©jonathan nourok
                                        
 
 
 
 
 
 
 
 

Em Partes Humanas (CASTEL-BLOOM, Orly; tradução Viviane Gouveia. Rio de Janeiro: Imago Editora, 2003), a autora Orly Castel-Bloom utiliza-se do gênero narrativo, uma literatura de ficção. É uma narrativa longa, que envolve um número considerável de personagens e de conflitos, em um tempo e espaço delimitados e uma temática psicológica. Uma visão do homem e da realidade, uma tentativa de redefinir a situação desse homem como indivíduo, que se revela na estrutura da narrativa e não somente na temática escolhida pela autora: a precariedade da posição do mundo moderno.

Os elementos da narrativa estão muito bem associados, os fatos que compõem a história são vivenciados por personagens em um determinado tempo e lugar. Utiliza-se de uma grande habilidade para combinar e unir elementos heterogêneos. São elaborados centros de interesses diferentes para conduzir intrigas paralelas.

De uma forma magistral, a autora ilustra os principais problemas da Israel atual, através de um narrador que organiza todos os elementos que compõem a narrativa.

Como se fossem quadros separados, o mundo de cada personagem é reduzido a estruturas geométricas em equilíbrio, como a tela de uma televisão que, por sua vez, absorve esses personagens, dos quais as histórias são conduzidas com a finalidade de se atingir o ponto culminante, dando os desfechos individualizados dentro do enredo, perfeitamente previsíveis no decorrer da narrativa.

        Em alguns momentos, podemos perceber a influência de outro tipo de narrativa, a novela, que se caracteriza por conclusões inesperadas. A ação dá um destaque à conclusão, como é o caso da personagem Liat Dubnov que, apesar de ser uma pessoa saudável, tem um final imprevisto com sua morte em um leito de hospital.

 

(...) Dubnov sentia-se uma paciente secundária ao se comparar com as vítimas de ataques terroristas (...)

 

A lógica interna do enredo está em torno do que é real para a sociedade israelense, com causas e conseqüências verificáveis nas relações entre os personagens.

O enredo não se compõe apenas de um conflito, mas de vários que se entrecruzam de uma maneira bem sutil, demonstrando as relações sociais, ainda que praticamente deterioradas.

Podemos pensar em um conflito que seja o elemento estruturador, a situação atual de Israel, quando, após anos de seca, um inverno rigoroso assola todo o Oriente Médio. A experiência de personalidades humanas, da precariedade da sua situação num mundo caótico em rápida transformação, desestruturado por guerras, movimentos coletivos, progressos tecnológicos que, apesar de ter uma origem puramente humana, passam a ameaçar e a dominar o homem.

Conflitos criados por personagens, sejam eles morais, econômicos, psicológicos, vão pontuando cuidadosamente a sociedade israelense. Conflitos revelados nas histórias de cada um dos personagens, com suas dificuldades, anseios, medos, problemas cotidianos. Uma realidade típica de um Estado em crise em todos os âmbitos — políticos, econômicos e sociais.

Por intermédio dos personagens desenvolvem-se os conflitos individualizados da narrativa. E em cada conflito há um momento de maior tensão que é uma referência para outras partes deste enredo, e que existem em função dele. Para cada conflito, haverá um desfecho coerente com aquilo que cada personagem desencadeia diante dos fatos e das expectativas de sua vida.

Assim, há o conflito econômico, vivenciado pela família Beit-Halahmi,  que eclode quando um canal de televisão invade a privacidade da família para expor ao telespectador a sua condição social.

 

(...) uma comovente história humana de dificuldades, relativamente leve em comparação à dor e à miséria causada pelo terrorismo (...)

 

A partir daí o conflito se desenvolve: Kati Beit-Halahmi, com o desejo de sair da situação de pobreza em que se encontra a família, e seu marido Boaz Beit-Halahmi, com a situação de desemprego em que se acomodara.

Em um momento seguinte,  processa-se o conflito de Adir Bérgson, um conflito psicológico, com movimentos interiores, fatos emocionais que envolvem a sua irmã Liat Dubnov, a sua namorada Tasaro Tasama e a sua ex-namorada Íris Ventura. Cada qual com suas próprias angústias, que dão vida e movimento ao enredo.

