©phil jason
 
 
 
 
                                                                    
  

Caos. O caos forma labirintos. Destrói a racionalidade do espírito ou o espírito da racionalidade. Mas, enquanto se acumulam os fragmentos do cotidiano, revelam-se as artimanhas dos seres que lidam com palavras.

Palavras são idéias e idéias são labirintos. Disso pode viver o homem, disso pode morrer o escritor.

As vertigens criam o périplo do Verbo. E assim se constrói a humanidade. Como se constrói o caos. O caos e suas estações, por onde andamos e ressurgimos, para onde seguimos até a posse do delírio.

 

Assim, seguimos.

 

O caos virá. Inevitavelmente. O caos é o melhor caminho entre o cetro e o absinto. Portátil, como o silêncio entre as fendas. Em forma de sombras. Antes dele, a incerteza do vazio. Depois dele, o vazio incerto. No entre, o caos nosso de cada dia.  Ao que virá.

 

Enquanto isso, um mantra:

 

paz da rua ou assim morreu o escritor

 

O escritor nem tencionava escrever o conto. Mantinha-o sempre inacabado, sua maior diversão. Incrédulo, porém, ele se deparou com o título em páginas de almanaque. Livraria em rua sem movimento. E constatou em ofissete o que antes nem sequer passara de interminável rascunho. Por um instante, sentiu um gozo. Passageiro, no entanto, ao descobrir não ser ele o seu autor. Principiou, então, a gritar, indignado. E denunciou, mas apenas passavam alguns, sem atenções. Até que surgiu a polícia para prendê-lo para sempre, por perturbar o silêncio da rua.

 

O caos é a ordem que virá. Para perturbar o silêncio da rua. Ou para descobrir o caminho que não é. Sendo.

 

 

estante (por vir): revista Caos Portátil — Um almanaque de contos n° 2. Fortaleza: Letra e Música, 2005, etc, etc, etc. contato: letraemusica@secrel.com.br.

 

 

 

 

 

outubro, 2005

 

 

 

jorgepieiro@secrel.com.br