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Unicamp sedia, entre os dias 5 e 8 de julho, o 15º Congresso
de Leitura (Cole), evento mais importante da área de educação
realizado no país. O congresso, que reunirá especialistas do Brasil e do
exterior, terá 15 seminários, conferências (confira a programação na
página 7), além da apresentação de 1,4 mil trabalhos. Serão debatidos
temas como educação de jovens e adultos; linguagens na educação
infantil; leitura e escrita em sociedades indígenas; mídia, educação e
leitura; letramento e alfabetização; práticas de leitura, gênero e
exclusão; e literatura infantil e juvenil, dentre
outros.
Paralelamente, ocorre no
Ginásio Multidisciplinar da Unicamp a 6ª Feira de Leitura e
Artes, que reunirá 50 expositores de livros, entre distribuidores e
editoras renomadas, e 10 estandes de artesanato. Haverá também
atividades culturais, entre as quais oficinas de gravura oferecidas por
professores do Departamento de Artes Plásticas do Instituto de Artes da
Unicamp. O Cole é organizado pela Associação de Leitura do Brasil (ALB),
Faculdade de Educação da Unicamp (FE), Pró-Reitoria de Extensão e
Assuntos Comunitários (Preac), Secretaria Municipal da Educação e
PUC-Campinas.
"O
tema leitura não passa somente pela transformação das pessoas, mas
também pela transformação social. Buscamos o acesso à leitura, aos bens
da cultura e aos lugares onde os objetos da cultura circulam, para
minimizar as desigualdades", afirma Norma Sandra de Almeida
Ferreira, uma das organizadoras do evento e diretora da Associação
de Leitura do Brasil (ALB).
Nesta
e nas duas próximas páginas, os escritores Bartolomeu Campos Queirós
e Marina Colasanti, respectivamente conferencistas da abertura e do
encerramento do Congresso, e Paulo Franchetti, escritor e
professor do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), falam sobre a
leitura no Brasil.
* *
*
Jornal da Unicamp
– Pesquisa nacional feita
com pessoas de 15 a 64 anos, pelo Instituto Ação Educativa/Ibope, aponta
que apenas 25% dos brasileiros têm "habilidades mais refinadas" para ler
um texto e compreendê-lo. Como enfrentar essa distorção?
Bartolomeu
Campos Queirós - Desconheço
o tipo de texto usado pela pesquisa Ação Educativa/Ibope. Num texto
didático ou informativo existe uma possibilidade de avaliação mais
objetiva. É que todos leitores devem chegar a um mesmo nível de
entendimento. Ele é um texto convergente. Se o texto é literário, ele
busca a divergência. Cada leitor tem uma possibilidade de participação.
A literatura permite vários entendimentos e acolhe a todos. É um texto
aberto. Ele abre portas mas o leitor inscreve a sua
paisagem.
Marina
Colasanti –
Bem antes dos 15 anos, com certeza — hoje sabemos,
cientificamente, que aos 2 anos de idade o ser humano atinge o seu
potencial máximo de aprendizado — e através da leitura. Não apenas
leitura como ferramenta rudimentar destinada mais a arrancar o indivíduo
das estatísticas de analfabetismo do que a fazer dele um cidadão
capacitado. Mas leitura como formadora no sentido mais
amplo, leitura que não se limita a qualquer texto informativo,
leitura que se exerce na literatura.
Evidentemente, isso incide na formação dos
professores, na orientação do ensino, e no próprio conceito de função da
escola. Mas tem a ver também com a precariedade e insuficiência
das bibliotecas públicas e escolares, a dificuldade de acesso ao
livro, a falta de valor que o país como um todo e os governantes
em particular atribuem à leitura.
Paulo
Franchetti –
Não sei exatamente o que significam essas "habilidades mais refinadas",
de modo que é difícil falar sobre o que poderia representar esse
percentual. E é também preciso entender que "texto" é uma palavra que
recobre uma enorme extensão. Uma sentença judicial é um texto; uma
notícia esportiva também é um texto; e, claro, um romance ou um poema,
também. Por certo, muito mais gente conseguirá ler "refinadamente" uma
notícia esportiva, pelo interesse que desperta e por o leitor saber do
que se trata e ter informação prévia, do que um texto de crônica ou uma
reportagem sobre a situação da economia mundial.
