
rompeu-me a meia de
nylon!
*
Teu ritmo ágil ralenta
ora vai, ora vem, inventa.
Minha carne frágil e sedenta!
*
Mais te amava
sem saber que me deixavas.
Rompeu-me a alma em sustos.
(Até tu, Brutus?!)
Constelações
Noite —
a curvatura do dorso
o singelo pescoço...
na placidez, o boi rumina rubis
e baba, leitosos, quartzos róseos,
onde cintila aldebarã.
De manhã —
presepeiro, pesado, às vezes ligeiro,
boi de canga, boi de farra,
bumbo-meu-boi.
E touro bravo, de sangrenta arena,
me volto manso,
sem qualquer pena.
No laço fácil do teu abraço,
vaca leiteira, lambe-lambê-las,
rumino estrelas.
Fragmentos
olhos de cobra
fascinam e prendem
meu olhar no teu
.........................
lábios exatos
naufragam os meus
........................
cálida e forte
tua mão veste
de nervosa seda
a forma firme
a curva cheia
........................
ajeita minha pele
de gata ou pantera
e te mordo, fera,
que marque e revele
........................
a cintura
enfeita em laços
doce,
amarra em abraços
........................
serpente inquieta
movediça areia
meu seio eriça
no corpo passeia
minha flor ativa:
tua língua, água-viva.
junho, 2019
Tânia Diniz (Dores do Indaiá/MG). Vive em Belo Horizonte desde criança. Graduada em Letras pela UFMG. Professora de idiomas, poeta, contista, haicaísta, editora-idealizadora do mural poético Mulheres Emergentes (ME), o sensual em cartaz desde 1989, que já se tornou fonte de pesquisa. O ME tem circulação internacional desde o número zero e visa descobrir autores novos publicando-os junto aos já conhecidos. Enfatiza o feminino — dando-lhe voz — bem antes do movimento feminista atual. Tem espaço para os homens também (menorzinho) e para ilustrações. Alternativo, resiste à custa de parcos patrocínios, garra e paixão da editora. Por ele, já organizou sete concursos internacionais de poesia, com excelente acolhida. E fez a I Mostra Mineira de Haicai Mulheres Emergentes, em 2008, na Galeria da Rodoviária, de onde, a convite, foi para a Feira Nacional de Artesanato do Expominas, pelo centenário da imigração japonesa no Brasil, tornando-se itinerante. Em 2019, organizou um Calendário Comemorativo dos 30 anos do ME, com exposição e bate-papo, na Casa Idea de Cultura. Citada em diversos Dicionários de Escritora/e/s como os organizados por Olga Savary, Nelly Novaes Coelho, Constância Lima Duarte e Hilda Flores, participa de sites nacionais e estrangeiros e de inúmeras antologias. Tem vários livros publicados, sendo o de estreia, em 1988 (2 ed. em 1989), O Mágico de Nós, de contos curtos. Pinta e borda para colorir mais a vida. Vem vencendo a batalha contra o câncer de mama há 20 anos e considera, além da família e amigos, a poesia, o trabalho literário e a alegria, os melhores remédios. Mais em www.mulheresemergentes.com.
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