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a Paul Driessen
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uma cabeça sobre o trilho
o trem entra por um ouvido e quase sai pelo outro
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sempre chega outro trem antes daquele que chega
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contrita à conveniência de não alcançar a corda de enforcar a cabeça, ressalva aos ventos senhora de pedras dialogar é firme quanto um bicho de carga: carrega o céu acima inteiro mas não lhe carrega um nome
2
coar o céu de nuvens falsas:
1
branco amarelo
2
quarar a grama de preguiça:
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branco indelével
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corar o ar de segredos:
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branco inevitável
2
questão de espalhar mármores
1
branco
2 branco
1
catar conchas, (leitura de cascos: hidratar dedos de sereias, ressonar de algas pra resgatar areia)
2
catar conchas é retocar o mar, mito no quarto
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enclausurar o olho 2
(de ter tudo pra ser cego)
1
na face oculta do crânio reorientar o horizonte concavar-se
pois recolocado à cabeça (amargo o que foi cristalino) o olho é mais que um grito do rosto
2
duas cabeças
1
cegar de um olho trapaceia meio mundo
2
segunda cabeça
1
e cada terceira metade perde-se a cada susto de acordar
2
cabeças
1
todos os olhos, água de olhos
2 água de lavar cabeças
1
água capitular
2
ar aberto de lombadas
1
um olho abre um fenda na luz
2
dois olhos abrem uma fenda em uma possível caverna, a quilômetros
1
o quarto, quinto olho está à direita do olho direito e à esquerda do olho esquerdo
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ver é congruir cabeças
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cabeças a vermelha para a azul a azul para a vermelha
2
verde
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(imagem ©resurgere) |
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Victor Paes. Escritor, ator e editor da Confraria do Vento. Foi publicado pela Editora Record, no Prêmio Nossa Gente, Nossas Letras, e recebeu o Prêmio Jovem Artista, da Rioarte, por texto teatral depois encenado no Projeto Nova Dramaturgia, no teatro Carlos Gomes. Sua peça Mara em um quarto estará em cartaz durante o ano de 2008, com direção de Lene Werneck. É autor do livro O óbvio dos sábios, Confraria do Vento Editora. Escreve o blogue Victor Paes. |
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