©guttemberg guarabyra
 
 
 
 


 

McJesus

Foi lançado recentemente um livro no qual um especialista em comunicação estuda Jesus Cristo sob o ângulo da propaganda e do marketing. O autor, em entrevista na televisão, apresenta as parábolas de Cristo como um grande exemplo de como o Mestre vendia bem seu peixe. As parábolas eram realmente especiais. Utilizava além disso, segundo a publicação, muitos outros truques, ou 'ferramentas' como se diz no jargão dos profissionais modernos. Ainda não li o livro, mas não acredito que o autor arrole entre as grandes proezas publicitárias de Jesus o episódio em que, seguido de grande multidão, passa por baixo de uma árvore, olha para cima e divisa o baixinho e até então desconhecido Zaqueu tentando apoiar-se nos galhos da arquibancada improvisada. O rico cobrador de impostos aboletara-se ali apenas porque, devido à baixa estatura, percebeu que aquela seria a única maneira de ver o Messias. Como prêmio, levou-o para jantar em sua casa pra lá de luxuosa, assim como a todos os discípulos. Comeram e beberam do bom e do melhor. Para quem não está vendo com bons olhos o fausto da ocasião, e antes que a oposição gritante comece a censurar a comitiva cristã, é bom lembrar que Jesus sabia a razão de estar ali. Zaqueu, apesar de cobrar impostos e receber excelente quinhão pelo trabalho que o tinha deixado riquíssimo, seguia estritamente os princípios do incipiente cristianismo. Tanto que, em dado momento, o Mestre, após interromper o jantar, lamber os lábios e limpar a barba num fino guardanapo de linho, dirigiu-se docemente ao anfitrião... E o convidou para ser um deles! Você recusaria um convite desses, apresentado pessoalmente por Jesus Cristo? Pois Zaqueu recusou. Na saída, tarde da noite, Jesus comentaria ter faltado muito pouco para que o baixinho aceitasse o chamado. Vai ver era supersticioso. Seria o 13º discípulo. O fato, porém é que o cristão milionário olhou à sua volta (não devia ter bebido muito), comparou a paisagem ao redor com o estresse e a fome dos futuros colegas, e elegantemente recusou o convite. Mas o que isso tem a ver com propaganda? Não faço a menor idéia, ainda mais levando-se em conta que o fato não se concretizou. Todavia, creio que Zaqueu passaria à história como um rico que quase chegou lá. Jesus, porém, e como sempre, não foi pego de surpresa (sabia de antemão até a hora da morte) e tinha plena ciência de que os ricos são assim mesmo. Aliás, é aí que deve residir a mensagem contida nessa história. Mas falando de propaganda e cristianismo pra valer, o único comentário que faço habitualmente diz respeito ao símbolo dos cristãos. O peixe.  Talvez tenha sido adotado porque Jesus, ao convocar Simão, o convidou para ser 'pescador de homens'. (Este aceitou o convite, tornou-se o primeiro apóstolo e Jesus deu-lhe o nome de Pedro — a pedra basilar da nova crença). No entanto, caso o símbolo tenha sido inspirado no milagre da multiplicação de pães e peixes, reclamo com veemência a presença do pão na logomarca. Se a Igreja resolver aceitar a correção, ainda que tardia, sugiro como novo símbolo a figura de um belo McFish. Peixe, pão e a filosofia da Igreja de hoje, tudo numa imagem só. Perfeito! Vai ser o anúncio do ano.

 

 

Dicionário do dia

Simbiose - Associação de duas plantas, ou de uma planta e um animal, ou de dois animais, na qual ambos os organismos recebem benefícios, ainda que em proporções diversas.

 

Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, desembarcou do PSDB e associou-se ao PT para compor a equipe econômica, ex de FHC, que continuava mantendo o mesmo programa, agora a serviço do governo Lula. Porém, chefiando o grupo, os quadros do PT forneceram Antonio Palocci — sobre quem FHC teceu mais ou menos o seguinte comentário: "Se soubesse que o PT tinha alguém pensando a economia desse jeito, eu mesmo o teria requisitado".

 

Tratava-se do primeiro passo rumo à grande experiência de simbiose jamais realizada na história deste país.

