reductio ad absurdum: [lt.] "redução ao absurdo"; técnica de Zenon para evitar que a estupidez vencesse, num debate público, a sutileza.

 

refinamento: o refinado é alguém que deixou os seguintes estágios preparatórios para trás: a brutalidade inicial; as primeiras impressões de dor e prazer; o autoconhecimento básico; o conhecimento básico dos outros; a revolta com as coisas erradas; a aceitação das coisas erradas; a filosofia e as artes, noção suficiente de beleza (física e espiritual); o cinismo; o cinismo, temperado por uma arte sutil do hedonismo.

 

regra: nome antiquado da menstruação.

 

religião: a seguir, como Rilke definiu: "a arte daqueles que nada criam".

 

repetição: a repetição, como todos sabem, causa impressão de conhecimento.

 

resenha: um press release meio opinativo.

 

resgate: palavra antes ligada por oposição à idéia de seqüestro, ou de pessoas perdidas em mares, matas ou colinas, integra agora o patrimônio vocabular dos projetos de cultura: "O resgate da obra de Carlos Oblívio".

 

responsabilidade: é sempre interessante ter pouca.

 

retórica: sistema de padrões discursivos utilizado sempre, mesmo se o indivíduo ignora suas leis; transformou-se, no decorrer do tempo, em mais uma dessas palavras gastas que amassamos e arremessamos ao lixo, quando passou a significar tagarelice ou eloqüência (na acepção de palanque), e Verlaine chegou a escrever prends l’éloquence et tords lui son cou (pegue a eloqüência e torça-lhe o pescoço).

 

rigor: rigor é normalmente uma qualidade desejável num autor, mas às vezes se torna um defeito, o chamado rigor mortis, como já tivemos a oportunidade de detalhar.

 

rotina: poderosa droga utilizada pelo governo, pelas empresas, pelas religiões e pela televisão para tolher as idéias alegres e socialmente incômodas das pessoas.

 

roubo: tosca arte de bandidos de rua (e de parasitas literários) que foi muitíssimo aperfeiçoada pela classe política, a quem se deve recorrer para uma compreensão pormenorizada do tópico.

 

ruptura: cisão; em arte, Octavio Paz já demonstrou que há a tradição da ruptura, isto é, a tradição daqueles que rompem com a tradição.

 

rústico: [lt. rus, "campo"]; o rústico já foi duas coisas: o caipira, pejorativamente concebido como um bruto sem noção; o pastor, um filósofo natural e tagarela em contato com as coisas que realmente importam (suspiros).

 

 

 

 

agosto, 2006

 

 

 

chamaeleonte@yahoo.com.br

 

 

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