Existe um borbulho dentro de mim de gestos afetos revoltas
Existe um borbulho dentro de mim de cores palavras e versos a construir
Existe um borbulho dentro de mim lava anseio vulcânico por uma vida que não é esta.
Colóquio com meu Senhor
— Vê aquela luz na curva da estrada? É teu povo, Senhor, comemorando o fim de mais uma etapa [Foi longa a caminhada]
— Não, meu Senhor, Não tenho queixas. Não me doem os pés já que por teu anjo vim amparada.
— Mas Senhor, O pranto... Esse que não cessa, é fruto das bolhas que tenho na alma.
Decadência
Dedos que caminham vagos em relevos agora falsos, prazeres solitários. Triste cena a solidao.
Ampulheta
E é assim com um buraquinho n'alma por onde passa o tempo uma ampulheta de sonhos espalha planos-fetos dentro de mim...
Naja
Aos poucos, num suave crescendo, a música torna-se mais alta.
Levanta-se nos ares, a naja. Que com seus volteios
deslumbra a platéia incauta.
Cuidado!
O flautista, encanta...
A serpente mata.
Ego Ferido
Senti ciúmes sim, ao ver teus olhos, que com a doçura que tão bem conheço, outros olhos devoravam provocando espamos, dos quais não mais padeço.
Senti ciúmes dos teus braços perdido em outros abraços afagando o corpo que foi meu.
Dos sorrisos que tive, dos sussurros ao pé-do-ouvido, das gargalhadas sonoras contando casos teus.
Senti ciúmes, não nego. Mas sei também que já não te quero, foi
apenas no ego, um pequeno arranhão. |
Cuidei sempre dos pés, que correram atrás de sonhos [e não foram poucos]
Não percebi instalar-se a úlcera de tanto engolir tristezas [as minhas e as dos outros]
Cacos de vida
Passa a caravana (dizem) ladram os cães geme o carro reclamam os bois
esfregão do mundo (eu) junto cacos da vida fazendo poema que nunca foi
Amor em cinzas
Ontem, queimaram-se na fogueira que fiz:
as cartas as fotos e o almofariz onde toda noite eu macerava, com calma, nosso amor em grãos...
hoje, tenho cinzas no peito e fumaça n'alma.
Ferrugem
Tempestade!
Acordei no meio da noite pensando ouvir sons de gargalhadas.
Fantasmas? Qual o quê!
Era a roda da fortuna com a engrenagem enferrujada.
Solidão de Poeta
Em noite alta se aproxima manso adentra o peito num suspiro apunhala o ventre chega aos olhos e não transborda torna à alma afoga a voz e explode pelos dedos.
Poema Fugitivo
Existe um poema vagando por aí repleto de palavras algumas claras, outras belas insanas profanas adúlteras truncadas mortíferas abaladas inseguras
Existia... Era um poema, vagando por aí Incompleto abaladiço promíscuo insensato quizumbento ciumento
Era um poema rutundo, gordo adiposo, cheio de bazófia E... explodiu
Agora, chovem palavras por aí
Como
eu sei? (imagens
©thomas northcut / photodisc) |
Asta Vonzodas (Santo André-SP). Poeta, pedagoga, trabalha na área de Assessoria de Comunicação. Foi diretora das revistas digitais PD-Literatura e PD-Criança. Publicou o livro de poesia Retalhos (São Paulo: Editora PD, 1999). Participou das antologias Eros (São Paulo: Editora PD, 1999); Horizontes (São Paulo: Editora PD, 1999); Ins piração erótica (São Paulo: Editora Literarte Livros e Artes Ltda., 2000); A sensualidade da língua (Jundiaí: Clube Jundiaiense de Letras, 2000); Volume VIII da Antologia da Câmara Brasileira de Jovens Escritores. Tem diversos trabalhos publicados na Internet. Seu artigo "Assassinato Na Rua Catão", foi apresentado para comentários na Comissão de Meio Ambiente da OAB-São Paulo - Grupo Meio Ambiente Natural, em 2002. Outro artigo, "A Operação" foi apresentado como ilustração de aula na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - FMUSP, em 1996. Faz parte do quadro de associados da União Brasileira dos Escritores - UBE. |