 

(...) E quanto mais ele secava, depois de parar o tratamento anterior e começar com um novo remédio que alguém havia descoberto, mais dependente ficava de sua namorada, Tasaro. Ligava para ela a cada meia hora, para saber onde estava e com quem (...)

 

Há momentos em que as histórias se cruzam por meio de coincidências — como no encontro, na rua, de Íris Ventura e Kati Beit-Halahmi, ou o fato de Kati estar tendo aulas de maquiagem com Angélica Gomeh, inquilina de Liat e Adir, há vários anos.

Não podemos desvincular o enredo dos personagens, pois são eles que dão vida, significado e valores às idéias centrais da obra. Os personagens de Partes Humanas são fictícios, mas apresentam características de um sentimento verdadeiro com a necessidade de elementos que dão ao leitor a possibilidade de identificação, tais como características físicas, psicológicas, sociais, ideológicas e morais, que permitem formar uma idéia convincente da interpretação desses personagens e que os torne complexos tal qual os traços que identificamos nos seres humanos. Para os personagens estes traços são limitados, mas nos dão a impressão de que os conhecemos em toda a sua natureza. Isto se deve à capacidade da autora de escolher elementos que se organizam de uma forma coerente e lógica. Os personagens dão a impressão de que vivem, que são como seres humanos. Mantêm relações com o que percebemos da realidade de nosso mundo. Os personagens são, então, caracterizados pelas opiniões emitidas pelo narrador ou por outros personagens.

 

(...) Liat Dubnov, uma bela morena de olhos azul-escuro, solteira por princípio, 39 anos, uma das vítimas da gripe saudita, diplomada em aramaicobíblico e com mestrado em idiomas semitas, colecionadora fanática de calendários hebreus fabricados desde a invenção da imprensa, estava deitada em um bom lugar perto da janela na enfermaria de medicação intravenosa B e ouvia as sirenes das ambulâncias chegando ao hospital (...)

 

(...) Ventura compreendeu que Tasaro, ao contrário dela mesma, era uma deusa exótica, e não tinha mais nenhuma sombra de esperança de que Adir fosse abandonar a namorada e voltar para ela (...)

 

Conclui-se, então, que os personagens estão obedecendo à lógica e ao objetivo principal da obra, já citados acima; as experiências de vida de indivíduos que têm como pano de fundo o caos vigente na sociedade israelense da atualidade e a idéia de que os meios de comunicação são um elemento de massificação de uma cultura, que antes dava valor às suas tradições e hoje inverte o sentido do retorno à terra de Israel pelo materialismo e pelo ódio racial.

Utilizando-se de parâmetros analíticos, podemos classificar todos os personagens já citados como protagonistas de seus conflitos individualizados, personagens complexos, que são acompanhados por personagens secundários, menos importantes para o enredo, mas que dão apoio aos protagonistas, no enredo. Podemos citar aqui Adi, Topaz, Moshe e Aaron, filhos de Kati e Boaz, Shaul Takidim, amante de Liat, Levana Kosta, mãe de Liat e Adir, Osher, Oz e Herut, filhos de Íris, Othiniel Grossman, ex-marido de Íris, Angélica Gomeh, entre outros.

A obra é dividida em três partes definidas por seus objetivos. A primeira parte é, além da apresentação do enredo central, também a apresentação dos vários protagonistas.

A segunda parte desenvolve os conflitos dos personagens quando todos os elementos da obra estão afinados entre si, de maneira a expor com maiores detalhes as características físicas, psicológicas, sociais, ideológicas e morais.

Por último, a terceira parte da obra é o desfecho dos conflitos com soluções que se configuram a partir do pano de fundo da obra, problematizado no enredo central.

Kati Beit-Halahmi é a personagem na qual identificam-se as características mais trágicas. É levada por uma rede de televisão a expor sua vida aos telespectadores. Um exemplo da condição social que se submetiam muitas famílias. Emissoras de rádio, TV, jornais procuravam Kati para que ela revelasse sua situação. O momento rápido de fama provocou uma crise existencial na personagem, que passou a questionar sua condição de vida e de sua família. Vai, então, lutar para deixar seu emprego de faxineira e tornar-se uma maquiadora na televisão, mesmo que para isso tenha que chantagear um funcionário do banco onde trabalhava.

