Rodrigo Leão - Como foi ter sido colaboradora dos jornais O Dia, Diário da Tarde, Diário do Paraná e Estado do Paraná? Quais são as dores e as delícias de ser crítico?

 

Regina Benitez - Nunca fui crítica literária. No jornalismo eu me detive apenas ao noticiário cotidiano, em especial, de assuntos ligados à literatura. Aliás, tenho um enorme desprezo por todos aqueles que tentam definir as obras dos autores. Não vejo em que possam auxiliar o autor a desenvolver-se. Este desenvolvimento se faz de forma bem mais eficiente na leitura. Livros de Knut Hansun, Graciliano Ramos, Machado de Assis ou Balzac podem auxiliar bem mais que 400 críticos.

 

Thomas Hardy é um excelente exemplo. Foi tão barbarizado pela crítica quando publicou "Judas, o Obscuro", que desistiu de escrever. Até hoje, diante da obra, aqueles que a condenaram são amaldiçoados. Para mim, o crítico é um escritor que não deu certo, em resumo: um invejoso.

 

Já sobre a colaboração em jornais ou revistas, acredito que para quem está começando é sempre interessante. Esta prática permite que se tome a temperatura dos leitores e até dos editores. Isto é importante porque um iniciante sempre tem aquela dúvida terrível: — Estarei no caminho certo? Depois ele descobre que os caminhos estão todos certos (ou estarão todos errados?) aí, deixa de precisar da opinião dos outros, mesmo porque elas não acrescentam coisa alguma.

 

 

RL - Há uma matéria na Revista Inimigo Rumor que defende a resenha literária como uma bula. Ou seja, com uma linguagem fechada só para entendidos. Quem deve fazer uma resenha: o jornalista ou o acadêmico?

 

RB - Ninguém devia fazer resenhas. Literatura vale apenas pela obra. Tudo o quanto se fale ou escreva a respeito de um autor e de seu trabalho são daquelas inutilidades tão bem apontadas no filme "A Sociedade dos Poetas Mortos". Apenas páginas que deviam ser arrancadas.

 

 

RL - Você escreveu o seu primeiro livro, "A moça do corpo indiferente", em 1962. O que era uma moça de um corpo indiferente?

 

RB - A moça do corpo indiferente era alguém que não queria mais se envolver. Não queria mais ser feliz ou infeliz. Alguém que não desejava, não sonhava, nem esperava mais.

 

 

RL - Como foi receber a primeira colocação na XXI FEMUP?

 

RB - Toda premiação é gratificante.

 

 

RL - Qual a importância de concursos literários?

 

RB - Os concursos literários valem pelo incentivo.

 

 

RL - Qual foi o prêmio mais significativo que ganhou? Qual lhe é mais caro?

 

RB - Todos eles me tornaram feliz.

 

 

RL - Como é participar de antologias?

 

RB - É válido. O perigo é tornar-se um autor antológico, como no meu caso.

 

 

RL - O que é mais difícil na carreira literária? Qual conselho daria a um iniciante?

 

RB - Não sou de dar conselhos. Mas acho terrível ser escritor. Por outro lado é fascinante. Quando eu escrevo, entro num mundo que me faz esquecer dos políticos, dos críticos e de toda gente safada. Somos Deus e eu, num momento de criação.

 

 

RL - Conto é tudo aquilo que a gente chama de conto? O que um conto seu tem, que o  caracteriza como seu?

 

RB - Conto, realmente, é o que o seu autor acredita ser. Eu tenho lá minhas manias. Uma delas é respeitar a lei das três unidades no quesito que se refere à ação. O tempo e o lugar acho dispensáveis. Mas a ação deve ser, em minha opinião, muito respeitada. O conto deve ser inteiramente fechado e com a mesma estrutura de um diamante. Mas, aqui eu falo dos meus contos. Nos outros, gosto do fragmentado e dou grande importância ao clima.

 

 

RL - Para que serve a literatura?

 

RB - Para que o autor possa sentir-se igual a Deus.

