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Wilmar Silva - Sem cercas, a partir de Cerquilho, como é nascer na aldeia e partir para o mundo, Cristiane Grando?

 

Cristiane Grando - Uma experiência rica, porém assustadora e maravilhosa ao mesmo tempo. Essa é a principal temática do livro inédito Titã: "sou / universo multidimensional em expansão acelerada / afastando-me a velocidade crescente da origem".

 

 

WS - E o mundo das palavras, quando aconteceu o primeiro fluxo de poesia em sua vida?

 

CG - No princípio, em 1992, não aconteceu como um fluxo; foram anos de busca intensa e difícil, de palavras que demoravam para chegar ao papel. Fluxus, escrito em 2004 na ilha de Chiloé, Chile, foi uma experiência marcante, um divisor de águas. Houve um desbloqueio: como fruto de muitos anos de trabalho, como uma bênção, como um alumbramento, como o acesso a um mundo antes cifrado. É claro que não percebi isso naquele momento... só cheguei a essa conclusão anos depois. A partir de Fluxus, passei a escrever poemas mais longos, sem deixar de prezar pela economia da linguagem. Escrevi Titã, em 2005 e 2006 (e sigo reescrevendo esses poemas). Depois de Titã, o fluxo está vindo com maior facilidade. Você vê que se trata de um processo, de alguns anos; não é assim num estalar de dedos, apesar do alumbramento ser algo intenso. Como uma paixão. A experiência de desbloqueio que vivi em Fluxus foi importante para hoje escrever com maior fluidez. Escrevi 40 poemas nos últimos dois meses.

 

 

WS - Sendo de uma família de instrumentistas, como descobriu que a palavra é um instrumento, puxando Manoel de Barros, na epígrafe de seu livro Caminantes (Ediciones Gato de Papel, Brasil, 2004): "Só uso a palavra para compor meus silêncios"?

 

CG - A poesia, para mim, é antes de tudo música. O poeta escolhe as palavras para compor ritmos. E silêncios. Saber respeitar, na leitura em voz alta, as pausas, os silêncios internos de cada poema. Escrever exige silêncio. Mas a poesia, em meu caso, não reflete apenas a busca de um espaço tranqüilo para escrever — o que é maravilhoso encontrar. Escrever é uma forma de compreender os silêncios internos, as palavras guardadas, frutos de experiências vividas. Penso muito antes de falar, penso muito antes de reescrever meus textos e principalmente de publicá-los, mas respeito a fluidez de um poema sendo escrito pela primeira vez, quando vem carregada de vivência e intensidade. Sou uma mulher de poucas palavras, apesar de às vezes conseguir compor um rio de palavras que fluem. Entre muitas palavras e o silêncio, prefiro o silêncio. Gosto de escrever sobre os sonhos, o imaginário, mas também sobre a intensidade da vida. Não gosto de mergulhar na água. Eu gosto mesmo é de mergulhar fundo na vida. Ir longe. Numa espécie de dança sagrada.

 

 

WS - A memória é o líquido amniótico dos poemas de Caminantes, que servem de geografia para uma língua física; que intersecção no tríptico: viver e escrever e traduzir?

 

CG - O que resta na memória é a essência — por isso ela carrega vivências e imagens fortes. Viver, escrever e traduzir são as principais atividades que gosto de realizar. Quando escrevo e traduzo, vivo tudo com tanta intensidade que até esqueço de comer. Quem convive comigo sabe disso. Quando estou hospedada em Châtres, na França, minha amiga Espérance Aniesa sempre traz algo de comer, uma sopinha... e deixa ali, ao lado do computador, porque sabe que eu esqueço de tudo enquanto escrevo — e fico completamente concentrada na escritura. Se pudesse, minha vida profissional se resumiria em escrever e traduzir. As demais atividades me encantam também, mas nada se compara ao gozo de encontrar o ritmo, as palavras que você busca enquanto escreve/traduz.

 

Também gosto de amar; não somente o ser humano, mas também certos momentos da vida, certos alumbramentos: um momento de paz em sua casa, a realização de um projeto com amigos. Tenho uma gata, Bess, que ganhei da professora Telê Ancona Lopez: o jeito da Bess andar, o jeito que deita no colo da gente e se entrega para um carinho só podem gerar um sentimento de amor.