Boaz Beit-Halahmi, marido de Kati, não gostava da exposição a que fora submetida sua família. É descrito como um homem debilitado por suas condições físicas e acomodado em sua condição de desempregado. Quando jovem, sua família tinha uma condição econômica boa, mas foi deserdado por ter se casado com Kati. Ironicamente, quando decide resolver seus problemas, é vítima de uma emboscada quando voltava de Jerusalém para Tel-Aviv.

Liat Dubnov, mulher culta, solteira por opção, morre logo no início do livro, vítima da gripe saudita. Era amante de um homem casado, irmã de Adir Bérgson, sobre o qual exercia grande influência. Os dois, filhos de Levana Kosta, morta em uma viagem para os EUA.

Adir Bérgson é surpreendido pela morte da irmã. Sozinho, vê-se obrigado a resolver os seus problemas e realizar as cerimônias de luto da irmã. Mora com sua namorada, Tasaro Tasama, mas não tem pretensões de casar-se e ter filhos com ela.

Tasaro Tasama, uma imigrante etíope que conseguiu sair da pobreza graças a um namorado que a retirou da rua. Torna-se modelo profissional. Suas preocupações são sempre referentes à sua profissão e a seu relacionamento com Adir. Liat não aprovava seu namoro com Adir por ser uma imigrante e negra.

Para Adir e Tasaro o desfecho se dá com a gravidez da moça. Apesar de Adir não ter a intenção de casar-se e ter filhos, no decorrer do romance suas idéias modificam-se ao dar-se conta de que sua família não teria continuidade e que seus bens não teriam herdeiros.

Íris Ventura, ex-namorada de Adir, divorciada, três filhos. Sua situação econômica era precária (estava desempregada), apesar de já ter vivido em condições melhores. Ainda gostava de Adir e fazia o possível para estar perto dele. Com a morte de Liat, ela é contratada por Adir para organizar o shivá e depois limpar o apartamento de sua irmã. A partir daí sua condição econômica melhora e consegue um emprego.

Há ainda um outra personagem que não podemos deixar de citar. Reuven Tekoa, presidente de Israel. De certa forma, seu papel é secundário, mas há um pequeno conflito que o envolve, o fato de não exercer outra função a não ser a de freqüentar funerais de mortos em ataques terroristas e visitar suas famílias nos shivot. Um destaque especial deve ser dado a este personagem, pois é o único que dá ao enredo um questionamento essencialmente político. A representação de um político cuja imagem os meios de comunicação ajudaram a construir, de homem inteligente, de boa aparência, e capaz de resolver os principais problemas de Israel.

Quanto à caracterização, todos os personagens são considerados redondos. Suas características são traçadas com elementos da realidade e sua natureza está coerente com a concepção da obra.

Ao empregar algumas expressões e datas, o narrador faz referências a marcos, tempos reais que se instalam e estão ligados ao enredo. A época em que se passa a história constitui-se o pano de fundo para o enredo e não coincide com o tempo real da publicação da obra. O narrador nos dá apenas uma indicação dessa época que não está claramente determinada, mas provavelmente a história se passa no início do século XXI, entre os anos 2000 e 2010 do calendário gregoriano. Estes dados podem ser justificados nos trechos a seguir:

 

(...) O inverno do ano 20... chegou a essa parte do mundo depois de oito anos de estiagem, durante os quais os israelenses foram ameaçados com a possibilidade de que o lago Kinneret e os rios que levavam a ele e ao mar Mediterrâneo secassem para sempre, e o pais cujo deserto há pouco florescera, voltaria a ser árido e crestado. (...)

(...) A lavanderia "obrigatória", como diziam Dubnov e o irmão Bérgson — porque, de acordo com os temos do testamento da mãe, que o atualizara antes de partir com a excursão, não poderiam vender até o ano 2010. Ela também lhes proibira vender as propriedades que acumulara durante a vida até o ano 2010. Queria mantê-las na família. (...) 

 

A duração da história é um período de tempo curto. Acontece no inverno iniciado no final do mês de Tishi e se prolonga até o mês de Adar quando morre Boaz.

 

(...) Assim que esse inverno incomum irrompeu, ao final do mês de Tishri, ele apagou da memória os anos difíceis da seca que o precederam. (...)

 

(...) Durante o espaço de tempo entre chamar o táxi e chegar em Lod, o presidente de Israel recebeu uma mensagem em seu celular convocando-o naquele dia, 21 de Adar, a comparecer ao funeral da vítima do ataque, em Lod. (...)

