GERMINA - REVISTA DE LITERATURA & ARTE GERMINA - REVISTA DE LITERATURA & ARTE
 
 
 
 
 
 
 

 

 

Consegui chegar em Paraty somente na quinta-feira, pois me encontrava em Brasília, tratando junto ao Conselho Editorial do Senado, com o senador José Sarney, da antologia de crônicas de Machado de Assis sobre política, que estou preparando para lançamento em outubro.

 

Paraty, atraente em qualquer época do ano, com ou sem festas e eventos, recebe milhares de pessoas — não aquele tipo de público de bienais ou feiras de livros, mas um público mais, digamos, seleto, mais ligado efetivamente em literatura e ciente de que esta Festa Internacional de Livros de Paraty é diferenciada, proposta a debates, explanações, reflexões sobre temas literários, e não apenas voltada para o comércio de livros propriamente dito.

 

Sob as florações típicas de um inverno algo estranho e sob um céu meio acinzentado, nada comum nessas paragens, a cidade é repleta de adultos e crianças desde quarta-feira: tendas e tendinhas permanentemente lotadas, diuturnamente como diz o poeta, da mesma forma que a conhecida Praça da Matriz. E os convidados, nacionais e estrangeiros, todos já estão prontos para as  mesas-redondas de que tomam parte.

 

 

1º dia – 02/07/2008

 

Roberto Schwarz — emérito crítico e ensaísta , um dos mais destacados intérprete da obra de Machado de Assis — deu início à festa falando sobre Dom Casmurro, a obra-mater machadiana (para mim, a máxima de toda a literatura brasileira).

 

E eu aproveito para 'meter minha colher' nisso: não podendo estar presente no dia e na hora, passei a Roberto, meu conhecido de longa data, um ensaio meu, que se reporta ao tema ("Machado, eterno enigma", publicado em revistas acadêmicas e em sites de literatura. Para lê-lo na íntegra, clique aqui) e com ele troquei, hoje, algumas idéias e opiniões.

 

Explicação necessária: o 'meter a colher' é a forma de estabelecer diálogo, de intextualizar esse meu intento, fazer dialogar pensamentos e escritos meus com os temas em discussão por aqui.

 

Um trechinho desse ensaio e do texto que dei a Schwarz:

 

(...) Ele sempre cultivou a dúvida, o 'traiu ou não traiu' (implícito em sua maior e definitiva obra), 'insinuou ou não', 'seduziu ou não', 'mentiu ou não', 'furtou ou não','fez ou não fez' — e é esse teor 'hamletiano', a ligá-lo e referenciá-lo a ninguém menos que Shakespeare, uma de suas maiores admirações e citação constante. Dele, Machado assimilou e incorporou à sua obra ficcional a temática do ciúme, aliás o binômio 'ciúme e perdão' — presente e atuante em romances como Ressureição, A mão e a luva, sobretudo em Dom Casmurro, e em inúmeros contos: binômio que remete a Freud, de quem Machado consubstanciou — sem o conhecer… — os elementos e conceitos do inconsciente, do psiquismo humano, da sexualidade feminina, estabelecendo como nenhum outro escritor brasileiro de seu tempo vetores e pontos de interseção entre a literatura e a psicanálise, desde as primeiras obras, mesmo as da 'fase de aprendizado' e atingindo seu clímax na denominada 'fase de maturidade'. Como sentencia Roberto Schwarz, "Machado é um autor que em 1880 está dizendo coisas que Freud diria 25 anos depois. Em Esaú e Jacó, por exemplo, antecipou-se a Freud no 'complexo de Édipo'. (...)

 

 

2º dia – 03/07/2008

 

Pelo menos consegui chegar a tempo da  última mesa da quinta-feira:  "Sexo, Mentiras e Videotape", reunindo três escritoras — a gaúcha Cíntia Moscovich  (autora de Por que Sou Gorda, Mamãe?), a portuguesa Inês Pedrosa (Fica Comigo Esta Noite) e a inglesa Zoë Heller (Anotações sobre um Escândalo) — e um mediador homem, o escritor português José Luis Peixoto, para discutirem sobre a literatura feminina e o mundo sob a visão da mulher. As três escritoras leram  trechos de seus livros e discorreram muito sobre a mulher no mundo, o feminismo e a literatura feminina — que elas dizem não existir, recusam tal "rótulo".

 

Aproveito e converso um pouco com elas e ponho de novo minha colherzinha no tema. Eis outro trecho de um ensaio meu:

 

(...) Preconizada por Virginia Woolf, na década de 1930 (no livro A Room of One's Own — Um quarto todo seu), defendida pelas feministas  européias de 1970, uma "escrita feminina" ganhou corpo (e forma) na literatura, sim senhor — queira-se ou não. Mulheres escritoras (ficcionais e não-ficcionais) têm voz própria, estilo próprio, linguagem própria, temática própria. Apesar das (para alguns, incontornáveis) dificuldades quanto à definição precisa do que seja uma escrita feminina, eu, particularmente,  entendo existir uma "literatura feminina" com elementos, valores e vetores próprios — que só fazem acrescentar e enriquecer a Literatura (e a Cultura, em geral). Fácil identificar entre escritoras brasileiras e estrangeiras contemporâneas uma escrita nitidamente feminina — com obras carregadas de suas características específicas.