 

 

WS - Os poemas de Fluxus (Ediciones Gato de Papel, Brasil, 2005) escritos no Chile, na Ilha de Chiloé, em diálogo com as ilustrações do poeta Leo Lobos, apresentam uma mulher a "escrever em estado de cio" (Rainer Maria Rilke). "É preciso pôr a menstruação na linguagem" (Yêda Schmaltz)?

 

CG - A menstruação é algo que caracteriza a mulher. Não posso deixar de ser mulher enquanto escrevo. Nem quando vivo, nem quando durmo. Apesar disso, acho importante cultivar o meu lado masculino também. Buscar o equilíbrio.

 

 

WS - Como foi habitar a imaginária Casa do Sol e conviver com Hilda Hilst e sua física Lori Lamby?

 

CG - Freqüentei a Casa do Sol quando a Hilda estava viva (naquela época eu era estudante de mestrado). Muitas pessoas que conheciam sua obra tinham medo da Hilda. Liam aquela obra imensa, escrita por uma mulher muito culta... mas quando me recebia, a Hilda não falava muito de sua obra. Gostava de falar da vida, de ler seus poemas em voz alta. Pelo seu olhar, pelos gestos, por sua postura, notava-se um ser generoso, de grande compaixão com aqueles que sofrem, inclusive com o sofrimento dos animais, como muitos sabem. Ela ficava triste e um pouco angustiada por saber que algumas pessoas tinham medo dela e me perguntava: Por que eles têm medo de mim? Por que eles têm medo de mim? Hoje eu vejo que uma mulher à frente de seu tempo só pode gerar medo nas pessoas que, em geral, estão acostumadas a uma vida monótona, sempre bem encaixada, ao menos em aparência, nos padrões que a sociedade estabelece como corretos.

 

Depois que a Hilda morreu, me aproximei muito do escritor Mora Fuentes e da artista plástica Olga Bilenky, que vivem na Casa do Sol. Com o poeta chileno Leo Lobos, vivemos belos momentos na casa, alguns fins de tarde incríveis, os quatro conversando, relembrando histórias inesquecíveis que permanecem na atmosfera da casa de Hilda Hilst.

 

Conviver com a personagem Lori Lamby foi mágico também: a exposição que organizei no CEDAE-IEL-UNICAMP, em 2005, O Caderno Rosa de Hilda Hilst, colocou-me em contato com os manuscritos da obra, com a Lori desenhada por Hilda Hilst (documentos que eu não conhecia, que são belíssimos e que veiculam dados interessantes sobre os processos criativos). A exposição teve uma repercursão muito maior do que eu esperava, o que me trouxe muita alegria.

 

 

WS - A extemporânea Hilda Hilst jamais esteve ligada aos preceitos de linguagem de seus contemporâneos, mas acabou se tornando uma expoente da literatura. Afinal, Cristiane Grando, sobre o que escrever e como escrever?

    

CG - Escrever sobre o que nos provoca, o que realmente mexe com a gente. Não há regras, mas acho que tudo o que nos instiga pode levar a algo sincero, verdadeiro, autêntico: um bom texto literário, nesse caso. O que me motiva hoje pode ser que não me chame a atenção amanhã. Por isso me concentro muito no presente.

 

Como escrever? Escrever muito. Reler e reescrever muitas vezes. No meu caso, buscando a síntese, a economia da linguagem. Tentando criar ritmos específicos para cada poema, para cada frase. É o próprio texto que ao ser criado vai ditando que rumos podem ser tomados.

 

 

WS - O que significou produzir a exposição "Roteiro da Paixão", inspirada em sua tese sobre Hilda Hilst?

 

CG - Foi uma experiência importante: não abandonar a criação dos meus próprios poemas e da fotografia. Nessa exposição, uni a minha paixão pela obra de Hilda Hilst e pela criação artística. Um verdadeiro escritor, que ama ser escritor, que se realiza sendo escritor, nunca deixa de ser escritor. Um verdadeiro professor nunca deixa de ser professor. Nem mesmo quando está em período de férias.

 

 

WS - E depois andando pela Europa, inclusive divulgando Hilda Hilst, o que significa, por exemplo, produzir o espaço Jardim das Artes no interior de São Paulo, antenado com as poéticas de invenção no mundo?

