© loredano
 
 
 
 
 

 

Ainda que "trafegue" por vertentes como o estranho, o maravilhoso, o insólito, o  inusitado,  o exótico, é via de regra no terreno do onírico — em que reside a maior parte, ou teor — do fantástico machadiano o sonho se antepondo e contrapondo à realidade, como nos marcantes "A chinela turca", "Uma excursão milagrosa", "O anjo das donzelas", "O Capitão Mendonça", "A vida eterna", "Decadência de dois grandes homens" e "Um sonho e outro sonho". Porém, vez por outra emerge uma narrativa marcada, e carregada pelo horror propriamente dito — ainda que Machado "disfarce" e "desconstrua" os efeitos de um macabro com bruscas retomadas da realidade, como no caso de "Sem olhos" — um dos menos conhecidos, lidos e estudados da safra machadiana — "Um esqueleto" e  "Os óculos de Pedro Antão", todos emblematicamente receptáculos da influência de Hoffmann e em especial, notoriamente em "Os óculos...", de Edgar Allan Poe.

 

Num viés, o tom, timbre e teor onírico em Machado são mediados, digamos assim, pelo estado de torpor vis a vis com o despertar, entre os quais se dão os eventos sobrenaturais, a provocar no leitor uma sensação de "desconforto", no final solucionada, a la Machado, pela dissimulação conferida ao desenlace da trama. Em outra vertente aparece o insólito, caracterizado precipuamente por situações e tramas que beiram o inverossímel, por vezes a um "quase macabro": Machado está longe de  se preocupar em  comprovar o que é real e o que é irreal, estabelecer as fronteiras da realidade e do sonho, como em "A mulher pálida", "O anjo Rafael", "A segunda vida".

 

 

novembro, 2008