Sem dúvida alguma, a literatura de autoria feminina já criou  seu espaço próprio dentro do amplo universo literário mundial. Desde fins do século XIX e principalmente no século XX, a principal transformação pela qual passou a literatura de autoria feminina é a conscientização da escritora quanto à sua liberdade e autonomia e a possibilidade de trabalhar e criar sua independência financeira.

Na verdade, as grandes mudanças que o século XX trouxe para a vida da mulher foram fator determinante para o surgimento e expansão de uma literatura feminina — reflexo e  manifestação dos novos papéis  da mulher na sociedade e no mundo. A gestação dessa 'nova mulher' deu-se pelo amadurecimento crescente de sua consciência crítica, que determinou  uma transformação radical da escrita realizada pela mulher: de uma literatura lírica-sentimental, de 'contemplação emotiva', para uma literatura ética-existencial, de 'ação ética-passional' — um caminho trilhado, e nitidamente percebido no meio exterior (por críticos, leitores, editores, agentes, midia, etc), na área da  prosa ficcional, da poesia  e do teatro.

Na nova ficção feminina, o amor — condimentado pelo erotismo, por vezes exacerbado — deixa de ser o tema absoluto para ceder espaço a sondagens existenciais, ao ludismo e ao feérico na invenção literária, ao questionamento político e filosófico. Tudo isso traduzido e materializado em experiências formais e estilísticas: fragmentação narrativa, intertextualidade, o foco narrativo múltiplo, o intenso fluxo-de-consciência, o registro labiríntico no lugar da estrutura linear, a exploração dos mitos, do esotérico, a clara opção a pela 'linguagem do corpo', "a procura do sentido das coisas" — essa talvez, a expressão-chave da escrita feminina contemporânea.

No Brasil, o surgimento de mulheres escritoras ocorre principalmente a partir do século XIX, no contexto da crescente importância da imprensa e do início de movimentos em prol dos direitos das mulheres. Quando as questões relativas à emancipação feminina começaram a aparecer na imprensa, as mulheres se organizavam associativamente e passaram a reivindicar maior participação na sociedade em mudança. Ocorreram então os primeiros movimentos organizados, tendo como principal objetivo a melhoria das condições de vida da mulher — desde que orientada pela ótica masculina. Na literatura brasileira, considera-se o romance Úrsula (1859), da maranhense Maria Firmina dos Reis, a primeira narrativa de autoria feminina. O romance reduplica os valores patriarcais, construindo um universo onde a donzela frágil e desvalida é disputada pelo bom mocinho e pelo vilão da história. Contrariando os finais felizes, a narrativa termina com a morte da protagonista, vítima da sanha do cruel perseguidor.

No entanto, de modo geral a escrita praticada por mulheres esteve ausente dos anos decisivos para a formação da literatura brasileira durante o século XIX , na vigência do Romantismo. Se não totalmente ausente do mercado, restrita a colaborações em periódicos de vida curta ou de público definido pela circulação no espaço doméstico (o que, de resto, significa em meados dos 1800 uma confirmação  antecessora  à  interpretação de Virgina Woolf, da década de 1930).

Naquele século XIX e na primeira quadra do século XX, no entanto, não foram apenas elas que escreveram 'sobre elas ou para elas': quatro  escritores-homens se destacaram por voltar-se, em graus e enfoques diferentes, para as mulheres. Joaquim Manuel de Macedo descreveu-a e tratou-a como "donzela de irrepreensíveis pendores", em especial, em A Moreninha e em inúmeros contos.  José de Alencar traçou o mais completo retrato da mulher 'urbana' da corte, no Brasil pós-Independência, no auge do romantismo, notadamente na trilogia  Senhora, Diva e Lucíola, além de nas novelas Cinco Minutos e A Viuvinha, e nos romances A pata da gazela, Sonhos d'ouro, Encarnação.  Lima Barreto debruçou-se como ninguém sobre a mulher 'republicana': primeiro na década de 1910, ao desenvolver o "tema de Carmen", uma série de artigos e crônicas em jornais e revistas nas  quais, a propósito de crimes ou julgamentos, ataca os homens "que se atribuem direitos sobre a vida das mulheres", denunciando crimes de uxoricídio, nos quais homens matavam "mulheres infiéis" — e, pior, eram absolvidos nos julgamentos por "legítima defesa da honra"; e ao longo de toda sua produção croniquesca em jornais e revistas ao tratar de questões como movimento feminino, voto feminino, direitos femininos.

