Mário/Mário
Hecatombado
braço
que
acusa o acaso
Augusto
de Campos
a
Mário Faustino, aeromorfo
faust(o)ino
zombado
pelo sol
asa decepada
faustin(t)o
ainda flaps abertos
e
a cauda
pássaro intacto
ao sul da tempestade
verbo ainda vivo
e
a rugir em plena
madrugada cruel
de um albatroz
Bahia,
1964
C'errado's
Sentimental
Express
um
road-poem para Adriana
do
agreste
a flor
se reveste
do cerrado
roteiro
traçado
PARACATU
às cinco
em punto
para
lá
de tudo de tudo
cerro
cerrado
solidão
3
MARIAS
energia
represa
surubim
cerveja
BEAGÁ
entre meia
noite
e horizonte
beluz belo
refulge
dia
CONGONHAS
profetas partilham
aguado café
montanhas picos
planos
gerais
recorte de névoa
entre palmeiras
habacuc
ressona
cuco-cuco
adentro
BARBACENA
rosas
bonifácios
bias
chove
loucos
a
cântaros
JUIZ DE FORA
manchas
éteres
manhã
manchester
PETRÓPOLIS
some a serra
ação
do cerrado
o rio o mar
tudo em si
encerrado
tudo
fora
em cerração
RIO
dez da
matina des
de o c
erro ao mar des
atinado
fruto
do
c
errado
Brasília-Rio,
dezembro, 1976
EU o Outro
Je
est um autre
Rimbaud
das
brumas das brenhas
cortado
em pétalas
do meio
do mato
cortado
em pétalas
de
dentro do peito
cortado
em pétalas
sol sob
a camisa
cortado
em pétalas
do mito
do morto
cortado
em pétalas
sou eu
sou o outro
cortado
em pétalas
sorvendo a
fome
cortado
em pétalas
em
finas fatias
cortado
em pétalas
do
fundo do mundo
cortado
em pétalas
surge
esse presunto
cortado
em pétalas
esfacelada
rosa
facetada em
pétalas
multifamélicas
Rio,
1977
Di/Dersu/Glauber
O
cinema é infinito — não se mede
não
tem passado nem futuro — cada
imagem só existe
interligada
à
que a antecede e à que a sucede
Vinicius de
Moraes
a Alberto Silva
meu
caro baiano
bim-bom
é saber
nada
foi engano
vai a
vida vem
a cota
de dano
ah do
átomo o a
conte
cimento
rocha
caleidoscópio
remontado
às
avessas
verso
de vinicius
&
seu reverso
redescobrir
shots
takes talks
traveling
canoros
anjos
tortos
como em
augusto
viajando
mortos
por
detrás de tudo
de
todos o amigo
di/dersu
no
contracampo
&
na memória
esse
aquele
isso
mauremílio
kurosawa
eisenstein/di
dersu/vinicius
mortos
são os mortos
como um
entrudo
é isso
e não é isso
mas
porém
todavia
contudo
di é
derzu &
aqueloutros
uzalá
uzaqui
mortos
são os
mortos
Rio,
1978
Balada do espelho d'água
Pelo decote do
horizonte
antevejo o seio da
saudade
(de
um pára-choque de caminhão)
só sobre o sol
peixe pinga pão
fiapos de sono
só sobre o mar
para a taverna
do
espelho d'água
lá quero voltar
vozes violão
suados salgados
algas
algazarras
surdo som sonar
para a taverna
do
espelho d'água
lá
quero voltar
esquivo salgado
espelhos lascivos
são seios saltando
das alças do mar
para a taverna
do
espelho d'água
lá
quero voltar
ENVOI
mãe-amante-chama
só um sol sem mágoa
esse
corpo olhar
d'água
sim escamas
reflexo de mar
mamas debruçadas
para
lá quero voltar
Araruama,
1978
Quase-quases
Para Sérgio
França
quase-quases
quase
meia-água
quase
meia pata
quase
meia cata
quase
meia pataca
quase
meia pacata
quase-quases
pataca
pacata
pataca
pacata
pataca
quase-quases
pacataguases
Cataguases,
1998
Salvador de Súbito
A Béu Machado, Carlos Athayde e Roberto
Gaguinho
o tédio dança entre cadeiras
na
cadência do aprendizado
meio milênio
sem nexo
acarajés haverá e abarás
nas
narinas
na ladeira da praça
haverá meninas
amaralinas haverá
o
mar o mar gaio e Glauco
maralto mar-adjunto
mar-lento sobe
desce
mar-vento sobre
meio milênio
sem nexo
sem
salva'dor
BAH!ia
rumo ao porto
um vento contra
tão lento tão trôpego tanto
meio
milênio
sem nexo
mas ah! ao menos
a lua há que amar
clamar
ou não
meninas há que amar
nas areais em vão
no contravento de amaralina
há
que amar
proclamando ou não
ao tempo côncavo e convexo
meio milênio
só sexo.
Bahia,
1964/1999
panem et
circenses
palavra pão coti
diano
em ano
panacéia cota
de dano em dano
um verso e seu re
verso
opus físsil pá
lavrador de ver
so panis et coellum pana
ceia et circenses pana
ceia
et circenses a pa
larva de rapina em vão
um desvão do ver
bordado em pó e
pano
ceia e um só coti
diano em ano ver
so um só me de
forma
e fundo
pão e circo
vigília
o frio corta
em duas franjas
a
paisagem
fiapos de azul
entrecortados
por serra
sono
cointreau
creme de café
cigarrillas
o frio corta
a
água queima
amor
tecendo o corpo creme
de café
inês adriana vera
revistas em quadrinhos
pôquer cama corpo quer
historinhas os meninos
murilo
dorme maurício
recorta me re/cor
da eu pó menino tam
bémlirando a máquina
ulla
corre grita chispa
se mela remela
clama reclama
"perfuminho
é meu
máquina é meu tinta
é meu é meu o mundo
é
meu" vera corre
atrás o
mundo é
de quem sabe amá-lo
por entre as frestas
e os fiapos do seu reino
profundo
entre
cortado amor
tecido
serra
azul
sono
cointreau
creme de café
cigarrillas
diretrizes
nem dor nem sorriso
incrível narciso
não o amor macio
mas
o branco cio
anão o diazul norte
mas noite-sul morte
não
o rio aço-brilho
mas o vazio: trilho
sem dor nem sorriso
salsugem
no sopé
das gerais
um homem
não
no topo
das gerais
a vida
sim
não
supõe
nebulosa
a trilha
claro o sim
sim
supõe
clara
a
trilha
nebuloso
o não
a
vida sim
o homem não
a vida sol
no topo
o
homem só
no sopé
entre sim
e não
minas
as meninas o sol
sertão das gerais
entre
sopé
e topo entre
não e sim
as gerais
o
só sertão
o homem não
a vida sim
decifra-me
dessofra-me
dissolva-me
o homem não
o
homem oh
mensagem
sal & gene
salsugem
soneto
& ½
vai num a
feto o verão
num
a
braço num
só laço
no coração
de
março
7 vezes 7 traços
7 meses pânicos
no alvéolo —
cisterna
e só um sol
atômico
aderna
esperma
stress
estrôncio
no
óvulo
alvo
novelo
atônito
POEMARFIM
