cinza
branco
Não consigo enxergar no papel
a tela mágica de outrora.

O imaculado branco da folha
nada mais contém,
além da própria forma morta.

A palavra secou
na ponta da caneta,
sem explicações.
Para Carlos, o gauche

O meu melhor verso
jamais escrevi ou imaginei.
Perdeu-se no tempo,
no vão amargo da memória,
no caminho das horas fugidas,
puro sentimento,
chamado saudade
.
chove na fazenda
luz em fresta da janela
brilha a mulher
bosque de araucárias
sobre as enormes copas
brilha a alva lua
púbis (s)em pêlos
montanha de vênus
o prazer por detrás
Luís Thomé: sou advogado militante. Casado, três filhos, nasci, vivo e morrerei no Ipiranga, São Paulo, bairro de tradição libertária que não passa de uma província pacata, lugar absolutamente incomparável e mágico. Mas amo demais meus Campos, que não são mais só do Jordão... Araucárias e montanhas marcam meu coração planaltino. Fui membro da Academia de Letras da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, onde ocupei a cadeira Guilherme de Almeida (1979-1981). Não tenho nada publicado. Gosto muito do verso livre, a rima me constrange. Ultimamente, devotei-me ao estudo do Hai-ku e dos poemas curtos. Leio tudo que posso e me chama a atenção. Mas, companheiros de viagem mesmo são Pessoa, Bandeira, Rilke, Carlos Drummond de Andrade, Mário de Andrade, Guimarães Rosa, Carlos Heitor Cony, Maiakóvski, Gore Vidal, Castro Alves, dentre outros inumeráveis. É isso. Parafraseando-me: "Envelheço. / Sem grande dignidade".
etéreo

no cemitério
por entre as campas
saudade de filho
acolhida
na essência da palavra
a ternura da vida

(03/09/02)

Homem feito que sou,
depois de tanto experimentar e sofrer,
queria mesmo voltar ao verso simples,
descomprometido,
palavras de menino,
sentimento ao vento,
rústico e puro,
desligado do mundo,
das pessoas e coisas.
Bom mesmo é correr
pelos campos da infância
sem nada pensar ou sentir.
 
(22/12/2008)
Por onde andará o velho Rosa?
Me alembrei de seus contos, seu poemas, sua escrita,
suas andanças pelo sertão,
o trato rude com sua gente forte, destemida,
sua língua tão própria, especial...
tangeu boi, enrolou fumo da palha,
sentou no chão ressequido e agreste,
botou fogueira, comeu da panela,
dormiu debaixo das estrelas das Minas sem fim,
atravessou o rio cortando suas margens,
registrou tudo em caderno, fez e refez,
palavra por palavra, como música.
 
...
 
Deve vagar pela encruza, protegendo boiadeiro,
abrindo caminhos, estradas, veredas.
S'embora pra outra banda,
pois saudade de quem não se conheceu
também dói...
 
(02/07/2008)
no curso da gira
atuam os guias
som, luz e movimento

(14/11/03)

tributo a manuel bandeira

Bandeira de minha pátria imaginária
Bandeira de letras e palavras dissolutas
Bandeira de Irene, de Glória, de Ovalle e do beco
Bandeira de minha adolescência, juventude e maturidade
Bandeira que declamei com meus pulmões e coração
Bandeira que levo no peito quando vou ao cemitério e rezo pelo filho de meu pai
Bandeira de gerações côncavas e convexas
Bandeira do Trem de Ferro e café com pão
Bandeira que jamais foi contraparente da nora de meu avô
Bandeira desfraldada de minha língua
Bandeira que me afagou nos amores perdidos
Bandeira a quem louvo como Pai, filho e espírito santo
Bandeira que será sempre libertação! 

(19/01/2012)