 

 

RL - Tem algum mote?

 

RB - Não.

 

 

RL - Qual o papel do escritor na sociedade?

 

RB - Provocador.

 

 

 

(Publicada, originalmente, no PD-Literatura, em 2003)

 
 
junho, 2006
 
 
 
 
 
 
 

Regina Benitez (1934-2006, Curitiba-PR). Desde bem jovem, colaborou com os principais jornais da cidade de Curitiba, tais como O Dia, Diário da Tarde, Diário do Paraná e Estado do Paraná. Fez, também, incursões no Suplemento Cultura, do Estado de S.Paulo. Em 1962, diplomou-se em Jornalismo. Em 1965, publicou um livro de contos, A moça do corpo indiferente.

 

Em 1973, foi apontada como a melhor participação paranaense no Concurso Nacional de Contos promovido pelo Governo do Estado do Paraná, através da FUNDEPAR, com os trabalhos "A Coleção", "Múltipla" e "Exato Como Deus". Em 1986, recebeu a primeira colocação na vigésima-primeira FEMUP, com o conto "Apenas um Presente para o Apt° 301", em Paranavaí. No I Concurso Nacional de Contos de Maringá, em 1987, encontrou o primeiro lugar com a obra "Época de Descobertas". Em 1988, recebeu o prêmio Josué Guimarães e o troféu Vasco Prado, pela primeira colocação no Concurso do Instituto Estadual do Livro de Porto Alegre e Universidade de  Passo Fundo, com os contos que compunham a "Trilogia da Perplexidade: Pequena e Frágil", "Igual às Estranhas Mulheres das Telas de Marc Chagall" e "Espelho". No II Concurso Nacional de Contos de Maringá (Cirema do Carmo Corrêa - Madre Mônica), recebeu novamente a primeira colocação com o trabalho "Flexível Como Um Arco". Em 1990, foi o primeiro lugar, de novo, em Paranavaí, com o conto "Menina Solidão" e o primeiro lugar na ASALEP, da Assembléia Legislativa com o trabalho "Especialista em Orquídeas". Em 1995, recebeu o troféu Macunaíma, em Imperatriz no Maranhão, com o conto "Um dia, Lá Longe". Em Santos e em Piracicaba (SP), recebeu a primeira colocação com o conto "Para Vocês, Com Amor".

 

Também recebeu destaque por trabalhos apresentados em Franca, São José dos Campos, Guarulhos, Mogi das Cruzes e Campinas (UNICAMP)-SP; Brasília-DF; Santa Maria e Pelotas-RS; Rio de Janeiro-RJ; Salvador-BA; e, além de Curitiba, nos municípios paranaenses de Jacarezinho, Campo Mourão e Foz do Iguaçu. Em 2002, foi premiada pela Academia Literária de Letras, de Belo Horizonte, com o conto "Somos Todos Mentirosos"; nos Jogos Florais de Pouso Alegre-MG, com "Flores e Homens"; pela Via Sette Editora de Itapetininga, com o conto "Mágicas" e no concurso da Maturidade do Banco Real, com "Mulher Com Avestruz".

 

Faz parte da antologia Erkundungen, editada na Alemanha Oriental, com o conto "O Mágico". No Brasil teve seus trabalhos editados em mais de uma centena de antologias. Tem, ainda, trabalhos editados em Portugal, tais como "Mágicas" e "O Dia do Anjo". Reconhecia, contudo, que sua melhor obra foi realizada em parceria. Trata-se de Greta, a filha.

 

Em 2006, Regina partiu. Deixou, inédito, o livro Mulher com avestruz.

 

 

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Rodrigo de Souza Leão (Rio de Janeiro, 1965), jornalista. É autor do livro de poemas Há Flores na Pele, entre outros. Participou da antologia Na Virada do Século — Poesia de Invenção no Brasil (Landy, 2002). Co-editor da Zunái — Revista de Poesia & Debates. Edita os blogues Lowcura e Pesa-Nervos. Mais na Germina.