 

A experiência progrediu quando o Bolsa Escola e seus primos se metamorfosearam no Bolsa Família. O Fundef mudou apenas uma simples letra, e grafou Fundeb, para firmar a simbiose mais simples da série. O programa Luz no Campo (maior programa de eletrificação rural do mundo) transformou-se, num só golpe simbionte no melhor estilo petista, em Luz para Todos. Agora, só falta o PSDB apoiar a recriação da CPMF e Lula continuar privatizando para que a barba do presidente acabe dotando de cabelos a careca de José Serra, numa simbiose perfeita. Apresentando um fenômeno desses, o Brasil, que jamais obteve o prêmio, ano que vem terá condição absoluta de ganhar o Nobel de Ciência. Ou, no mínimo, o Oscar de melhor comédia.

 

 

Debater - Contestar, questionar: Debateu destemerosamente a ordem absurda. 

Os comentaristas políticos das TVs de fim de semana foram unânimes em afirmar que José Sarney está aproveitando para aparecer, ou 'marcar presença', como preferem dizer, ao criticar duramente a situação na Venezuela. Na terra de Chávez, a Constituição está sendo praticamente suspensa, e com ela a liberdade de imprensa, do judiciário e todas as outras que não sirvam aos interesses do Coronel. No Brasil, apenas um senador, com o peso de ter sido ex-presidente da república, levanta-se para denunciar. A imprensa diz que se trata de oportunismo. Chávez compra 34 aviões Sukhoi, cujo poder de ação é tão grande que, segundo os especialistas, apenas doze deles garantiriam a soberania do território brasileiro. A imprensa diz que se trata de oportunismo. Chávez discursou ameaçando a oposição de outro país, a Bolívia, cujo governo é sustentado com petrodólares, pasmem, bolivarianos. Se tentarem derrubar Evo Morales, promete Chávez, as forças armadas da Venezuela invadirão a Bolívia para impedir a queda do Lula de lá. A imprensa, sentada nos sofás macios das globonews da vida, diz que se trata de oportunismo. Enquanto isso, seus colegas das TVs venezuelanas, desempregados e ameaçados de prisão, se ouvissem o discurso solidário de Sarney, certamente fariam melhor uso dele do que simplesmente gastar o tempo do telespectador com preconceito barato. Ora, pouco importa quem levanta o debate. A nação precisa dele. Mas a imprensa das TVs de fim de semana, como já provaram Tereza Cruvinel e Franklin Martins, precisa apenas de bons sofás e ótimos ordenados. Debater, só se for numa boa Zeca-hora. De preferência, com Zeca do PT.

 

 