A leitura não se faz no vácuo. Ela é um dos
indicadores da qualidade de vida. Assim, considerando as condições do
ensino e, principalmente, as condições de vida da enorme maioria da
população brasileira, se é verdade que 25% dos brasileiros têm
habilidades mais refinadas de leitura, estamos diante de um fato a ser
comemorado, pois terá de ser bastante maior a porcentagem dos que teriam
habilidades razoáveis de leitura...
JU
– Apesar disso, o mercado
editorial nacional experimenta um crescimento sem precedentes: o país
ocupa hoje o oitavo lugar em produção de livros no ranking mundial, o
que não significa, de acordo com especialistas, que o brasileiro está
lendo mais. Como explicar esse paradoxo?
Bartolomeu
Campos Queirós - Quero
sempre acreditar que o brasileiro está lendo mais. Os processos
educacionais têm reconhecido a importância da literatura na formação do
aluno para a construção de uma sociedade melhor. Daí o aumento das
bibliotecas escolares e dos vários movimentos de divulgação da leitura.
A excelência das bienais e feiras de Livros, a extensão dos seminários
do Proler, o trabalho constante da Fundação Nacional do Livro Infantil e
Juvenil, os esforços do Fome de Livro e a existência do Cole, indicam a
preocupação dos vários segmentos com a formação do leitor. É preciso
reconhecer que a escola não é a única responsável pelo trabalho de
leitura. Toda a comunidade deve estar envolvida.
Marina
Colasanti –
Poderíamos dizer que o brasileiro está lendo pior. Ou seja, está lendo
um número considerável de livros absolutamente lineares, de texto
elementar, ao alcance de qualquer pessoa minimamente letrada. Mas para
afirmar isso necessitaríamos de dados, precisaríamos saber
exatamente a qualidade do que se edita e quanto se consome de cada
faixa.
Sem
dúvida, porém, podemos afirmar que boa parte do crescimento se deve às
compras governamentais executadas para distribuição gratuita nas
escolas. Além das compra costumeiras, tivemos nos últimos anos o
programa "Um Livro Em Sua Casa" —
acho que o nome é esse —, dando coleções de cinco livrinhos de
presente para as crianças, e criando demanda para a publicação de
muitos milhões de livros.
Paulo
Franchetti –
Eu não concordo com a afirmação de que o brasileiro não leia mais hoje.
De novo, parece-me uma questão de ponto de vista. O brasileiro de hoje
não lê mais do que o brasileiro de há 100 anos? Há 120 anos, o Brasil
era uma nação escravista. Quem são os brasileiros que entram nas
estatísticas? Talvez seja possível dizer que a classe média alta e a
classe alta de hoje leiam menos do que há 50 anos. Ou que a média de
leitura das pessoas alfabetizadas caiu nos últimos 20 anos. Mas a
leitura hoje me parece muito mais difundida do que sempre foi neste
país: o mercado do livro espírita, por exemplo, alimenta milhões de
leitores neste país; também o mercado de livros de auto-ajuda. A
produção de revistas nunca foi tão grande. E nunca houve, no país, um
mercado tão florescente de livros técnicos e didáticos, nem a educação
de nível superior, de boa ou má qualidade, esteve ao alcance ou foi
exigida de parcelas tão expressivas da população. De modo que não vejo
nenhum paradoxo.
Não tenho acompanhado a discussão especializada, mas
do pouco que vejo, creio que os dados são trabalhados com muitos
implícitos que dificultam o raciocínio. Sequer entendo a pergunta: o
brasileiro está lendo mais? Só é possível responder acrescentando o
objeto do verbo: o brasileiro está lendo mais romances? O brasileiro
está lendo mais livros didáticos? O brasileiro está lendo mais livros,
em geral, independente do escopo? Mais jornal, mais revistas semanais?
Sem essa precisão, é difícil saber sobre o que estamos
falando.
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"Somos sempre
levados a acreditar que a fantasia é um exercício
menor"
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JU
– Desde a década de 90 o
governo tem investido forte na compra de livros para as escolas. Em
paralelo há muitas críticas sobre as escolhas de leitura nas escolas,
afastando o público infanto-juvenil dos livros. Que realidade, afinal,
nós vivemos?
Bartolomeu
Campos Queirós
– É bem verdade que o governo tem, nos últimos anos, incentivado os
programas de leitura nas escolas. Mas a escolha dos livros deve ser do
aluno. Dificuldades econômicas associadas à formação dos professores vêm
impedindo tal ação. É que parte dos professores, por tantos motivos, não
é leitora. É impossível saber o que interessa a cada criança, daí a
necessidade da escolha ser feita pela criança. Mesmo como escritor devo
reconhecer que jamais recebi autorização das crianças para escrever em
nome delas ou para elas. Tudo é uma aventura. Por ser assim, a
biblioteca é indispensável por guardar diferentes tipos de
produção.