Porém, nenhum escritor brasileiro do período 'edificou' tanto a mulher como personagem capital e leitmotiv básico de seus textos como Machado de Assis. Ele  escrevia sobre mulheres e para mulheres. Amores e frustações femininos eram temas constantes, sempre presentes o ciúme, o adultério, a prostituição, e as personagens femininas ocupam lugar privilegiado, lugar de destaque em todos os romances e na maioria dos contos. Nas linhas e entrelinhas de sua obra, Machado sempre chamou atenção para as necessidades e os direitos da vida afetivo-sexual de suas leitoras: argumentava que a mulher devia receber instrução e não ficar confinada à vida doméstica, tendo direito ao amor e à liberdade. Machado trouxe à luz a questão da sexualidade feminina, a exemplo de Flaubert, Balzac, Eça e, mais tarde, Freud. Na maioria dos romances e contos, a mulher é o elemento forte, põe o homem dependente, é também o esteio, a base da relação.

Para muitos estudiosos, Machado era mesmo 'feminista' e a cada leitura de seus contos, romances e crônicas nos damos conta da sutileza e da abrangência desse feminismo. Erigido como verdadeira categoria literária. (...)

 

 

3º dia – 04/07/2008

 

Embora o dia esteja nublado e com um ventinho frio, o clima  está muito agradável  em Paraty. As conversas literárias de hoje começam cedo, às 10h, e desenrolam-se pelo dia e noite sempre com muita, muita gente em volta, mais do que assistindo e ouvindo: debatendo, dialogando, participando.

 

 

O oblíquo olhar na economia

 

Nesta sexta-feira, ora ora, meu amigo e parceiro Gustavo Franco, emérito economista e homem público, tratou de "Machado de Assis e a economia", tema do livro que organizamos juntos, em 2007: fruto de minhas pesquisas sobre as crônicas machadianas (que geraram também aquela antologia sobre política, para o Senado Federal), levei a Gustavo os textos que Machado escreveu na imprensa sobre finanças e daí veio o livro.

 

Aqui também meto minha colher:

 

(...) Machado de Assis, sim senhor, tratou de fatos e assuntos da economia e das finanças, como nenhum outro escritor em sua época. Muitos de seus escritos no período 1892-96, publicados na Gazeta de Notícias [um dos principais jornais da capital nessa ocasião, ao lado do Jornal do Commercio, O Paiz, Jornal do Brasil, Diário de Notícias, A Cidade do Rio, Rio-News] mostram como o notável escritor, cronista, autor e criador debruçou-se com seu olhar acurado, lúcido, crítico, irônico, satírico — por vezes claro, nítido e direto, por vezes  oblíquo, dissimulado, sutil — sobre as mazelas provocadas e advindas, nos tempos novos da República, de uma ciranda financeira e sua plêiade de emissões, crédito luxuriante, jogatina, falências em cadeia. Não sem antes, ainda no tempo imperial, ter passado pelo machadiano crivo, aguçado e satírico, quebras de bancos — a "quebra do Souto", alusão à  falência da Casa (bancária) A. F. Souto & Cia, em 1864 — o "estouro" da bolsa de valores em 1867, a crise financeira inerente à guerra do Paraguai (1865-70), os problemas da conjuntura econômica, envolvendo companhias, bancos e entidades.

As crônicas machadianas referentes à economia trazem uma espécie de tese sobre o Brasil: examinadas em conjunto, formam um enredo de sátira ativa ao nítido capitalismo de Estado que vicejava no país, em que tudo emanava do governo, fosse imperial como até 1889, fosse republicano. Machado percebe nitidamente o quanto o capitalismo brasileiro da época era "uma idéia fora lugar", uma máscara sobre uma economia composta de concessões e privilégios todos emanados do Estado. Não é outro o sentido, por exemplo, da postura crítica, no caso notavelmente cética, com relação ao acionista — personagem central de  uma  alegoria  sobre a atividade empresarial no Brasil do final do século XIX: o acionista machadiano não é similar ao de nossos dias, tampouco se preocupa com as boas práticas de governança corporativa; para ele, não vale a pena participar de assembléias ou interessar-se pelos destinos da empresa, não há por que se envolver com rituais societários, se tudo, a rigor, era decidido pelo poder público. Tem plena consciência de que o Estado mandava tanto na economia e no país que qualquer outra forma de pensar o capitalismo brasileiro seria mero fingimento.

As crônicas de Machado que tratam de finanças e economia formam um elenco bastante significativo de sua produção não-ficcional: são 79 textos escritos sob o  clamor crítico-satírico do olhar machadiano, feito testemunho incomparável  sobre a história  brasileira nas quatro últimas décadas do século XIX. (...)