Eu era que nem o Pereira

Na selva escura, em plena madrugada, muito dificilmente alguém poderia pensar em fazer outra coisa que não fosse descansar e dormir. Ainda mais estando em segurança, tendo a tribo bem vigiada pelos sentinelas de plantão, etc. Isso, naquele tempo. Mas nos dias de hoje, de pouca selva e muita internet, às três da manhã a gente pode até pensar em ir a um restaurante, se quiser sair. Querendo ficar em casa, tem televisão e MSN. MSN é mais legal. Tem gente de verdade do outro lado e o outro lado pode ser qualquer lugar do mundo, como esse lado-você aí na Austrália. Como é o nome daquele bicho que tem aí, que põe ovos, embora seja mamífero? Tudo aí é estranho. Aqui, só o que tem de estranho é que estou ficando de um jeito que você precisava ver. Muito mal. Desde que você me ensinou como usar esse negócio, já fiquei totalmente fora de forma e pobre. Precisava ver o vírus que me levou o dinheiro. O banco diz que não devolve porque esse vírus não tem cara de vírus. Não entendi por que tenho de pagar o pato (o tal bicho daí não tem cara de pato?), por sinal caríssimo, se vírus é vírus e não precisa de cara. Estou deprimido. Levanto à noite só pra tomar cerveja e chatear, quer dizer, entrar no chat. Daí  — você precisava ver mesmo —, estou andando todo torto, dei um jeito de tanto ficar sentado. Só tem uma coisa que não posso contar, que é pra não ficar ainda mais abatido. E penso nessa coisa toda vez que recebo as fotos de como você está aí na Austrália. Cada dia mais bonita. A última fotografia me deu vontade de te tocar, de levantar seus cabelos, afastá-los lentamente de seu rosto e te beijar! Que saudade do seu olhar e de tudo, de tudo o que você pode dar. Em todos os sentidos. Do cheiro, do gosto, do tato, da voz. É muito triste pensar que, quanto mais você fica linda, mais eu te perco. Isso é que me deixa arrasado. Você precisava ver. Pois é. Você aí desse jeito e eu aqui todo torto. Ainda bem que as coisas devem começar a melhorar agora, quando acabar meu último dinheiro. O vírus comeu minha grana, mas, em compensação, antes que o álcool acabe com meu fígado, vai acabar a cerveja. Antes saúde que riqueza. Viu como estou ruim? Antigamente, eu era que nem o Pereira, lembra dele? Aquele que só pensava em dinheiro. Aquele trocaria saúde por riqueza, não tenho a menor dúvida. Só que ele custa a ficar doente e eu não. Agora mesmo, esse jeito nas costas parece que é coisa muito mais grave. Está começando a doer também o peito, as costelas, a barriga. Putz! Era isso que eu não podia falar. Você sempre detestou homem barrigudo, e estou ficando com uma barriga enorme e te perdendo a cada dia, hora, cerveja, MSN... Você precisava ver. Aliás, você NÃO precisava ver. Você está aí toda linda e eu aqui de um jeito que você, definitivamente, NÃO precisava ver.

 

 

Mural sem muro

Afundou, mas nunca chegou ao fundo. Parou no PSDB.

Ao passar a vida a limpo, escolha o melhor papel.

Noivou, casou, morreu... Difícil dizer em que ocasião foi mais feliz.

O programa Smiles continua dando descontos. Cada vez menos sorrisos!

Fidelidade é o programa de pontos que resolve sua vida.

 

 

Big brothers

O Brasil e os Estados Unidos são dizigóticos — gêmeos que nasceram de óvulos distintos e foram fecundados por diferentes espermatozóides. Não passam de irmãos de parto. Nem por isso deixam de possuir a misteriosa ligação imaterial que une os gêmeos. Apesar do caráter diverso, sempre cruzam as mesmas sinas. Escravizaram negros, lutaram na mesma Grande Guerra, conquistaram cada um seu próprio faroeste e abrigam população misturada de imigrantes. Mesmo divergindo nos meios — enquanto um se transformou num brigão, o outro derrubou o imperador e proclamou a República sem disparar nem sequer um tiro — convergem nos fins e hoje coabitam o mesmo lar republicano e democrático. No entanto, o mais fantástico desse cordão umbilical impalpável trata-se da ocorrência, de tempos em tempos, de almas gêmeas presidenciais e contemporâneas no comando dos países. Juscelino e Kennedy eram almas gêmeas. FHC e Clinton. E, atualmente, Bush e Lula. Estes, logo ao primeiro aperto de mão, reconheceram-se de imediato. Ao fitar o brasileiro, o olhar antiterror do americano só faltou representar o de um deus apaixonado, numa inequívoca prova de irmandade à primeira vista. Lula logo o chamaria de companheiro. A condição fraterníssima porém não impede que marchem separados, ainda que pelo mesmo caminho. Dessa forma, enquanto Bush vai sendo derrotado, Lula segue vitorioso. Bush elegeu-se prometendo vingar a pátria dando cabo do eixo maldito. Lula elegeu-se jurando guerra às privatizações. Bush tocou a bélica trombeta. Mas Lula surpreendeu. Sacou do fundo do peito um dó pianíssimo e acabou entoando um inesperado canto tucano. E, entre outras melodias, já começou a privatizar. Nada que assuste, no entanto. Os irmãos logo se encontrarão de novo na estrada (de nossa parte, provavelmente privatizada) e seguirão o gêmeo destino. Só ficarão surpresos ao descobrir que estavam andando para trás.

