Ciumentos Paranóicos Anônimos
(da série "Mulheres sob Descontrole")
Meu nome é Berenice. Estou há dois dias sem segui-lo.
Terça feira, depois que saí daqui, não resisti e fui direto ao trabalho dele. Não entrei. De jeito nenhum eu faria isso! Fiquei olhando meio de longe, lá de fora. Ele saiu depois de uns 20 minutos e entrou no carro. Preparei-me. Óculos escuros e a peruca nova, loira, porque a ruiva ele já conhecia e estava muito manjada.
Fui atrás, queria ver.
Ele passou no supermercado e comprou algumas coisas que não consegui identificar. Tenho tanta raiva de mercados com sacolas coloridas! Passou na videolocadora e ficou quase uma hora lá dentro. E eu à espreita.
De repente apareceu na janela do meu carro:
— De novo, Berê?
Tentei explicar que faria uma surpresa, mas foi em vão. Ele me jogou na cara todo o meu passado comprometedor, as arruaças que já fiz e as confusões que já criei. Pediu-me para procurar um especialista e disse até que sou psicótica. Ah, se eu fosse mesmo, matava aquele desgraçado.
Ele pensa que eu não sei que mantém a amante em algum desses flats universitários no centro da cidade. Um dia, vou descobrir.
Dessa vez ele até riu da minha cara. Comecei a achar isso estranho porque antes ele discutia querendo me convencer. Mas agora... nem tentar mentir? Aí tem! Tenho certeza. Pensando bem, analisando friamente, vejo que ele pode estar usando uma estratégia maligna para me enlouquecer. Pode estar se fazendo de desentendido para que eu, ingenuamente, pense que a louca, paranóica e ciumenta sou eu. É isso mesmo. Ninguém muda de comportamento assim, do nada.
É mais uma armadilha dessa farsa chamada casamento. Meu Deus! Como não percebi isso antes?
Mas hoje eu pego! Hoje dou o flagra. Ele que me aguarde!