 

É curioso o fato de que os anos são contados a partir do calendário gregoriano, enquanto os meses são do calendário judaico.

Apesar de ter um tempo determinado pelo início e o final do enredo, temos o tempo classificado como psicológico, que transcorre em uma ordem determinada pelo narrador ou pelos personagens, alterando a ordem dos fatos. O enredo é, então, não-linear, os acontecimentos estão fora da ordem natural. Um exemplo do tempo psicológico no romance "Partes Humanas" pode ser conferido utilizando-se da técnica do flashback, que consiste em voltar no tempo, ao passado que tanto pode ser próximo quanto remoto, como a seguir:

 

(...) Ventura mudou-se para Jerusalém logo depois da morte dos pais, quando estava com 21 anos. Eles morreram um depois do outro, no mesmo ano, assim que ela terminou o serviço militar. Seu pai se suicidara no Yom Kippur, e sua mãe morrera dois meses depois, de ataque cardíaco, enquanto tomava banho. (...)

 

A consciência da personagem passa a manifestar-se no tempo presente como se transformasse o passado em atualidade. O momento em que a obra é escrita é o que impulsiona a autora. Projeta para algumas décadas mais tarde aquilo que ela verifica na sociedade israelense da década de 80.

O espaço é concebido com o objetivo de ser o palco da luta dos indivíduos e seus destinos. Um espaço no qual se tem a busca de um lugar habitável, mas que para situações de crise podem provocar a expulsão do Homem.

Há um deslocamento entre cidades como Tel-Aviv e Jerusalém ou entre regiões como Ganei-Aviv (subúrbio) ou a Zona Norte da cidade de Tel-Aviv. Esse deslocamento de espaços tem o objetivo de definir o clima político vivido em Israel ou o clima econômico, já que há uma posição social relacionada às regiões em que os personagens vivem. Um conjunto de fatores sociais, econômicos e históricos.

Portanto, o espaço é um elemento estrutural do enredo, sendo que há uma luta para se manter a ocupação desse espaço, à medida que os ataques terroristas configuram a tentativa dos árabes de retomada do espaço.

O espaço social determina também não somente a classe social a que pertence, como também a origem dos personagens, p.e. Kati, que veio do Curdistão e foi criada no campo de Ramle (campo que concentrava imigrantes que vinham do Curdistão, fugindo das perseguições no Iraque).

Da mesma maneira temos a personagem Tasaro, que veio da Etiópia na Operação Schlomo (operação realizada para trazer imigrantes da Etiópia para Israel, provavelmente ocorreu após a Operação Moshe). Ambas sofrem discriminação racial por não terem nascido em Israel. Este é um questionamento de grande expressão para a autora. O espaço provoca uma atmosfera ambígua; a sociedade israelense formada por indivíduos que são provenientes de diversos lugares. São imigrantes ou mesmo descendentes dos pioneiros (Sabras) que conquistaram o espaço, Israel, mas que vivenciam um conflito em âmbito social e político (como por exemplo, o conflito entre sefaraditas e asquenazitas).

Os personagens são, dessa forma, ambientados em uma Israel caótica. Nesse sentido a obra tem algumas associações entre personagens e espaço. Um exemplo disso é a idéia de que a Zona Norte de Tel-Aviv tem ruas com nomes de profetas e que, como um labirinto, toma aí um sentido alegórico do destino humano.

Ainda relacionando personagens e espaço, temos as descrições de lugares restritos como a casa da família Beit-Halahmi, que caracteriza seus habitantes, assim como o apartamento de Liat Dubnov retrata a sua personalidade.

 

(...) Ela abafou o riso. Moshe e Adi riram. Boaz foi para o quarto e bateu a porta, que já estava mesmo quebrada, por causa de muitas outras batidas. Ele empurrou uma bancada cheia de roupas contra a porta, deitou-se atravessado no colchão e ficou no escuro (...)

(...) Imaginou que estava em seu apartamento, na rua Amós, que não era apenas sua rua favorita como também levava o nome do seu profeta preferido, esparramada na cama no quarto luxuoso, como todos os confortos e conveniências, refugiando-se em si mesma, e simplesmente dormindo, perto da parede, escondida do mundo, não se importando com nada.(...)