 

 

Alerta fantasma

Toda vez que o dólar cai a bolsa sobe, e vice-versa. Esta parece ser a única regra inflexível do mercado. No mais, não há serviço de previsão que acerte os rumos da economia. Todavia, melhor viver alarmado do que virar Bangladesh. Apesar de ser o maior amontoado demográfico do planeta, Bangladesh não faz parte. Não está inserido. Não havia recursos ou meios que alertassem da chegada do ciclone. Os pescadores ao largo, no mar, pegos de surpresa, navegaram para sempre. Milhares de fantasmas vagarão aos ventos e às ondas. Se a bolha americana ou européia ou russa ou chinesa ou brasileira estourar um dia, talvez alguém no mundo dos inseridos perca tudo, suicide-se e vá navegar com eles. Um luxo. Mesmo diante da tragédia mais funesta, o homo inclusus tem ao menos o direito de optar se quer ou não continuar vivendo.

 

 

SOS

Deus salve a América. Aconselha-se a quem for marine, atacar de ateu.

 

 

Rio de alto a baixo

Lá do alto, olhos grudados na janela do avião, a visão deslumbrante encanta. No salão de desembarque, segue esse clima de que o mundo, até que enfim, pode ser um lugar feliz. Saltitante, e pra sentir-me ainda mais leve, já que a bagagem demora a chegar à esteira, vai bem uma ida básica ao banheiro. Ao entrar, deparo-me com um funcionário estático e de braços cruzados. A cada passageiro que entra no recinto, emite um soturno: "Não tem água". E você cai na real. Este é o legítimo Rio de Janeiro. Nem três minutos tinham se passado desde o desembarque, e o verdadeiro Rio já começava a transparecer. Lá fora, o taxista, sem aviso ou consulta, opta por trafegar até o Leblon via centro da cidade, "cortando caminho" e privando-me do passeio pela orla. Tudo bem, estava mesmo saudoso do centro. Fui office-boy no pedaço e fazia tempo não o revia. A velha paisagem vai se desenrolando ao mesmo tempo decadente e saudável: — um meio-termo absolutamente estranho e indecifrável, feito de brisa do mar e rostos melancólicos. Revi com gosto alguns cenários antigos, mas ansiava por ver de novo o relógio da Central, no topo da estação de trens. Quando os enormes ponteiros, que cobrem cinco andares do prédio, surgiram ao longe, acometeu-me uma emoção adolescente que logo se transformaria em decepção ao perceber que se encontravam parados no tempo, marcando uma hora falida. De resto, o prédio outrora majestoso acompanhava a decadência. Assim, a cada esquina o Rio de verdade foi caindo na minha real. Já na Zona Sul, dois seguranças que teoricamente deveriam proteger a saída de um colégio, ignoravam solenemente o que ocorria com o bando de adolescentes e preocupavam-se apenas com os picolés, avidamente lambidos, que derretiam rápido demais, ameaçando macular os uniformes impecáveis, a duzentos metros do local onde, semana passada, originaram-se as manchetes sobre o italiano que morreu tragicamente durante um assalto.

 

 

Cidade Malavilhosa

Ainda assim, não desisti de procurar pelo encanto que me havia acenado na aterrissagem. Larguei a bagagem no hotel e segui prontamente para o bar predileto, onde uma garrafa de Black Label, já devidamente paga no ano passado, ainda me aguardava. Como tira-gosto, uma pequena porção de iscas de peixe. Como companhia, um bom livro. O uísque estava excelente e a comidinha apenas regular. Melhor continuar a leitura no hotel. Pedi a conta acrescida de um chopinho. Pra lá de mal-tirado, o chope confirmava o que já sabia. Faz anos não é servido um chope decente no Rio. Deixei de lado. Pela unidade do filé de peixe, partido em iscas, quarenta pratas. Porém, como Deus é brasileiro, a situação tende a melhorar em breve e a Cidade Maravilhosa voltará a ser o que era: — uma promessa lá do alto e uma certeza cá embaixo. A não ser que, além de brasileiro, o Homem lá em cima seja também carioca. Aí, só rezando pro diabo. Ou pedindo providências a São Paulo, que fica mais perto.

 

 

Campanha dirigida

Se vai dirigir, deixe o álcool para o carro.

Cada bêbado na direção acrescenta mais um cavalo ao veículo.