 

CG - O Jardim das Artes, Ciências e Educação é um espaço cultural que tem por objetivo levar um pouco do mundo para Cerquilho. Esse era um sonho para o meu futuro, mas graças ao apoio do arquiteto e grande amigo Jorge Bercht, o Jardim das Artes existe desde 2004. Com o Jorge, aprendemos muito. Ele tem histórias de vida impressionantes, é um profissional e um artista sério, genial. Tudo o que é sonho se transforma em realidade pelo olhar crítico e apurado do Jorge; tudo o que é realidade se transforma em sonho pelas mãos e sensibilidade do Jorge. Para mim, é uma honra e um aprendizado enormes conviver com o Jorge Bercht: imaginem rigor de mãos dadas com sabedoria, gentileza, doçura. Eu não tenho palavras para descrevê-lo.

 

O Jardim das Artes já realizou quatro exposições e levou uma dezena de artistas de diversas modalidades para Cerquilho. Realizamos eventos culturais gratuitos, levamos os artistas para as escolas e os estudantes para o Jardim das Artes, em épocas de exposições. Ler poesia nas escolas tem sido uma experiência muito rica: as crianças normalmente estão abertas para a musicalidade da poesia e das línguas estrangeiras (quando leio poemas em espanhol e francês).

 

 

WS -  Se "eu é um outro" (Artur Rimbaud) e você afirma em Fluxus que "escrevo para ser", o que há na escrita de Cristiane Grando que a faz uma poeta das imagens em delírio?

 

CG - A minha poesia sempre busca a comunicação com o outro. Quando escrevo, sempre penso: haverá pessoas que sentiram ou sentirão algo parecido com o que estou sentindo e que tento traduzir com palavras. Sentir, às vezes, é compreender o que o outro sente. Ou seja, nem sempre o que um escritor escreve é biográfico; muitas vezes é fruto de compaixão, no sentido de "sofrer junto" ou de "viver junto"... compreender a vivência do outro para transportá-la para o papel. Pela poesia, podemos entrar em comunhão com o outro, entrar num estado de identificação profunda... sinto isso na reação de alguns leitores.

 

As imagens em delírio talvez sejam fruto de uma escolha: deixar que a lógica da poesia tome conta de mim; respeitar as idéias e imagens que vêm à mente, em associação livre, para depois reconstruir os versos, buscar o ritmo.

 

 

WS - Sendo as palavras materiais plásticos, em que momento a poeta Cristiane Grando se torna fotógrafa?

 

CG - Ser fotógrafa foi um fruto de meu interesse pelas artes em geral. Em 2000, eu morava em Cerquilho. A Prefeitura levou vários cursos de Sorocaba para a minha cidade. Um deles foi o de fotografia, com o professor Edeson Souza, do Grupo Imagem. Nesse curso, tivemos aulas também com os fotógrafos Werinton Kermes e "Foguinho". O Werinton já dizia naquela época que eu era fotógrafa, pelos enquadramentos que eu fazia. Hoje estou mais sensível à luz quando faço foto, mas minha primeira paixão foram os enquadramentos. Busco captar a realidade através de fragmentos; às vezes faço recortes do belo em espaços que veiculam mais feiúra que beleza. O mundo carece muito de beleza na atualidade; por isso valorizo o que encontro de belo pelo meu caminho. Com a câmara digital, é divertido fotografar por ser possível acompanhar os resultados a cada clique e logo em seguida comparar os vários testes realizados, suprimir as fotos que não interessam. Com a máquina digital consigo treinar muito mais o meu olhar. Aliás, treinar o olhar é um exercício que faço constatemente, organizando álbuns, montando seqüências ou conjuntos de fotos para exposições (de acordo com temas, luz, formas, cores).

 

 

WS - E a tradutora a quebrar a gramática das línguas, sendo a poesia para Robert Frost "aquilo que se perde na tradução", como entende a língua portuguesa que se fala no Brasil frente ao mundo lusófono?

 

CG - Na tradução, muitas vezes se perde algo, mas também é possível que novos significados sejam agregados. Por isso sempre uso o termo texto de origem para o texto que foi traduzido, e não texto original, porque a tradução também é um texto original.

