1965
rabisquei
poemas
e insultos
nos muros
quem dera

meus olhos
de menino

tão verdes
tão puros

nas mãos
fechadas

butiás maduros

aos predadores
.................da utopia

dentro de mim
morreram muitos tigres

os que ficaram
no entanto
são livres

 

ploft

escrever poesia
algumas vezes
é como jogar
pedra em açude

as ondas se formam
e a gente conclui
que aquilo não é
poesia

é física

erótica


tua retórica
um antro
de palavras

tua linguagem
antropofagia
louca

tua vagina
algema casual
da minha boca

chuva


os encantos da água
versejam na calçada
e correm sem ruídos
      pela sarjeta

      lá vai
      meu poema
      mais novo

candura


preciso morrer
de morte natural
pra que ninguém
possa supor
      de que bem
é feito o meu mal
o galo


o silêncio
com suas equações
............de estrelas
.......abre os portais
.......da madrugada

sob os olhos atentos
............do infinito
um quarto de lua
empresta a partitura
.......ao galo

Lau Siqueira nasceu em Jaguarão, fronteira leste do Rio Grande do Sul, em 21 de março de 1957. Escreve poemas desde a adolescência. Publicou os livros O Comício das Veias (Paraíba: Editora Idéia, 1993), O Guardador de Sorrisos (Paraíba: Editora Trema, 1998), Sem Meias Palavras (Paraíba: Editora Idéia, 2002), Texto Sentido (Recife: Bagaço, 2007) e Poesia sem Pele (Porto Alegre: Casa Verde, 2011). Foi publicado em várias edições do Livro da Tribo (São Paulo: Editora Tribo) e teve poemas incluídos na antologia Na Virada do Século — Poesia de Invenção no Brasil (São Paulo: Editora Landy, 2002), organizada pelos poetas Frederico Barbosa e Cláudio Daniel. Participou da antologia Moradas de Orfeu, organizada por Marco Vasques (Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2011). Reside atualmente em João Pessoa, na Paraíba. Assina uma coluna no Jornal da Paraíba e escreve o Poesia Sim.

 

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