*

 

silêncio

o tempo ilumina a estrada

tudo faz sim

 

 

 

 

 

 

*

 

no meio do tempo

sorri para solidão

um ipê

 

 

 

 

 

 

*

 

no reino das coisas vãs

no aterro sanitário

 

vizinhos catadores de coração

brincam no quintal

 

o retrato pela janela

é o esgoto

 

 

 

 

 

 

*

 

a tristeza tonta desfez a dor

encontrou o riso num beijo etílico

o sol acariciou os olhos

e de ressaca alguém acordou

 

 

 

 

 

 

*

 

precisa-se de conserto

um para o verso

outro para alma

verso partido ao meio

retalhos no coração

poema sem imagem

vida numa cela

o poema vira solidão

 

 

 

 

*

 

de manhã

bebo um copo

de poesia sem açúcar

para que leve as horas

 

 

 

 

 

 

Cidade estranha

 

UM SUJEITO CAMINHA NO PLANALTO

COM A SOLIDÃO

NO CENTRO DO PEITO

 

LONGE DE SEUS CAMINHOS

HÁ MUITO TEMPO

ESTRANHA-SE DIANTE DO ESPELHO

 

FELIZ AINDA

POR QUE LHE RESTA

UM DIÁLOGO

CINZAS

E VERSOS

 

 

 

 

 

 

*

 

Quando nasci

nenhum anjo veio

ler a minha mão,

mas depois

conheci um

cara muito louco

poeta torto

que me virou a cabeça

 

O que dizia

e disse:

"Pô! Bicho sai da lagoa

teu lugar é na correnteza"

 

A lua é forte em todo canto

nunca passa

sempre no mesmo encanto,

vem!

senão falta oxigênio antes do tempo.

 

Cuidado

eles querem tua carne tua alma

cospe nesse prato que te oferecem

mata as baratas do armário

e esquece teus amigos

 

 

 

 

 

 

Toda noite

 

toda noite

o fantasma de tua ausência

vem roubar-me

um beijo

acordo

e o coração ainda entre as mãos

retorna a tocar

o choro em dó maior

 

 

 

 

(imagens ©michal macku)

 

 

 

 

 

 

Caio Negreiros (Teresina-PI). Poeta. Publicou A decadência das horas, Portal do Hades, Sombras do dia, todos pela Edições Não-Ser. Mais em seu site: http://www.naoser.hpg.ig.com.br