Marina
Colasanti
– As duas. De fato, o governo vem investindo muito na compra de livros.
Mas não investe com igual intensidade na formação de professores ou na
sua reciclagem. Os livros podem ser bem escolhidos, e ainda assim muitos
professores não estarão aptos a realizar com eles um bom trabalho.
Além disso, não podemos esquecer as escolas particulares, que em
muitos casos tampouco realizam um bom trabalho de leitura. A
escolha do livro é importante, mas não é o grande vilão. O grande vilão
é o professor despreparado, o professor que não é leitor, que não
ama a leitura e que não pode transmitir aquilo que não sente.
Paulo
Franchetti
– Creio que a compra de livros para escolas é um passo importante. Mas é
apenas um primeiro passo. Não é possível esperar que a simples compra
dos livros, independentemente de eles serem bem ou mal escolhidos,
resolva o problema do acesso à leitura e da formação do hábito da
leitura. As condições objetivas das escolas contam muito. O local de
conservação dos livros, as formas de acesso, manuseio, empréstimo. E,
por último, há o fator principal, que usualmente fica fora dos
diagnósticos dos problemas de leitura: a educação dos professores e as
suas condições de trabalho e vida. Um professor de leitura tem de ser
alguém que lê. Alguém que tem livros para ler e que tem tempo para os
ler. E alguém para quem a leitura seja algo importante, e não apenas uma
tarefa pedagógica.
Nós vivemos numa realidade na qual o investimento nas
pessoas, nos profissionais do ensino, é secundário. Numa realidade na
qual se acredita que é mais fácil resolver o problema da leitura com
compra de livros do que com investimento na formação e na qualidade de
vida cultural dos professores encarregados de ensinar o prazer e a
utilidade da leitura.
JU
– Com o surgimento da
internet, ou seja, da junção de imagem e texto, tem-se a impressão que
os jovens estão voltando a ler e a escrever. Se isso é verdade, não
estaríamos diante de uma revolução da leitura e, mais extensamente, da
cultura literária entre os jovens?
Bartolomeu
Campos Queirós
– Há uma crescente busca de informação. É um direito de todo sujeito
saber de suas antecedências. A internet tem sido um lugar de referência
e temos que concordar que outros avanços ainda teremos. A construção de
"sites" busca uma estética capaz de seduzir a todos, também pelos seus
mistérios. E conhecimento gera conhecimento. Podemos afirmar que, quanto
mais conhecemos, menos sabemos. O sujeito desde sua origem foi um grande
construtor. Cada dia mais nos inteiramos que são vários os caminhos da
leitura. Se a internet avança, também o consumo do livro aumenta. São
muitas as leituras. Atrás de um bom filme existe um roteiro, de um
teatro existe um texto, de uma novela existe um argumento. Sempre
seremos leitores.
Marina
Colasanti
– Leitura é uma coisa, e cultura literária é outra, bem diferente. Na
internet os jovens escrevem de uma forma muito mais pictográfica e
telegráfica do que quando se escreve no papel. Estão forjando uma outra
forma de escrever, muito gráfica, visual, e é possível que a
pós-modernidade a considere uma nova forma literária. Mas é
um conceito discutível.
Quanto a ler, não creio que ninguém faça leituras
extensas e densas na internet, embora perdendo horas em leituras
fragmentadas, eventualmente de pouca ou nenhuma utilidade. Ninguém lê
"Grande Sertão e Veredas" no computador.
Paulo
Franchetti
– Penso que a questão não é a junção de imagem e texto. A internet
permite que a leitura e a escrita tenham interesse imediato, tenham
função na vida cotidiana. Não que a leitura de livros ou jornais ou
revistas não tenha. Mas o interesse da internet é que ela permite
respostas imediatas às ações. Alguém que está em busca de informação
sobre um assunto é rapidamente conduzido a outros, de acordo com o seu
interesse momentâneo. E a leitura se faz de forma fragmentária, não
seqüencial, não obrigatória, mas ao sabor do interesse. Interesse é a
palavra-chave, na minha opinião.
E quanto a escrever, a internet faz de cada um de nós
um sujeito da escrita: podemos escrever comentários nos blogs dos
outros, postar poemas numa lista de discussão, debater publicamente
qualquer assunto que nos interesse, das preferências sexuais à
conservação das locomotivas antigas, criar uma homepage com nossos
contos ou artigos.
