Chave

 

Que abre portas

Decifra mistérios

Fecha celas.

Se perdida

Uma simples cópia

É a solução.

 

Existe uma chave

Sem retorno

Se for perdida.

É a chave

Da porta da vida.

 

 

 

 

 

 

O mundo mudo fala

 

O mundo mudou muito

Desde ontem às seis horas da tarde

Meu vizinho comprou um carro

Madalena foi pro convento

Pedro José morreu enforcado

 

Aumentaram várias tarifas usuais diárias

O rádio transmite futebol

Ainda se fala de política

 

Vamos Clarice!

Não me olhe com esta cara de ontem.

 

 

 

 

 

 

Companhia

 

Trago no peito

Uma dor

Uma esperança

A alma acima

Da pródiga andança

 

Sou o quinto sono

Da rocha adormecida

O espanto do pássaro

Que há pouco cantava

 

 

 

 

 

*

Beirute de destroços

Quantas vidas

Sem esforços

Tombadas no chão

Estendidas.

 

Beirute das bombas

Morteiros e canhões

Não há mais luzes

 

Transformou-se em sombras

Morreram as flores...

 

Beirute

Sempre Beirute

Não mudará de nome ?

 

Quem sabe um dia

Mude de nome também

Essa guerra entre homens.

 

 

 

 

 

 

Igualdade

 

No descer do elevador

O orgulho desce junto

 

 

 

 

 

 

Noite de autógrafo

 

Quando estiver triste

E não for consolado

Procure meu livro

Ali encontrará um nome

Em forma de letras-rabisco

 

Se estiver contente

Procure no livro o significado

Que tem o ato de abri-lo

 

Se não estiver triste nem contente

Lembre-se, a poesia é latente

Ela vem e desaparece

Como a gente que é tudo

E ao mesmo tempo é ninguém

 

(imagens ©antônio gonzaga)
 

João Antônio BATISTA DE PILAR nasceu em Dois Vizinhos (PR), em 1960. Passou a infância em Palma Sola (SC). Em 1979, chegou a Curitiba e sem trabalho virou catador de papel, dormiu nos bancos das praças. Hoje é um poeta de rua: vende camiseta, livro, CD, poesia, faz declamação em eventos e lugares públicos. Tem um único livro publicado, A nona cartada, pela Impresa Oficial do Paraná.