©andrey chezhin
                          
 
 
 
 
 
 
 
 

"Maria, Mãe do Filho de Deus" arrastou quase dois milhões e meio de crédulos aos cinemas. O próximo filme do Padre  Marcelo, dirigido por Moacyr Góes, deve bater este número. Chama-se "Irmãos de Fé".

Um sujeito que leva esta quantidade astronômica de crédulos aos cinemas deve ter alguma coisa a dizer a seu público. Ou no mínimo um pacto com o diabo. Isso não significa que Xuxa, Angélica e os Trapalhões, algum dia, tiveram "alguma coisa a dizer".

Quando faço esta afirmação estou reproduzindo a idéia da catequese. No mesmo sentido que o missionário sai de sua paróquia e vai pregar o evangelho. Isto é, para o pastor o fundamental é "levar a palavra". Se a "palavra" é de Deus ou do diabo, o problema é de quem a ouve. É para isso, afinal,  que o pregador está lá: para pregar, dizer.

E o Padre Marcelo? Diz o quê?

"Argh!, esse não tá legal" — diz e tapa o nariz depois de sair de um banheiro no set de filmagem em Jacarepaguá. Pipi só no banheiro do próprio camarim.

Quase dois milhões e meio de pessoas.

Engraçado... tive uma regressão involuntária aos meus tempos de primário e lembrei da mãe do Guaxinim, que o proibia de fazer pipi na escola. Só em casa. O que teria acontecido com o Guaxinim? Será que morreu num acidente trágico? Virou metaleiro...? Entrou pruma Ong? Ou virou padre?

Quase dois milhões e meio — isso é que é uma boiada! Quero dizer: rebanho.  Como era mesmo o nome do Guaxinim? Maurício, Mário, Márcio... Marcos? Ou será que ele era meu xará?

Não, acho que não. Eu sei que ele era um panaca e que vivia todo cagado e mijado pelos cantos. Fedia, o desgraçado.

Qualquer um chamado Marcelo (pelo menos naquela época) carregava a responsabilidade de ter este nome por causa do grande Mastroianni. Numa entrevista, perguntaram ao ator como é que ele ia fazer  para engordar vinte quilos em duas semanas... o personagem pedia e as filmagens já estavam começando, etc., etc.

Sabem o que ele respondeu? "Basta 'interpretar' um gordo". Grande Marcello Mastroianni. Tenho orgulho do meu nome.

Seria uma traição o panaca do Guaxinim ser meu xará. Depois, não consigo imaginar ninguém indo pedir a bênção para um tipo como ele. Se um moleque chegava perto do Guaxinim era para dar porrada. O garoto fedia de verdade. Tenho raiva dele até hoje.

Será que o Guaxinim pegou trauma da própria catinga? E a partir daí passou a ter nojo de si mesmo e tomar vários banhos por dia? Será que passou a esterilizar as mãos com bactericida feito Padre Marcelo e Michael Jackson? Talvez. Pode ser, nada é impossível.

Uma das manias da mãe do Guaxinim à época era preservá-lo dos banheiros da escolinha. Hoje é a mãe do Padre quem o preserva das mulheres que se aproximam dele com "pensamentos libidinosos". São todas "meninas vazias", segundo dona Vilma.

Um dado. Padre Marcelo tem 37 anos, minha idade.

Bem, diante das evidências, acho que o Guaxinim virou mesmo o Padre Marcelo. Vou rezar um Pai Nosso e já volto.

Pronto, tá rezado. Pedi proteção para papai do céu.

Vale que na época a molecada enchia o Guaxinim de porrada. Foi até sodomizado. Mas isso é irrelevante... pretérito. O que me interessa é saber o que se passa, hoje, na cabeça do Guaxinim, digo, Padre Marcelo.

Mônica Bergamo também ficou interessada. A matéria saiu na Folha de São Paulo no dia 16 de maio. Não inventei nada. Entre outras coisas, descobri que ele toma remédios para frear a queda de cabelos. E não faz parte daqueles 41% de religiosos que tiveram casos com mulheres. Se o Padre Marcelo for mesmo o Guaxinim, não há nenhuma surpresa nesta estatística. Ele evidentemente ficou com a maioria. A outra parcela de 59% de religiosos que teve casos com homens e crianças... vai ver que é isso. Embora o padre negue e pense que homossexualismo "não é coisa de Deus". Claro que não, é coisa de viado.

Um cara que se considerava "malhado" antes de ser padre e era professor de Educação Física... tem lá grandes chances de ser o Guaxinim. Uma vez — declaração do próprio Guaxinim, digo, Pe. Marcelo — o dito cujo pegou uma carona com três amigos de faculdade e um deles acendeu um cigarro de maconha. Sabem o que aconteceu?  Padre Marcelo teve uma crise porque se considerou "fumante passivo". Sentiu-se péssimo e foi contar tudo para a mamãe logo que chegou em casa. Ui, ui, ui.

É fato: Guaxinim virou o Padre Marcelo, meu xará.

Ele rasga as cartas de amor que recebe. De homens e mulheres, diz que não é santo, mas que quer viver na santidade. Rasga as cartas de tesão, isto sim. A mesma coisa acontece quando ele vê cenas de sexo na tevê. Para mim, Guaxinim, ou melhor, Padre Marcelo, é o mesmo panaca de sempre. Além disso, viado enrustido e omisso. Isso é que é pior: omisso.

Hoje em dia, está interessado em  tomar remédios para evitar a queda de cabelos.Também tem o interesse (só pode ser vingança de panaca) de arrastar multidões para os cinemas e igrejas e se vestir bem. Ele acha importante um sacerdote se vestir bem.

Antes de qualquer coisa, quero reafirmar que não inventei uma linha sequer desta crônica. Foi tudo publicado na FSP no dia 16 de maio. Dou todos os créditos a Mônica Bergamo e à minha memória... da qual sou fiel e devedor — embora não seja fanático por ela. Também rezo o Pai Nosso toda santa manhã antes do holocausto de cada dia. Só me arrependo de uma coisa: de não ter dado mais porradas do Guaxinim. Sempre achei que ele não ia virar coisa boa.

Senão, vejamos:

Algo está ostensivamente fora do lugar e corrompido quando o Padre Marcelo se nega a usar um banheiro coletivo. Ele passa a ser tão obsceno, fétido e deslocado quanto a Igreja aeróbica que ajambrou. Materializa, de certa forma, a missa cômica evocada das profundezas das improbabilidades por Nelson Rodrigues. Aquela em que "os padres engolem espadas, os coroinhas plantam bananeiras e os santos equilibram laranjas no nariz como focas amestradas". O mais nefasto é que esse panaca metido a santo não só inventou a missa aeróbica como arrasta milhões atrás de suas parvoices. Alguém pode me dizer o que está acontecendo? Que diabo de Igreja é esta... ou que diabo de fiéis são esses que se deixam arrastar por um panaca do feitio do Guaxinim?

Tá tudo errado.

Nem Nelson Rodrigues podia imaginar, na sua mais delirante alucinação pornográfica e mórbida, que um dia o panaca do Guaxinim ia virar o Padre Marcelo. Só me resta pedir a Deus e rezar com muita fé para que o Papa tome uma providência e excomungue o Guaxinim da Igreja. Ou  pedir para que o mundo acabe de uma vez por todas. Amém.

 

(N.a.: esta crônica teve a publicação censurada pelo AOL Notícias)

 
 
Marcelo Mirisola, escritor. É autor dos livros "Bangalô", "O herói devolvido", "O azul do filho morto" e "Banquete". Escreve uma coluna no AOL Notícias.