 

Conclui-se, então, que a funcionalidade do espaço na obra só existe relacionada ao personagem, ao tempo e à narrativa que adquire vida em um elemento estruturador, o narrador.

O narrador coloca-se em um ângulo de observação dos fatos com uma proximidade espacial e temporal. Descreve os personagens como se participasse da mesma estrutura. Em certos momentos confunde-se o que é relatado pelo narrador com o que faz parte do monólogo interior dos personagens.

 

(...) Quando contar as propriedades não conseguiu fazê-la cair no sono, Dubnov tentou encontrar conforto pensando em sua coleção de calendários hebreus raros, datados desde o século XV, mas doença a impediu de ter alguma sensação prazerosa. Ela não contara a Takdim sobre a coleção; o único que sabia a respeito era Adir. E agora a garota etíope também devia saber, mas que interesse ela poderia ter por calendários antigo?(...)

 

Isto não significa que podemos caracterizar o romance como psicológico, ou seja, eliminar por completo o narrador e explicar-se pelo monólogo interior dos personagens.

O narrador está fora dos fatos narrados, toma uma posição imparcial àquilo que relata, os fatos ocorridos e os sentimentos mais profundos dos personagens.

Para tanto, o narrador vai se valer tanto do discurso direto quanto do indireto para registrar o que os personagens querem dizer. O narrador usa das formas convencionais, tais como verbos de elocução, dois pontos, travessão, caracterizando o discurso direto ou também utilizando aspas no lugar dos travessões:

 

(...) Tasaro queria ajudar a limpar e arrumar as coisas, mas Liat estava louca que eles partissem e a deixassem sozinha, e disse:

  Pode deixar, eu faço.

— Certo — concordou o irmão. — De qualquer forma, tenho de fazer a inalação.

(...)

Vou dar um jeito, pensou. "Duzentos para o místico e oitenta para a gasolina, e se não houver óleo, o que deve ser verdade, seja óleo do motor ou dos freios, então azar, não posso fazer nada. (...)

 

Para o discurso indireto, o narrador é quem reproduz a fala do personagem com suas próprias palavras.

 

(...) Quando se recusou a dar-lhes um dia sem escola, Oz disse que a sua garganta estava doendo, especialmente quando ele engolia, e Osher pediu o termômetro e disse que a cabeça estava explodindo, só esperava não ter pegado a gripe que matava as pessoas.(...)

 

O discurso indireto livre, por vezes é também muito usado para transcrever os pensamentos dos personagens.

 

(...) Ela pensou em Adir. Qual seria a sua opinião? Talvez ligasse para ele. Não convinha... ele estava com sua namorada exótica.

 

A romancista Orly Castel-Bloom adota, por assim dizer, uma visão realista do Estado de Israel, que é povoado por perspectivas decadentes, a precariedade do mundo pós-moderno que se baliza em uma rede de informações manipuladas por aqueles que as conduzem, ou seja, os meios de comunicação. Estes exploram fatos sensacionalistas, buscando nos indivíduos o enquadramento perfeito para satisfazer a "perversidade"  do mundo capitalista, provocando a massificação da cultura e a falta de ideologias que possam se confrontar de uma forma pacífica e saudável.

Essa situação vigente é um reflexo do enfraquecimento daquilo que se acreditava anteriormente, o homem que luta pela coletividade, pelos valores que acredita e que vão salvar a sociedade.

Depois dos problemas pelos quais o Estado de Israel passará e que foram citados ao longo da analise, todos os valores da geração anterior vão se deteriorar e serão foco dessa nova literatura hebraica e dessa geração de escritores cujos "ideais são substituídos pela perplexidade, hesitação, cinismo, dúvida e sensação de estranheza".1

 

 

 

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1 HARARI, Zvi. "Algumas características da prosa hebraica contemporânea". 

 

 

O texto foi indicado por Moacir Amâncio, professor de Literatura Hebraica, na FFLCH da USP, para publicação em Germina.

 

abril, 2005
 
 
 
Icléa del Mônaco de Paula Santos Saleh nasceu em Guaratinguetá e vive na cidade de São Paulo. É professora de História, da Rede Pública Estadual, desde 1992. Graduada em História, pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, com Licenciatura pela Faculdade de Educação da USP e aluna do Curso de Letras (Português/Hebraico) pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.