 

No caso Portugal/Brasil, o ideal é traduzir o português do Brasil para os portugueses e o português de Portugal para os brasileiros. A Hilda Hilst vai ser publicada em breve em Portugal e sua obra está sendo traduzida para o português de Portugal. Para ouvir uma conferência de professores portugueses, como aconteceu muitas vezes na USP, ou para passear em Portugal, é preciso afiar o ouvido pois o ritmo que os portugueses usam na fala é muito diferente do ritmo da nossa língua "brasileira". Sem falar nos vocábulos completamente diferentes para designar um objeto ou situação.

 

 

WS - Se línguas nascem quando morrem línguas, o que pensa sobre as línguas tupi e guarani ao ser o Brasil uma geografia colonizada pelo império da descoberta?

 

CG - Há muitos termos e costumes indígenas que freqüentam nossa vida cotidiana no Brasil. Mas vejo que a cultura indígena, no Chile, por exemplo, busca muito mais o seu espaço na vida cotidiana, através de associações, boletins (inclusive virtuais), publicação de livros de poesia em mapudungun (a língua dos mapuches) com tradução ao espanhol. Pela extensão de terra que tem o nosso país, talvez esse movimento exista, mas se perca um pouco. Talvez o indígena no Chile busque com tanta garra o seu espaço por não ser tão valorizado quanto é no Brasil. Nascer e morrer fazem parte da vida. E das línguas. Sobretudo das línguas que não possuem escrita, que são veiculadas oralmente.

 

 

WS - Quase sempre participando do Congresso Brasileiro de Poesia no Rio Grande do Sul, que reúne mais de cem poetas em atividades na América Latina, o que pensa sobre a poesia que se produz no Brasil de agora?

 

CG - É difícil construir um grande poeta. Existem poucos poetas que conseguem criar obras-primas.

 

 

WS - Além de Hilda Hilst, que poetas brasileiros, Cristiane Grando, Profa. Convidada da UASD (Universidad Autónoma de Santo Domingo, República Dominicana) são poéticas de estudo em São Domingo?

 

CG - Em primeiros recitais: Hilda Hilst, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Vinicius de Moraes, etc. — ou seja, poetas brasileiros que estão traduzidos ao espanhol e que encontro em livros por aqui. Nos recitais, leio poemas nas duas línguas. Aos poucos, pretendo ampliar meus projetos e incluir poetas contemporâneos. Em aulas, temos trabalhado diálogos e música brasileira (MPB, rock, bossa nova), para que os estudantes possam cantar, soltar a língua, a fim de falar uma língua estrangeira, nesse caso, a nossa  língua portuguesa.

 

 

WS - Como é ler poesia na Embaixada do Brasil em São Domingos na República Dominicana?

 

CG - Através da Embaixada do Brasil em São Domingos realizo uma série de atividades: palestras, recitais, ciclos de cinema brasileiro, entrevistas em rádios, especialmente no programa Besos y Abrazos (97,7 FM), de Raquel y José, que há mais de 10 anos toca música brasileira todas as sextas-feiras, das 18 às 20 horas.

 

 

WS - Como foi a sua participação na "X Feria Internacional del Libro de Santo Domingo" que aconteceu de 23 de abril a 06 de maio de 2007?

 

CG - Essa feira do livro realizou-se durante 15 dias, na Plaza de la Cultura de Santo Domingo: ao ar livre, com entrada franca. Muitas atividades culturais foram realizadas nos vários museus, no Teatro Nacional e na Cinemateca Dominicana, prédios que compõem a praça junto às árvores e bancos. Montamos um estande da Embaixada do Brasil, onde recebi vários estudantes que buscavam informações sobre o nosso país, especialmente sobre literatura. Algumas escolas pediam que eles conseguissem informações sobre escritores brasileiros. Publiquei Fluxus y otros poemas / e outros poemas como uma edição especial para a "X Feria Internacional del Libro", contando com tradução ao espanhol de Espérance Aniesa e Melania Yens. Fui convidada para ler Fluxus no pavilhão dos autores dominicanos. Participei da feira também com dois recitais no Café Bohemio e uma palestra sobre Hilda Hilst e Vinicius de Moraes no auditório do Museu de Arte Moderna. Foram dias de muito sol e intensa participação de dominicanos e estrangeiros: 2 milhões de pessoas freqüentaram a Feira do Livro naqueles 15 dias. Fizemos contato com artistas e agentes culturais de muitos países: Haiti, Porto Rico, Cuba, Espanha, França, Colômbia, Guadalupe, El Salvador, Honduras, etc. Nesse ano, o poeta dominicano homenageado foi Franklin Mieses Burgos e o país homenageado foi a Colômbia; em 2008 serão 28 países que formam parte da Associação dos Estados do Caribe os países homenageados. Do Brasil, dois poetas convidados estiveram presentes nessa "X Feria Internacional del Libro": Lêdo Ivo e Floriano Martins, poeta e editor da Revista Agulha.

