VIRAL

 

          o ser

          substância

 

          se mistura

          com a terra

 

          se une ao

          cromossomo

 

          se adequa

          aos desníveis

 

           nos burla

nos empurra

 

            nos penetra

                   prolifera

 

danifica

           o que somos

 

           soma-se

                      aos desgostos

 

           nos habita

nos limita

 

 

 

 

LABORTERAPIA DA SEMSIBILIDADE*

 

Entre o fumo e a fama

onde o tráfico mama?

 

Entre a vaga e o provão

qual a cota de negociação?

 

Entre a fome e o verso

qual o Dailor do poema-processo?

 

Mais vale um troca-troca diamantes

que todos os livros nas estantes.

 

Menos vale um sonho por vir

que todas as bulas (lulas?) admitir.

 

Mais vale um poeta bastardo

que um plano-saúde privado.

 

 

*parceria com Jomard Muniz de Britto

 

 

 

 

OLÁ

MEU NOME

É POVO

 

sempre

disposto

a começar 

de novo 

 

sangue 

que nunca

escorre

 

sou meu

próprio porre

 

alma 

que não

declina

 

sou minha

própria vagina

 

ASSALARIADA

 

rodando

a bolsa

na estrada

 

DESPROTEGIDA

 

sentada

no torno

da vida

 

preenchida

por tipos

e protótipos

 

por nórdicos

e por nordestinos

 

por cretenses

e por cretinos

 

 

 

 

A PRENDA

 

se passo

por uma

poça

e piso

não pensem

que o passo

perece

não pensem

que um peso

de pluma

no peito

é prece

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

 

 

CHUVA DOURADA

 

Pra Cláudia Gonçalves

 

não deixe a chuva

molhar este poema

 

não guarde lembranças

deste temporal

 

sinta com os pés

a vibração dos pingos

 

todas as cores

dum dia nublado

 

não use guarda-chuvas

muito menos roupas

 

seja seu próprio abrigo

durante a tempestade

 

 

 

 

AS CINZAS DO NAUFRÁGIO

 

Pra Marinês Bonacina

 

me sangram

teus olhos

pela manhã

 

incriminam-me

pelas sagas

nas madrugadas

 

cobrem-me

duma luz cintilante

desconcertante

 

mar azulino

que acolhe

o nado

 

sussurra versos

com sotaque

do sul

 

envolve-me

numa maré

de segredos

 

 

 

 

FARELO

 

O poema

tem que ser

sequinho

 

MAGRO

 

se possível

nordestino:

desnutrido

e valente

 

deve ser

raquítico

definido:

 

COUREOSSO

 

 

 

 

INDIGESTUAL

 

Temidas são as verdades que perturbam.

A luz se revolta para dentro.

O sono é velado por um anjo devasso.

Em cada povoado, a semente de sua perversão.

Batinas estendidas na torre da luxúria.

Agora em duas vezes no hipercard.

A face viciosa que outros contemplam.

O grande trabalho está posto.

 

 

 

 

ESTALACTITE

é   a

m

ã

e

 

prefiro chover sem marcar

o mínimo orifício

já é um nascedouro

 

e o maior grito

nem sempre

é de socorro

 

 

 

(imagens ©anajanka)

 

 

 

  

 

Bruno Candéas nasceu em Campina Grande/PB. Residiu em Belém/PA, Taguatinga/DF e Rio de Janeiro/RJ. Atualmente vive em Recife/PE. Autor dos livros Poeta nu na alcova (2002), Filé 1,99 (2003), a Trégua dos ditadores (2004), Férias do gueto (2005), Indigestual (2007). Colabora com uma centena de fanzines, revistas, jornais e sites, no Brasil e no exterior.