A revista Modo de Usar & Co. saiu no fim do ano passado e é uma revista excelente. Gostaria de destacar alguns pontos muito interessantes, apenas para a leitora e o leitor saberem o que se pode achar nela.

 

Ela funciona em primeiro lugar como uma antologia de poetas brasileiros novos, porque está cheia deles, e dificilmente a leitora e o leitor encontrarão tamanha generosidade em oferecer exemplos do que se tem escrito por gente na faixa entre os vinte e trinta e poucos anos.

 

Há os ensaios. Escrevi um sobre Dom Tomás de Noronha, magnífico poeta do século XVII português de quem infelizmente (e por infelicidades crônicas da nossa apatia canônica e crítica) pouco ou nada ouvimos falar. Obviamente, menos pelo meu texto do que por seus poemas — ponho uma dezena deles lá — é interessante espiar.

 

Veronica Stigger escreve um sobre Alexander Calder. Muito perceptivo, numa abordagem muito interessante, porque não nos pressupõe, leitores, um bando de idiotas, nem segrega o público mais amplo com palavrões abstratos. É um modelo de crítica de arte sobre obras contemporâneas, sensível e objetiva, que procura o modo correto de pesar as qualidades de um objeto inovador, e de saboreá-lo com a inteligência.

 

Franklin Alves Dassie escreve sobre Sebastição Uchôa Leite um ensaio de leitor que respeita e admira seu objeto de atenção. Conquanto discorde, sobretudo no que entendo ser uma interpretação muito limitada do alcance e da intenção das idéias de Pound sobre concisão em poesia, é um ensaio estimulante justamente por levantar essas questões como muitos as compreendem hoje na literatura brasileira.

 

Destacaria ainda as traduções de Ricardo Domeneck, especialmente as brilhantes que fez para poemas de Hans Arp. São poemas vivos e frescos nesta língua de chegada, o português. Chamam a atenção para um nicho moderno pouco abordado, embora fundamental, o dadaísmo, de que quase nada chegou ao Brasil (ainda).

 

Haveria mais o que dizer, é claro, mas isto é apenas a notícia da revista, mes amis, no espírito destas fliegende blätter. É uma revista variada, com muitos autores jovens, e que fornece, além dos textos dos próprios, um circuito de interesses artísticos e literários deste período, no momento em que ele se faz.

 

março, 2008