 

 

4º dia – 05/07/2008

 

Os acasos na vida e na literatura

 

No sábado, uma das atrações mais concorridas foi o encontro entre o  brasileiro João Gilberto Noll — autor de Acenos e Afagos, recém-lançado — e a cineasta argentina Lucrecia Martel — diretora de La Mujer Sin Cabeza, exibido no Festival de Cannes em maio e no sábado, na Casa de Cultura de Paraty — ambos falando sobre o modo como desenvolvem seus trabalhos, na literatura e no cinema. Para Noll, "a vida, no fim das contas, é um festival de acasos", e completou o discurso dizendo que o objetivo da literatura é "mostrar o que está arredio, evidenciar o que está fora do nosso convívio social, aquilo que não se pode dizer sob pena de ser internado em um hospício".

 

A propósito, devo eu dizer que (e aí está minha colher):

 

(...) Desnecessário e dispensável explicar a importância do leitor para que se produza um texto, ou uma obra — a Literatura, como "sistema orgânico", conforme  a concepção formulada por mestre Antonio Candido, só existe e se faz a um autor/emissor se houver a derradeira instância do leitor/receptor, travando-se um diálogo e estabelecendo interatividade. Ou, segundo a linguagem da Teoria Literária, desenvolvendo-se, ou a se desenvolver, idealmente a conexão narrador-narratário. Sim, porque há leitores e leitores. Existe o leitor empírico, aquele que de fato está lendo o texto ou a obra, que não é necessariamente aquele a quem o texto ou a obra se endereça, aquele que o autor tem em mente ao escrever. Umberto Eco, em Seis passeios pelos bosques da ficção, afirma que todo texto "é uma máquina preguiçosa pedindo ao leitor que faça uma parte de seu trabalho", daí existindo um leitor pressuposto para o texto ou a obra, e adota o termo leitor-modelo, um  leitor com determinada soma de informações, conhecimentos, crenças e expectativas, que passa a participar da construção e da tecelagem do texto ou da obra. Ao leitor-modelo umbertiano integra-se, como agente simétrico, o autor-modelo — a voz anônima que conta a história, mas não se confunde com o narrador, nem com o autor.

O que quero dizer com tudo isso? Conclamar e reunir leitores empíricos, leitores-modelo e  autores-modelo e dizer que você também é autor destas linhas. (...)

 

E vou mais além — para tocar num tema também objeto de conversas informais por aqui, nas tendas, nas ruas, nas praças, no ar:

 

 (...) se você não consegue se concentrar muito tempo numa leitura, se quando entra na internet, p. e., abre várias telas ao mesmo tempo e muda a direção de sua atenção freqüentemente, e isso lhe preocupa/angustia: não se desespere... O fato de estar divagando entre diferentes universos não é necessariamente algo ruim. Para o escritor argentino e professor de literatura de Princeton, Ricardo Piglia, trata-se apenas de um novo momento da "experiência da leitura", ou melhor, uma retomada de um conceito anterior: o leitor que assume a interrupção como parte da narrativa já foi antecipado por seu conterrâneo Macedonio Fernández, com o conceito de "lector salteado" — um leitor intermitente, que pula de um assunto para outro ou se dispersa facilmente. Que é um retrato do leitor atual, não mais aquele que se encontra isolado, concentrado, e lutando contra a interrupção, mas que entra e sai do texto, se move, interage com o que está ao redor, vai de um livro a outro ou a outros textos mais rápidos que lhe surgem pela internet, um leitor que assume a interrupção como parte da narrativa. É o leitor contemporâneo, que  vasculha a internet por links para textos que ampliem seu universo de leitura, ou que possam conferir a quem lê significados mais amplos, que transcendam o texto. (...)

 

 

5º dia – 06/07/2008

 

Aproxima-se o fim da Festa, mas o clima em absoluto é de 'fim de festa' (aquele momento, como dizia o melhor revisor editorial que conheci, há muitos anos, do "bolo com sorvete" — combinação esdrúxula e indesejável, anunciando o fim). A animação continua, há debates aqui e ali e depois filmes sobre Machado, que aliás rolam desde sexta-feira.

 

 

Espetacular tabelinha intelectual

 

Mesa sobre futebol: estranho, num evento literário? Óbvio, que não, pois 'futebol é cultura' (sic), já vaticinaram intelectuais de porte (que eu cito em ensaio que publiquei: "Futebol, literatos e duas cidades — Rio e São Paulo). Além do mais, essa aqui reuniu um senhora dupla intelectual: o antropólogo Roberto DaMatta e o músico-crítico-ensaísta-professor José Miguel Wisnik. O primeiro tratou do futebol em termos mais sociológicos, enquanto Wisnik enveredou pelo caminho literário, falando nas dimensões épica, dramática e lírica do jogo.

 

Entro na tabelinha como um terceiro atacante — ou volante — lançando a bola, quer dizer, um trecho do ensaio a que me referi:

 

No Rio de Janeiro...

 

(...) O futebol, todos sabemos, surgiu no limiar do século XX no Rio de Janeiro como "uma grande novidade", mas  por ser esporte de origem inglesa, logo cairia no gosto das rodas elegantes da cidade (que na época cultivavam quase que exclusivamente o remo) e, de imediato, por suas próprias características, despertaria paixões acirradas, não apenas entre torcedores e admiradores dos clubes então formados (Payssandu Cricket Club, Fluminense Foot-Ball Club, The Bangu Athletic Club, etc.).