 

 

Chester voador

Vêm chegando o Natal e o Ano-novo. Novamente as famílias irão se reunir para cear e brigar. Por mais que as recomendações e os votos sejam de paz, assim que a terceira garrafa de espumante é esvaziada, as velhas rusgas nunca resolvidas ameaçam transformar, novamente, o apetitoso chester no bólide periódico que atravessa o espaço de noventa por cento das festas de congraçamento familiar nos fins de ano. Ainda não houve teoria capaz de explicar o fenômeno, mas dá pra evitar ser vítima das conseqüências dessas comemorações antagônicas e hostis. Fórmula número um: dê um perdido — como se diz no jargão policial, quando a patrulha desliga os sistemas de comunicação e, mais tarde, ressurge dizendo que a unidade deve ter entrado em área onde não havia sinal detectável. Desligue o celular e vá ao cinema. Fórmula número dois: passe rapidamente pela festa e diga que está ali apenas para dar um primeiro alô, vai fazer uma ligeira presença em outras duas festas só para cumprimentar o pessoal, e, claro, voltará correndo para terminar a noite em companhia da família querida. A partir daí, siga a fórmula número um. Fórmula número três: vá à reunião, mas mantenha-se sóbrio durante toda a noite, custe o que custar. Na hora do quebra-pau, você estará apto pra decidir se deve separar a briga, bater em retirada ou, quem sabe, descontar com lucidez e consciência, toda a vileza que aquele primo covarde lhe impôs na adolescência. Fórmula número quatro: comece a beber em casa e já chegue de porre. Pra eles, será impossível de esquecer. Pra você, impossível de lembrar.

 

 

Tutorial cívico

Na tela Dia da Agenda, pressione o navegador da esquerda para a direita a fim de mover-se para frente e para trás, um dia de cada vez. Para mover um evento para outro dia ou para outra hora, abra Opções e altere o dia ou a hora. Na tela Congresso Nacional, delete tudo. Vai economizar ética e memória.

 

 

História mal contada

Na entrega dos prêmios aos melhores do Brasileirão, assim que Lula surgiu no telão, em mensagem gravada, despontou também a vaia. A classe mídia não tocou no assunto. Mas a classe média não perdoa.

 

 

Hino recantado

Salvem o Corinthians / Da segunda divisão...

 

 

Palavras descruzadas

Reforma tributária – um monte de índios consertando uma aldeia.

Contenção de gastos – leia-se: com intenção de gastos.

Proposta orçamentária – papo de dentista.

Vitória da Oposição – mito brasileiro. Ex-rainha da Situação.

 

 

Tempo de verbo

O risco país está estável, o câmbio está cambiável, a política industrial totalmente industrializada, a ata do COPOM totalmente atada, as alíquotas cada vez mais líquidas, o real cada vez mais realizado, as bolsas cada vez mais embolsáveis, os índices cada vez mais indicados, o varejo cada vez mais varejado, os atacadistas cada vez mais atacados, os empregos cada vez mais empregados, a bolsa-família cada vez mais familiarizada, a arrecadação cada vez mais arrecadável, o privado cada vez mais privatizado, o particular cada vez mais particularizante e a saúde cada vez mais saudade.

 

 

Das reticências

Nem todo imposto é ruim. Na minha terra tinha uma cachaça com esse nome e ela descia bem à beça...

 

O Ibope foi tão grande que o bispo Macedo já está pensando em fazer uma oferta pela TV Senado...

 

No princípio era a Verba e a Verba estava com Lula e Lula pensava que era Deus...

 

Que país é este? Até Alice às vezes cai na real...

 

 

Meio poesia

Eu sou uma pálida lembrança de mim mesmo. Tela transparente, imaterial, espelho sem volta, rio volátil, espuma de nuvens, suor, trem perdido, bruma, orvalho. Um dia, abri os portões e revelei a aflita verdade, mas era tarde.

 

Havia uma escada em espiral que levava ao último andar do sonho. Nunca, porém, fui capaz de sonhá-la.

 

 

Confidência

Apesar do fim do imposto do cheque, o governo vai continuar gastando no cartão.

 

 

 

 

 

 

 

novembro/dezembro, 2007