E V E N T O

 

tome um aquário,
recorte
a nudez —
frase que se inunda
de não-água

 

na pressa
se inscreve
— em líqüido —
o flagrante sem peixe, 

  

o estranho de ser fogo
e o resultado dos hífens

 

tome o desenho
da tocha,
que combustão
se há de

 

 

 

 

 


D E S E N H O

 

cabras dançam rotas verticais
     
a crosta da montanha 
contorna metonímias

 

a lápis crayon,  a
sombra sobre o
pêlo, sobre a pele
na espessura de um ensaio

 

que a luz teça a hipótese da
sílaba, — e o prisma ondulado
se consume

 

algum teor de amido
se estenda
                                       
nas bordas do bunker:
a tentativa de vôo
para a inexistência da asa

 

 

 

 

 


Á R I A

 

roçar o ambíguo,
impróprio
ludo provisório
(todo)

 

para erigir
o gene fricativo,
resinas e desvãos

 

suma do solo
em planície
imberbe

 

no linho da franja,
captar a jato
um tropo

 

colorir crustáceos
a bico de pena  ou
(re)digitá-los,
sóbrios

 

conectar a ilha,
palha no dedo, maçã

 

madeira para flauta,
cântico e raiz

 

tema para sopro,
pedra de fonema

 

 

(imagens ©paul taylor)

 

 

Beatriz Helena Ramos Amaral nasceu em São Paulo, em 27/11/1960. Bacharel em Direito pela USP, em 1983, e em Música pela FASM, em 1985, estreou em literatura em 1981, com o romance Desencontro (Ed. do Escritor), obra adotada em vários colégios para análise literária. Publicou, depois, os seguintes livros de poesia: Cosmoversos (1983, Ed. do Escritor), Encadeamentos (1988, Massao Ohno Ed.), Primeira Lua (1990, Massao Ohno Ed., haicais, em colaboração com Elza Ramos Amaral), Poema sine praevia lege (1983, Massao Ohno Ed.) e Planagem (1998, Massao Ohno Ed.). Em 2002, publicou o ensaio biográfico Canção na Voz do Fogo (Ed. Escrituras), focalizando a trajetória artística da cantora Cássia Eller, e, em 2003, lançou Alquimia dos Círculos (poemas, Ed. Escrituras).  Encadeamentos foi objeto de tese defendida na PUC-SP, pela Prof. Ana Luiza Camargo Arruda Bauer, em 1993. Poema sine praevia lege foi finalista do Prêmio Jabuti de 1993. Beatriz Amaral coordenou, na Secretaria Municipal de Cultura, em 1994, o ciclo "Clarice Lispector — 50 anos de estréia", em 1996, o ciclo "Poesia 96" e, em 1997, "Visualidades, Sonoridades, Movimentos da Poética Contemporânea". É Promotora de Justiça do Estado de São Paulo. Teve poemas premiados no Concurso Vinicius de Moraes (1985), no Concurso de São José dos Campos (1994) e obras jurídicas premiadas no Concurso Melhor Arrazoado Forense, promovido pelo Ministério Público, em 1991 e 1992. Desde 1996, pertence à Diretoria da União Brasileira de Escritores – UBE/SP, tendo sido Secretária-Geral da entidade no biênio 1996/1998. Em 2005, obteve o grau de Mestre em Literatura e Crítica Literária pela PUC-SP. Tem resenhas, ensaios, artigos e poemas publicados em várias revistas e jornais (Folha de São Paulo, Dimensão, Zunái, A Cigarra, O Escritor, Ângulo, Revista da Biblioteca Mário de Andrade, entre outros). Tem participado de exposições de poesia e realizado leituras poéticas com o citarista Alberto Marsicano. Mais em sua página pessoal.