Na esteira de João do Rio, impressionados com a avassaladora popularidade do futebol, os intelectuais, e notadamente os escritores, se entregaram à tentação e ao desafio de interpretá-lo. Dentre eles um logo se notabilizou como o maior dos adeptos, o mais vibrante entusiasta do novo esporte, tornando-se em pouco tempo  grande ideólogo do jogo, mergulhando obstinadamente na defesa apaixonada das vantagens de sua dissiminação: Coelho Neto. A atração que o futebol logo exerceu sobre ele manifestou-se já em seu romance Esfinge, publicado em 1908, por Lello & Irmãos, do Porto, em que o personagem James Marian, um inglês hóspede da pensão de Miss Barkley, tinha o hábito de "aos domingos, sair cedo com seu material de tênis e com roupa para o foot-ball". E o futebol passaria a ser, a partir daí, tema omnipresente não só nas crônicas e discursos, mas também — e principalmente — na vida pessoal de Coelho Neto.

No futebol,  Coelho Neto via "enormes vantagens sociais"­­, ajudando a criar uma sociedade na qual os homens, qual os esportistas, fossem adestrados pelo exercício físico, criando um tempo de paz e de harmonia e abrindo o peito para valores nobres de confraternização e integração social. Gerando harmonia e solidariedade entre os homens, controlando seus impulsos e moldando seus corpos e suas mentes na construção de um ideal de pátria, o futebol seria a força propulsora de uma nação forte e vigorosa e os jogadores representantes dessa nova nação que se erguia dos campos.

Mas teria de enfrentar, do outro lado, a acirrada oposição de ninguém menos do que Lima Barreto, de pronto alinhada entre "os tantos inimigos que pela imprensa o combatem" e que logo passou a fazer do futebol um de seus temas prediletos nas páginas da imprensa carioca. Com espaço e reconhecimento já assegurados nos círculos literários, com três romances e uma infinidade de  crônicas, Lima inaugurou seus ataques em 15 de agosto de 1918 no artigo "Sobre o Foot-ball", no jornal Brás Cubas.

Lima atentava, desde o princípio, para a força social do jogo: longe de ser um mero passatempo sem sentido, era capaz de inspirar "paixões e ódios" — e o futebol adquiria para ele uma seriedade ímpar, que o obrigaria como ‘crítico de costumes’ a dedicar-se profundamente ao novo fenômeno. Transformando-se no paladino do combate ao jogo de bola, Lima elegeria justamente Coelho Neto como o principal adversário. A partir daí, Lima aumentaria nos meses seguintes a quantidade e intensidade dos ataques, passando, no entanto, a valer-se, por vezes, de fina ironia, como nos artigos "Vantagens do foot-ball" e "Uma partida de foot-ball", escritos para a revista  Careta, respectivamente, de 19 de junho de 1919 e 4 de outubro de 1919. Dos artigos, agressivos ou irônicos, de Lima Barreto, surge a imagem de um jogo brutal e sem sentido, totalmente diferente do elemento de regeneração social preconizado por Coelho Neto, para desespero da imprensa carioca, quase toda ela empenhada em prestigiar o futebol. As aludidas "verdadeiras atrocidades promovidas pelo futebol", eram denunciadas por Lima Barreto — como na crônica intitulada "Divertimento?", publicada na revista Careta, em 04 de dezembro de 1920, em que destacava os inúmeros conflitos e constantes brigas ocorridos nos campos, com tumultos e batalhas entre torcidas diferentes, registradas nos jornais diários a cada segunda-feira, culminando  com o tiroteio num jogo entre o Metropolitano e o São Paulo e Rio em 18 de dezembro de 1920 — como atestados de que, mais do que casos isolados, seriam "o fim próprio e natural do jogo", como sustenta no artigo "Uma conferência esportiva", na revista Careta de 1º de janeiro de 1921.

Por trás da contestação estava muito mais do que uma questão literária ou mera contestação do papel de redenção social que Coelho Neto atribuía ao futebol: Lima via nele um fator de degeneração da cultura e da política nacional, pois patrocinava uma injusta e gritante diferenciação social e regional. Porém, não eram apenas econômicas e sociais as distinções combatidas por Lima Barreto, mas também raciais, vedando aos negros participação nos grandes clubes de futebol: em 1921, quando o próprio presidente Epitácio Pessoa proíbe jogadores negros de fazerem parte do selecionado que ia à Argentina disputar um campeonato, Lima foi duro nas críticas, publicando no mesmo dia 1º de outubro de 1921 dois artigos — "O meu conselho" e "Bendito foot-ball" — no jornal A.B.C., onde afirma que "quando não havia foot-ball, a gente de cor podia ir representar o Brasil em qualquer parte" e  aponta o caráter nocivo do futebol para o país. "É o fardo do homem branco: surrar os negros, a fim de trabalharem para ele. O foot-ball não é assim: não surra, mas humilha, não explora, mas injuria e come as dízimas que os negros pagam".

