01 - Cinzas do espólio é um livro onde Ivan reúne prefácios, apresentações, resenhas, ensaios inéditos e conferências. Gosto da profusão de textos variados que se unem. O texto de boas vindas é simpático;

 

02 – em todos os textos há enxertos. O método é o seguinte: um texto em aspas entra num espaço previamente elaborado. O autor é um pesquisador nato. Faz uso de textos de terceiros para embasar sua crítica;

 

03 – no texto Mestre Carpeaux Ivan lamenta o desencaminhamento que alguns poetas comprometidos contra a ditadura militar (1964-1985) causaram à poesia brasileira. Justamente pela poesia compromissada;

 

04 – no citado texto há uma diferenciação de alegórico e simbólico no tocante à obra de arte;

 

05 – em Mestre Carpeaux vale notar também a posição do mestre a respeito do poeta Pound;

 

06 – para Carpeaux a música era a arte das artes;

 

07 – Ivan Junqueira afirma em Quem tem medo de Lêdo Ivo?: "verdadeiro poeta nasce poeta, mas não nasce pronto como tal";

 

08 – "Primeira Lição" de Lêdo Ivo. Transcrito no texto citado:

 

Um dia num muro

Ivo soletrou

a lição da plebe.

E aprendeu a ver.

Ivo viu a ave?

Ivo viu o ovo?

Na nova cartilha

Ivo viu a greve

Ivo viu o povo.

 

09 – aderindo ao método que falo na segunda dessas anotações "parece não haver mais dúvida, sobretudo entre os filólogos e os linguistas, de que a poesia precede todas as formas de manifestação literária em qualquer língua culta que hoje se conhece" (De A criação literária);

 

10 – sobre pós-modernidade Ivan diz que "estamos, isto sim, num período agônico, mas agônico naquele sentido de luta que lhe confere o espírito cristão, e que aqui prefiro chamar de baixa modernidade ou de modernidade tardia" (De A criação literária);

 

11 – Ivan diz que a melhor poesia que se pratica atualmente está no Norte/Nordeste. No Amazonas, no Pará, na Bahia, em Pernambuco e no Ceará e no Maranhão (Em A poesia brasileira no fim do milênio);

 

12 – Diz Ivan que "no que diz respeito ao transbordamento verbal da alma cabocla, essa praga que nos vem desde os românticos, é bem de ver que o poeta brasileiro, ao se dar conta de seu ciclópico engenho e de sua infinita prestidigitação rítmica e melódica, julga que já sabe tudo e que é capaz de tudo, transformando assim a dura e severa prática da poesia numa estúpida e efêmera banalização". (Em A poesia brasileira no fim do milênio). Puro preconceito formal (digo: preconceito em relação à forma da poesia) que não se sustenta, levando-se em conta o "Conhecimento Sertanejo" (e aqui entram todas as suas formas de "Cultura Popular") e a tradição oral da poesia;

 

13 – digna de nota é a resenha A melhor poesia de Fagundes Varela. Bom ler;

 

14 – bom ler também a resenha Suicídios virtuais;

 

15 – ao longo do livro Ivan Junqueira alude muito ao voo do pássaro como boa metáfora poética. Sinto essa metáfora desgastada;

 

16 – Leve como a brisa, prefácio a Olhar mineral, de Vânia Azamôr, é um texto sem grande mérito. Parece poesia de má qualidade;

 

17 – Vale a pena ler Francisco Alves e a Academia. Pelo legado à ABL e pelo grande editor que foi;

 

18 – digno de nota também é Eterna maldição, prefácio a Cantos de outono, de Ruy Câmara. Câmara escreveu um livro que vale a pena ser lido;

 

19 – encontramos na conferência José Veríssimo e a crítica "o velho conceito francês: a clareza é a probidade do escritor";

 

20 – não passem sem ler As vozes de Ricardo Thomé. Prefácio a Arranjo para cinco vozes, do citado;

 

21 – não deixem de ler a conferência A poesia é traduzível?.   

 

 

 

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O livro: Ivan Junqueira. Cinzas do espólio. Rio de Janeiro: Record, 2009, 333 págs.

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junho, 2009