 

 

WS - Depois de andar pela América Latina, como é chegar a América Central e pensar que o Brasil é também um país das Américas?

 

CG - O Brasil é muito querido na República Dominicana. Todos os dias vejo alguém na rua com uma camiseta ou algum acessório que leva a bandeira do Brasil. Isso se deve ao sucesso do futebol, do carnaval e principalmente das novelas brasileiras.

 

Sair do meu país para ensinar nossa língua e cultura significa para mim aproximar-se mais ainda do Brasil, que eu tanto amo. Para mim, amar uma nação não significa excluir as demais. Vejo em várias partes do mundo os problemas que geram as fronteiras entre países, estados. É triste ver que o ser humano muitas vezes não consegue respeitar as diferenças.

 

 

WS - Se pudesse chegar ao "Paradiso" que poetas você convidaria para uma passeata a José Lezama Lima?

 

CG - Hilda Hilst, Manuel Bandeira e Charles Baudelaire.

 

 

WS - Por que o inédito Amêndoa amarga ainda não foi publicado?

 

CG - Guardo uma grande quantidade de trabalhos inéditos (poesia, conto, novela, história infantil; mestrado, doutorado e pós-doutorado sobre Hilda Hilst) por falta de verba: Titã, Amêndoa amarga, Uma brasileira no paraíso, Memórias d'Omar, Cruzeiros, entre outros. Há também Caminantes e Fluxus traduzidos ao catalão por Pere Bessó, ainda inéditos. Adoro coordenar a edição e publicação de meus trabalhos, mas não estaria nada mal se alguma editora fizesse isso por mim.

 

 

WS - E o que Cristiane Grando anda escrevendo?

 

CG - Um novo livro de poemas: Meu país. O livro conta com uma epígrafe do poeta dominicano Pedro Mir: "Hay / un país en el mundo / colocado / en el mismo / trayecto del sol / oriundo de la noche. / Colocado / en un inverosímil archipiélago / de azúcar y de alcohol". No momento, são 40 poemas, mas é preciso considerar que o livro ainda não está pronto. Dedico um poema a vocês:

 

 

o poder da imagem

    

                  Aos meus pais

 

volto no tempo:

mil novecentos

e oitenta e um

 

é preciso aprender a deixar de lado

a dureza dos músculos tensos

 

confiar na vida

sen-tir ca-da cen-tí-me-tro

da própria pele

cuidar

dos órgãos e pensamentos

com as próprias mãos

 

e agradecer uma vez mais

como sempre

 

cuidar

de si e do mundo

de tudo o que se vê

e se pensa

da música que emanam os olhos

(comunicação secreta entre os amantes

as estrelas que deixei em teu olhar):

meus sonhos fotografados em várias cenas

para que vejas

o quanto existo e sou

 

respiro

 

é preciso nunca esquecer

de respeitar os mortos

 

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Cristiane Grando (Cerquilho-SP, 1974). Poeta, fotógrafa, tradutora e pesquisadora. Laureada UNESCO-Aschberg de Literatura 2002. Idealizadora do espaço cultural Jardim das Artes, Ciências e Educação (Cerquilho-São Paulo-Brasil). Autora de Caminantes (Ediciones Gato de Papel, Brasil, 2004): poesia em francês, português, traduzida ao espanhol por Leo Lobos (Santiago-Chile, 2003) e  Fluxus (Ediciones Gato de Papel, Brasil, 2005). Defendeu mestrado e doutorado na Universidade de São Paulo (USP): estudos da obra e dos manuscritos de Hilda Hilst. Na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), desenvolve pós-doutorado sobre crítica genética e tradução de Hilda Hilst para o francês, além de realizar um trabalho de divulgação da obra hilstiana na França, Chile, Peru e Argentina, com os poetas Claire Bustarret, Espérance Aniesa, Raúl Artola, Francisco Véjar, Leo Lobos, Reinhard Huaman Mori e Cinthya Torres.
 
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