Mas é preciso ver que é ainda pequeno o acesso à
internet, de modo que a pergunta pressupõe uma determinação de classe
que não deve ser ocultada: trata-se de jovens de classe média e alta. O
que, neste país, é ainda uma parcela muito pequena da
população.
JU
– Fenômenos como o
surgimento e a rápida proliferação dos blogs, a internet acaba por
forjar uma espécie de "dialeto" entre os jovens. Isto é positivo ou
negativo?
Bartolomeu
Campos Queirós
– A escrita é dinâmica como o mundo. Se participo na internet de uma
sala, sei que não estou construindo literatura. São muitos os estilos de
comunicação. Mas tanto na internet como na literatura existe um
rompimento com o cotidiano da linguagem. Não sei se chamaria esse
fenômeno de "dialeto". Se assim for, penso que um dia Guimarães Rosa vai
ser um dialeto para aqueles que estão chegando à vida. Não quero ser
nostálgico. Todo mecanismo que nos ajuda a ser mais sensíveis diante do
mundo e de nossa própria humanidade é válido. Só pela sensibilidade
teremos um mundo mais ético.
Marina
Colasanti
– Nem uma coisa, nem outra. É um fenômeno lingüístico e social que ainda
está sendo estudado.
Paulo
Franchetti
– O blog, enquanto diário e lugar de colagem de textos que o autor
escolheu para transcrever e/ou comentar, é diferente, como atitude e
prática de linguagem, de outros meios de comunicação escrita na
internet, como os chats e os programas de comunicação interativa. Não
acho que seja negativo nem positivo o fato de se criar um "dialeto" nos
blogs. Mas acho que é positivo o fato de, para um número cada vez maior
de pessoas, a linguagem escrita ser algo com que se sentem à vontade.
JU
– Ao longo da história,
grandes movimentos da arte e da cultura sempre vieram na esteira das
transformações da sociedade e de seus modos de produção e de
comunicação. A internet é essencialmente um fator de mudança do campo da
informação e da própria cultura, afetando também os modos de produção.
Por que as artes ainda não reagiram? Ou essa reação existe e ainda não é
tão visível?
Bartolomeu
Campos Queirós
– É que a sociedade está voltada para o consumo. Não nos foi possível
descobrir e vivenciar, com intensidade, que todo real é uma fantasia que
ganhou corpo. Só pela fantasia acrescentamos. Somos sempre levados a
acreditar que a fantasia é um exercício menor. Parece-me que estamos
mais preocupados com a qualidade dos preços do que com a qualidade dos
valores. Por muito tempo fomos induzidos à crença de que consumir é mais
prazeroso que criar. Mas percebo reações e justifico, em parte, a
violência, como uma resposta. Por outro lado, muitos artistas,
principalmente em artes visuais, têm feito das tecnologias seus
instrumentos de expressão.
Marina
Colasanti
– As artes já reagiram. Reagiram incorporando desde o início os
meios televisivos. O cinema se apossou deles de modo muito
evidente e constante, as artes visuais jogam com eles o tempo todo,
a poesia os utiliza e se veicula através deles, já os vi
incorporados na dança e tenho certeza de que penetraram na música. Mas
já são para nós tão familiares, tão corriqueiros, que muitas vezes os
vemos incorporados em uma instalação ou em uma cenografia, sem
registrarmos diretamente sua presença.
Paulo
Franchetti
– Quando falamos de cultura, eu creio que estamos falando de artes e
ciências. Assim, não compreendo o que quer dizer a afirmação de que os
grandes movimentos culturais venham na esteira das transformações da
sociedade. A cultura produz transformações, é parte do processo de
transformação da sociedade. Não é possível compreender a escola hoje,
isto é, a escola dos que têm acesso a computador, sem a internet. Não se
faz mais pesquisa sem internet, seja por conta das facilidades da web,
seja por conta das trocas de informações e arquivos por e-mail. O modo
de escrever já mudou com o computador pessoal. E continua a
mudar.
JU
– Que impacto a internet
terá na produção e na difusão do livro? São instrumentos complementares
ou excludentes entre si?
Bartolomeu
Campos Queirós
– Vejo que tanto a internet como o livro são instrumentos complementares
embora exigindo maneiras diversas de participações. Ambos abrem
caminhos. Eu me lembro que ao surgir o vídeo muitos diziam que os
cinemas seriam fechados. Nunca tivemos tantas salas como agora e com
tanta freqüência. É necessário confirmar que o sujeito é que dá sentido
às coisas. E como é bom descobrir que por meio dos sentidos somos além
de nós.
