Talking In Bed

Talking in bed ought to be easiest
Lying together there goes back so far
An emblem of two people being honest.

Yet more and more time passes silently.
Outside the wind's incomplete unrest
builds and disperses clouds about the sky.

And dark towns heap up on the horizon.
None of this cares for us. Nothing shows why
At this unique distance from isolation

It becomes still more difficult to find
Words at once true and kind
Or not untrue and not unkind.

 

Conversar na cama

Conversar na cama devia ser mais fácil
Dois deitados juntos — é desde há muito
Um símbolo de duas pessoas sendo francas.

Ainda que mais e mais tempo passe em silêncio.
Lá fora, a intérmina inquietação do vento
Amontoa e dispersa nuvens pelo céu.   

E cidades escuras se empilham no horizonte.
Nada disso se importa conosco. Nada mostra por que
A essa distância única do isolamento

Se torna ainda mais difícil achar
As veras palavras certas e sinceras
Ou não incertas e nem insinceras.

 

 


High Windows

When I see a couple of kids
And guess he's fucking her and she's
Taking pills or wearing a diaphragm,
I know this is paradise

Everyone old has dreamed of all their lives —
Bonds and gestures pushed to one side
Like an outdated combine harvester,
And everyone young going down the long slide

To happiness, endlessly. I wonder if
Anyone looked at me, forty years back,
And thought, That'll be the life;
No God any more, or sweating in the dark

About hell and that, or having to hide
What you think of the priest. He
And his lot will all go down the long slide
Like free bloody birds. And immediately

Rather than words comes the thought of high windows:
The sun-comprehending glass,
And beyond it, the deep blue air, that shows
Nothing, and is nowhere, and is endless.

 

Janelas altas

Quando eu vejo um casalzinho jovem
E acho que ele trepa com ela, e ela
Toma pílula ou usa um DIU,
Eu sei que isso é o paraíso

Que gente velha sonhou a vida toda —
Gestos e laços postos de lado
Feito um traste antigo, fora de moda
E todo jovem arrebatado em longa fuga

Rumo à felicidade, sem fim. Fico pensando se
Alguém olhou para mim, quarenta anos atrás,
E pensou, Esse vai ser meu futuro.
Nada mais de Deus, nem de suar no escuro

Com medo do inferno, tudo isso, ou ter que
Esconder meus pensamentos do padre. Ele
E sua sorte serão arrebatados nessa fuga,
Livres como malditos pássaros. E, de imediato,

Mais do que palavras, vem o pensamento 
                                [de janelas altas:
O vidro abarcando o sol,
E além dele, o profundo ar azul, que mostra
Nada, e é lugar nenhum, e é sem fim.

 

 

 

Story

Tired of a landscape known too well when young:
The deliberate shallow hills, the boring birds
Flying past rocks; tired of remembering
The village children and their naughty words,
He abandoned his small holding and went South,
Recognised at once his wished-for lie
In the inhabitants' attractive mouth,
The church beside the marsh, the hot blue sky.

Settled. And in this mirage lived his dreams,
The friendly bully, saint, or lovely chum
According to his moods. Yet he at times
Would think about his village, and would wonder
If the children and the rocks were still the same.
But he forgot all this as he grew older.

 

História

Cansado de uma paisagem já bem conhecida desde jovem:
As pasmacentas colinas baixas, os pássaros maçantes
Voando sobre rochas; cansado de recordar
As crianças do povoado e suas bocas sujas,
Ele largou seu pedaço de chão e foi para o Sul
Logo reconheceu o lugar que almejava
Na boca amável dos habitantes,
A igreja junto ao pântano, o ardente céu azul.

Assentou-se. E nessa miragem viveu seus sonhos,
O alegre fanfarrão, santo, ou bom companheiro,
Dependendo de seu humor. Embora, às vezes,
Pensasse em seu vilarejo e se perguntasse
Se as crianças e rochas ainda eram as mesmas.
Mas esqueceu tudo isso quando ficou velho.

 

 


Why Did I Dream of You Last Night?
 
Why did I dream of you last night?
Now morning is pushing back hair with grey light
Memories strike home, like slaps in the face;
Raised on elbow, I stare at the pale fog
Beyond the window.

So many things I had thought forgotten
Return to my mind with stranger pain:
— Like letters that arrive addressed to someone
Who left the house so many years ago.

 

Por que sonhei contigo a noite passada?

Por que sonhei contigo a noite passada?
Agora a manhã empurra cabelos para trás 
                           [com uma luz grisalha
Lembranças batem de volta, como tapas na cara;
Apoiado no cotovelo, eu fito o branco nevoeiro
Além da janela.

Tantas coisas que eu pensava esquecidas
Voltam agora à mente numa estranha dor:
Como cartas que chegam para outra pessoa
Que há muito tempo já se foi.

 

[Tradução de Luiz Roberto Guedes]

 

 

 

 

Um dos poetas favoritos de John Lennon — e um dos grandes do século 20 na Inglaterra —, Philip Arthur Larkin [1922-1985] estreou com Night ship [1945], e publicou, entre outros, The whitsun weddings [1965], High windows [1974] e Aubade [1977]. Presidiu a biblioteca da Universidade de Hull durante décadas. Em 1984, declinou de ser nomeado poeta laureado por "não dispor de tempo para os compromissos decorrentes dessa posição". Morreu de câncer aos 63 anos — exatamente como seu pai, que morreu da mesma causa, com a mesma idade, e que também tinha sido bibliotecário. (Nota do tradutor)