Vendo nos sócios dos grandes clubes os herdeiros dos antigos senhores de escravos, Lima enxerga no futebol "uma das formas de continuação da dominação exercida durante décadas pelo regime escravista, onde se troca a violência pela humilhação de quem paga impostos para sustentar, com subvenções oficiais, um jogo ao qual não tem acesso", o futebol aparece nos textos de Lima Barreto como "um poderoso instrumento de domínio utilizado por uma raça que se julga eleita por Deus graças às suas habilidades nos pés; como a escravidão, sua única finalidade é criar uma separação idiota entre os brasileiros, perpetuando as desigualdades e continuando um passado de diferenciação e segregação" (artigo "O nosso esporte", publicado no jornal A.B.C., de 26 de agosto de 1922).

Direta ou indiretamente, não há dúvida de que os literatos como Coelho Neto e Lima Barreto e suas polêmicas alimentavam um processo que anos depois faria do futebol, como o é hoje, uma verdadeira instituição nacional. A realidade incontestável é que o futebol continuou — e continua — ao longo do tempo, sua meteórica ascensão e disseminação entre todas as camadas e estratos, como 'força esportiva', 'força social', 'força cultural'. Esporte mais popular, no Brasil e no mundo, seguiu sua trajetória sensibilizando escritores, artistas e intelectuais: de Graciliano Ramos, que o repudiava ("Futebol não pega, tenho certeza; estrangeirices não entram facilmente na terra do espinho", em 1919), a Orígenes Lessa e Fernando Sabino, p.e., que o inseriram em contos; de Gilberto Freyre (entusiasta de primeira linha), que incluiu o futebol em muitos de seus escritos, a Mario Filho — autor do memorável O negro no futebol brasileiro — e  chegando ao auge da paixão futebolística 'a serviço' da literatura, nela integralmente enfronhada e estigmatizada, em José Lins do Rego e Nelson Rodrigues. (...)

 

E em São Paulo...

 

 (...) Nenhuma cidade brasileira apresenta tamanha precocidade na introdução do futebol como São Paulo: já no final do século XIX, era praticado em clubes, empresas (de capital inglês) e escolas; em 1896, p.e., o velódromo da família Prado, na Consolação, foi reformado para abrigar partidas de futebol; em 1902 a cidade organiza o primeiro campeonato de futebol do país — a primeira partida de futebol realizada no Brasil, dentro das regras oficialmente estabelecidas na Inglaterra em 1863, aconteceu na Várzea do Carmo, entre as equipes inglesas São Paulo Railway e The São Paulo Gaz, em 14 de abril de 1895 (jogo ganho pela primeira por 4 x 2); e o primeiro clube de futebol formado essencialmente por brasileiros foi o Mackenzie College, criado em 1898.

De acordo com interpretações históricas, um dos proeminentes vetores da popularização do jogo de futebol, tanto no Rio como em São Paulo, teria sido resultado direto da intervenção dos patrões, das autoridades, do Poder Público — no Rio, como contraposição à capoeira, já prática proibida; em São Paulo, como antídoto contra as greves: a emergência e fortalecimento do movimento operário por volta de 1917 'revelou' ao governo e aos empresários  que a cidade precisava de "um esporte de massas" (sic); os operários seriam então 'mandados a jogar futebol', para o que os patrões "deveriam construir grounds". O futebol seria assim um eficiente instrumento 'disciplinador', utilizado e patrocinado pelos industriais "para ordenar os trabalhadores e dinamizar a produção", "um ensinamento de disciplina e de harmonia" — o esporte sendo muito mais uma imposição ou uma 'dádiva', muito menos prazer e desejo e iniciativa de quem o praticava.

O grande interesse popular pelo futebol, em São Paulo, levou até mesmo Monteiro Lobato, então acadêmico de direito, a registrar numa carta  a Godofredo Rangel, em 11/07/1904: "(...) E cá estou de novo em São Paulo, mas ainda atribulado. Mudei-me para um quarto de frente na rua Araújo 26, com um lampião de rua bem junto à minha janela. Tenho luz de graça. E defronte há uma vizinha janeleira que já piscou. Em vez de namorá-la, meti-me no futebol — "Palmeiras". Joguei vários dias seguidos e fiquei mais derreado que com as léguas do sertão. Estou cheio de pisaduras e dodóis. Isto deve ser o que na "Vida Intensa" o Th. Roosevelt quer. O futebol empolgou-me de alma e corpo; escrevo crônicas de futebol e jogo. Diz o Tito que é mania — e diz-lhe o Raul: "Jacques, tu es un âne". Seja como fôr, asseguro-te que o futebol apaixona e contunde". O mesmo Lobato de um discurso fervoroso em 1905, após assistir a jogos entre paulistanos e ingleses: "(...) Essa luta tinha para a população de São Paulo um significado moral dez vezes maior do que a eleição para um presidente do Estado (...) O último goal do Paulistano provocou a maior tempestade de aplausos jamais conhecida em São Paulo. (...) É desta espécie de homens que precisamos. Menos doutores, menos parasitas, menos bajuladores, e mais struggle-for-life. Mais homens, mais nervos, mais corpúsculos vermelhos, para que um Camilo Castelo Branco não possa repetir que ele tem sangue corrompido nas veias e farinha de mandioca nos ossos".

