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Importante  observar, nesse conjunto de histórias românticas, que à exceção de "História de uma lágrima", de 1867, os contos foram publicados já na década de 1870, período em que Machado iniciava gradativa, mas consistentemente, seu decisivo processo de inflexão, que se concretizaria na plenitude a partir de 1880-81. A evolução machadiana nos anos 1870 deu-se em absoluta e total consonância com o próprio processo de "ebulição" e transformação vivido pelo Império e sociedade brasileiras nessa época (um período emblematicamente representativo das nuances e injunções da história do Brasil do século XIX, trazendo em seu bojo uma crise de solução quase impossível  na  sucessão de fatos importantes — iniciada, em 1866, pela irrupção de um "novo liberalismo" (cf. Joaquim Nabuco), a  empunhar as bandeiras da eleição direta, dos limites do Senado vitalício e do Poder Moderador, bem como da "questão servil" (escravatura), fomentada pela Guerra do Paraguai (1865-70), a Lei do Ventre Livre (em 28 setembro 1871), a fundação do Partido Republicano (1870) e incentivada, sobretudo, pelo recrudescimento irreversível das aspirações (e manifestações) abolicionistas. Um naipe significativo de historiadores sustenta ter sido o período de 1868-71 relevante tanto para o presente de então, como para o futuro imediato, no sentido de fomentar e projetar consciências ideológicas e intelectuais, que ditaram decisivamente os rumos da história brasileira naquele  século e no início do seguinte). Nítida e lídima é a relação-interação entre a mudança do contexto político-social do Brasil do século XIX e as transformações formais e de conteúdo da obra machadiana. Não obstante, os contos escritos nesse período — abrigados como "histórias românticas" — obedecem ao diapasão do Romantismo, ainda que Machado já  esboce, aqui e ali, certos "desvios" de ordem  estética, temática e  mesmo de forma e conteúdo. Conferia às narrativas o teor romântico, sim, mas interpunha finas camadas de sua peculiar ironia.

 

Os contos que compõem este conjunto, publicados originalmente apenas no Jornal das Famílias, têm a característica comum de escassa edição posterior: apareceram somente na efêmera edição justo intitulada Histórias românticas, de W.M. Jackson, 1937, jamais reeditada, e não constam, nenhum deles, das mais conhecidas e re-publicadas coletâneas de Machado. As exceções são "Miloca", que integra a Obra completa de Machado de Assis (José Aguilar, 1959) e a seqüente Obra completa de Machado de Assis (Nova Aguilar, 1994), e em especial, "História de uma lágrima", incluído na importante coletânea organizada por Raymundo Magalhães Júnior, Machado de Assis: Contos sem data (Civilização Brasileira, 1958).

 

Trata-se,  portanto, de mais um precioso elenco para a expansão do conhecimento, estudo e  difusão da obra machadiana —  apresentado aqui com toda a excepcionalidade, e quase ineditismo que lhe são peculiares.

 

julho, 2008