Ouvindo Moon River

o céu destila
lua de crepom
veio prata
meia lágrima
fingida
de cristal japonês

 

 

 

 

 

Sílfide

Tramo o lume
travestido de toada
ver-te fado
luminância de faróis

 

 

 

 

 

Estrada Velha

carrinho de
rolimã tira
lasca da ladeira
uma dança em
ziguezague quase
queda à beira do
meio-fio cáries do
ar constelações de
estilhaços caminho
da boca do mar

 

 

 

 

 

Tegucigalpa

gomos de tangerina em Tegucigalpa guapas de roupas cítricas fosforescem as
calles noturnas iguanas se escondem no musgo do muro partituras rupestres
tingem as casas de amarelo

 

 

 

 

 

Atos

I

palhaços sem
cartas na manga
mascaram misérias
no sono dos risos


II

fim de cena
vespas de várzea
recolhem-se
atrás do espelho

 

 

 

 

 

Boqueirão

no canal
de águas
guardadas
foto do fa
rol gramas
de silêncio
rebento

 

 

 

 

 

Realejo

algo tátil
mambembe
letra gitana
cartografia
de desejos
num lance
de sorte

 

 

 

Mímico

letrado no gesto
milimetrado
esquece
polifonia da véspera
multidão de ruídos
sem sentido
ou salvação

 

 

 

 

 

*

 

não fui ao parque
eletrônico futurama
trem-fantasma de
papelão calendário
enferrujado dublagem
de abandonos moldura
de lona na arena
de areia rasgada

 

 

 

 

 

*

 

será de que sorte
o pano do mágico
caiado de estrelas

uma coleção de farsas
espie, disfarce
truque ou invento

atirador de facas
plásticas finca a
esfinge no castelo
de cartas

 

 

 

 

 

*

 

da sibila, acaso
jogo de conchas
de mareamar

areia úmida
de instantes:

tecido geométrico
da calçada em frente
ao aquário municipal

 

 

 

 

 

*

 

o
sol
solúvel
matiza
manhã

menina-dos-olhos
coleciona verões
nos tanques de areia

 

 

 

(imagens ©oloderay)

 

 

 

 

 

 

 

Diniz Gonçalves Júnior (São Paulo-SP). Poeta, tem poemas publicados em sites, jornais e revistas de literatura, como Suplemento Literário de Minas Gerais, O Casulo, Artéria 7, Artéria 8, Sígnica e Nóisgrande. Participou  da exposição internacional Cinquième Biennale Internationale de la Photographie et des Arts Visuels de Liège (Bélgica), núcleo de Net art/Web art, pela revista Artéria 8. Escreve o blogue Desmemória.