Apesar disso, não conseguia  suscitar grandes  paixões que extrapolassem o âmbito esportivo. Intelectuais e escritores — caso de Amadeu Amaral, Sylvio Floreal, Hilário Tácito — apenas esparsa e timidamente o registravam em seus escritos: quando muito, admitiam e exaltavam a plasticidade do jogo, a elasticidade das jogadas, a empolgação dos que praticavam e assistiam as partidas. Mais tarde, já pelo final da década de 1910 e início de 1920, em São Paulo dava-se a dedicação documental-historiográfica de Antonio Figueiredo e Leopoldo Santana, um relativo envolvimento de Menotti Del Picchia (registrando-o em poemas, no roteiro do primeiro filme do cinema brasileiro sobre futebol, Campeão de futebol, homenageando Friedenreich, na frase "o Corinthians é um fenômeno sociológico a ser estudado em profundidade") referências de Cassiano Ricardo, a simpatia de Raul Bopp (em artigo sobre o "élan magnético" que o atraía para o futebol), e sobretudo o 'fervor' de Alcântara Machado (não só pelo famoso conto "Corinthians (2) vs. Palestra (1)",mas por uma relação direta com a difusão dos esportes no Brasil, fundador da primeira Liga Atlética Acadêmica do Brasil, "uma entidade poliesportiva devotada à propaganda, à prática e ao apoio de todas as formas de cultura física, vista como chave para se entrar na vida moderna propriamente dita"),o completo envolvimento de Francisco Rebolo (artista plástico e jogador de futebol, e um dos pioneiros na luta pela incorporação do negro no futebol brasileiro), a motivação de Candido Portinari (em duas séries de trabalhos "Futebol em Brodósqui"), dos artistas Rodolfo Chambelland, André Lhote, Antônio Gomide. Tudo, no entanto, sem aquela empolgação — até mesmo de cunho filosófico e ideológico, como no Rio de Janeiro — que a cidade de São Paulo, pioneira na introdução do futebol no Brasil, na fundação dos clubes especificamente de futebol, na prática generalizada e popular do futebol, merecia. 

Inclusive, recebendo, por outro lado, de Mário de Andrade e Oswald de Andrade crítica e repúdio (mas em ambos amenizando-se ao longo do tempo, muito mais em Oswald do que em Mário, sem nunca alcançar o engajamento empolgado...). Mário o via como "uma moda fútil entre tantas que aportam da Europa" em Paulicéia Desvairada, "uma praga" em Macunaíma, e não deixa de realçar a violência e o teor elitista do futebol "permeado de expressões estrangeiras" — a la Lima Barreto — em algumas crônicas, embora em 1939, acentue a transformação verificada em torno do futebol, o processo de apropriação pela identidade da nação chegando a adquirir um caráter antropofágico, onde se afirmava a capacidade brasileira de deglutição, bem como de assimilação das influências estrangeiras e de sua transformação em expressões genuinamente nacionais. Oswald referiu-se com uma certa simpatia (mais irônica) nos versos do poema "E a Europa curvou-se ante o Brasil", em que refere-se à excursão do Paulistano à Europa, em 1925, e em "Bungalow das rosas e dos pontapés", poema sarcástico sobre a violência do futebol; embora sempre combatesse o futebol, como veículo de "alienação", mais tarde iria referir-se, num artigo de jornal, como "um fenômeno da modernidade de fundamento religioso, ao lado dos festivais de cinema e da política"; e ligou-se a Mario Filho e a Candido Portinari justamente por causa do futebol...

O futebol, posteriormente, encontrou acolhida em muitos contos de João Antônio e Ignácio de Loyolla Brandão; 'receptividade' em  escritos de Sergio Milliet, de Sérgio Buarque de Holanda, Paulo Emilio Salles Gomes, de Anatol Rosenfeld. Intelectuais paulistanos, paulistas  e migrantes/radicados — como Décio de Almeida Prado, Nicolau Sevcenko, Waldenir Caldas, José Sérgio Leite Lopes, Francisco Costa, Luiz Henrique de Toledo, Fátima Martin Rodrigues Ferreira Antunes — que se dispuseram a buscar uma compreensão do futebol, construíram "uma percepção do esporte como uma ágil e poderosa forma de expressão do caráter nacional; uma codificação positivista da estrutura social brasileira: o indivíduo, valendo-se de características muito peculiares, sobressairia-se a quaisquer empecilhos à sua sobrevivência e/ou ao relacionamento social, e assim alcançaria o sucesso e aceitação coletiva".