Marina
Colasanti
– Complementares. Durante alguns anos se disse e se temeu que a internet
acabasse com o livro. O assunto foi discutido em todas as grandes
feiras de livros, em seminários e em simpósios, nas editoras e nas
universidades. Mas enquanto discutíamos, verificou-se progressivamente
que isso não ia acontecer. Hoje, todos sabemos que nem a internet nem o
e-book acabarão com o livro. Aliás, não era essa sua
intenção.
Paulo
Franchetti
– É difícil prever. O acesso à informação na internet deverá ainda
sofrer muitas alterações. Basta pensar no que houve com os jornais
impressos. Num primeiro momento, todos foram para a web. O acesso era
gratuito e geral. Parecia que seria o fim do jornal pago, que os
anúncios na internet sustentariam o custo. Logo se viu que não era
assim. Hoje, os grandes jornais vendem assinaturas eletrônicas e
oferecem acesso eletrônico apenas aos assinantes do papel ou de um
portal coligado. É difícil saber como será o futuro do livro na
internet. Hoje a internet tem, sobre o livro impresso, duas vantagens: a
acessibilidade imediata do que está digitalizado e o custo nulo ou
irrisório. Se o custo subir, as vantagens do livro (manuseabilidade,
portabilidade ilimitada, durabilidade e disponibilidade da informação,
independente de equipamentos, energia elétrica ou encerramento de
homepages) voltarão a pesar muito.
Quando à difusão do livro, a internet já tem um papel
fundamental. Num país enorme e sem livrarias, como o Brasil, a
possibilidade de adquirir, de qualquer lugar, qualquer livro disponível
no mercado por meio do comércio eletrônico é algo de extrema
importância.
JU
– Apesar da queda dos
níveis de renda da população desde a década de 90, o número de editoras
cresceu exponencialmente no Brasil, nos últimos anos. Como se explica
isso? Isso significa um aumento do número de leitores? As perspectivas
são portanto boas?
Bartolomeu
Campos Queirós
– Claro, também a partir de sua confirmação, que existe um número maior
de leitores. Se vivemos em um lugar capitalista, as editoras não estão
estocando seus produtos. Não há como desconhecer a necessidade da
literatura. Se feita de fantasia, ela alimenta a fantasia daquele que
lê. O que existe de mais profundo em nós é a fantasia. E na leitura a
fantasia do escritor se soma à fantasia do leitor. Portanto não existe
diálogo mais íntimo. Depois de ler um bom livro, jamais deixaremos de
ler outro e mais outro.
Marina
Colasanti
– Quem deve dar o número preciso de leitores, seu eventual aumento
em relação à população e à renda, não sou eu. É o mercado livreiro.
Aliás, essa é uma pergunta toda ela para editores. O que sabemos é que
as editoras estão aumentando o número de títulos mas diminuindo as
tiragens. E sabemos também que a renda não aumenta, mas a população
sim. E que vêm surgindo pequenas editoras nos estados, não mais
dispostos a viver só dos livros fornecidos pelo grande eixo leitor.
E que têm tido êxito editoras setoriais, ou seja, dedicadas apenas a um
determinado tipo de livros, como os de auto-ajuda, de espiritismo, de
ecologia ou culinária. Talvez isso tudo responda à sua pergunta.
Paulo
Franchetti
– Creio que o número de editoras cresceu não só porque o número de
leitores efetivamente aumentou, mas principalmente porque o custo de
criar e manter uma editora diminuiu imensamente, por causa da
informatização.
Hoje,
uma editora pode ser criada e mantida com pouco investimento em
equipamentos e recursos humanos. Do ponto de vista da produção, a rigor,
só são necessárias duas pessoas: um editor para escolher os livros e um
funcionário para contratar os trabalhos terceirizados. E com o progresso
da impressão sob demanda, sequer se faz necessário um grande espaço de
armazenamento, até a editora se consolidar, descobrir a sua fatia de
mercado e possuir um catálogo razoável.
Confira
a programação
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Telefone:
(19) 3289-4166
(Este
texto foi publicado originalmente no
Jornal da Unicamp)
Bartolomeu
Campos Queirós é
escritor. Mais aqui.
Marina
Colasanti é escritora e jornalista.
Paulo
Franchetti
é escritor e
professor de literatura na Unicamp. Mais
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