Prossegue o futebol — e prosseguirá será ad eternum — sempre provocando prazer e dor, polêmicas e alegrias, brigas, tumultos, conflitos, prazer, tristeza, paixões e ódios — nos campos, nos estádios, nos gramados, nas arquibancadas, nos terrenos baldios, nas várzeas, nos corações e mentes de todo o País. (...)

 

 

Shandiano e menipéico

 

Um dos grandes lances deste último dia foi a mesa-redonda "Papéis avulsos", com  Ana Maria Machado, Luiz Fernando Carvalho, Sergio Paulo Rouanet, e mediação de  Lilia Schwarcz: uma primorosa  homenagem a Machado de Assis. Luiz Fernando Carvalho, responsável por algumas das mais premiadas adaptações da literatura brasileira para o cinema e televisão, falou sobre os desafios de transformar o romance Dom Casmurro na minissérie Capitu; a premiadíssima Ana Maria Machado discorreu sobre suas relações intelectuais com Machado e como ele "moldou" a escrita dela; Rouanet, emérito machadiano, desvendou meandros da edição com a  correspondência de Machado que prepara.

 

Minha colher aqui vem a propósito do termo cunhado por Rouanet — "shandismo" — que caracteriza, junto com a sátira menipéia, os vetores básicos, e explicam, a histórica inflexão machadiana, na década de 1880, dentro do processo de sua evolução literária.

 

(...) Existe uma expressão, hoje comum e consensual no meio da machadologia (e da machadofilia), que define uma forma literária, que vindo de Sterne, de Maistre, Garret e Diderot, adquire em Machado sua substância mais consistente, simbiótica e conclusiva, inclusive, dando a essa forma literária seus contornos e conteúdo definitivos, e realizando algo absolutamente sui generis em toda a prática, ou teoria, literária, qual seja, de um lado, induzir a interpretação de seu Memórias Póstumas de Brás Cubas sob os vetores desses  elementos definidores dessa forma literária formulados por ele; de outro, em movimento retroativo, que  se aplicasse esses elementos também na interpretação das obras que lhe serviram de modelo (Vida e opiniões de Tristan Shandy, o cavalheiro; Viagem em torno  do meu quarto; Viagens da minha terra: Jacques, o fatalista), um caso único na história literária de uma obra e um autor posterior influenciar obras e autores anteriores, algo como o influenciado influenciando quem o influenciou. Essa forma literária, sedimentada por Machado e subsidiante da compreensão crítica dos autores de seus modelos, é a forma shandiana, caracterizada por a) atuação intensa e imprescindível do narrador, mais do que nunca e mais do que em outro tipo de narrativa uma persona do autor; b) fragmentação, temporal e espacial, da narrativa, essa extremamente não-linear, dotada de circularidade; c) digressividade, seja extratextual seja intratextual; d) alta rotatividade de pontos de vista narrativos e acentuada volubilidade no tratamento dado ao leitor, ora arrogante e presunçoso, ora gentil e deferente.

À forma shandiana estão associadas — não de modo genérico e onipresente, porquanto, válido em algumas obras e autores, em outros não — a sátira menipéia e a tradição luciânica, originadas de uma tradição grega, dos diálogos socráticos, que mesclam temas especificamente filosóficos com assuntos de retórica e dialética, eivados de hilaridade, comicidade e ironia: na duplicidade sério-cômico, abriga o popular, o erudito, o burlesco, tornando-se, p. e., um dos elementos basilares da carnavalização conceituada por Mikhail Bakhtin. Na obra machadiana, a partir da década de 1880, denota-se a presença marcante de manifestações da sátira menipéia, como a paródia, o subterfúgio, a profanação, o disfarce e, em especial, a 'desconstrução' de formas literárias.

A forma shandiana e o 'shandismo' foram o instrumental de que Machado se valeu para promover e concretizar o grande salto literário de sua obra, no final da década de 1870/início de 1880 — com a plena consciência de que tinha de mudar temática, tramática e estilisticamente, subvertendo e solapando o Realismo literário então vigente, e criando uma linguagem, ficcional e não-ficcional diferenciada — mescla do humor e da seriedade, da galhofa e da crítica social e política, do riso e do tédio. (...)

 

 

julho, 2008

 

 

 

 

 

Mauro Rosso. Pesquisador de literatura brasileira, ensaísta e escritor, autor de São Paulo 450 anos: a cidade literária; Cinco minutos e a viuvinha, de José de Alencar (edição comentada); Os "contos argelinos": Lima Barreto, a política, o patrimonialismo, a literatura militante; Machado de Assis e as finanças: o olhar oblíquo do acionista; Queda que as mulheres têm para os tolos: Machado de Assis, o subterfúgio, o feminino, a transcendência literária; Contos de Machado de Assis: relicários e raisonnés. Escreve o blogue Caixa de Pandora.
 
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