Um velho publicitário fala-me sobre a inviabilidade de mercado dos romances de 500 páginas. O leitor, cada vez mais, pede uma escrita mais elíptica. Mercado à parte, Cecília Costa arrisca-se num desses romanções. Antes de mais nada é preciso que se diga (é o que diz Altamir Tojal nas orelhas do livro e o que me passaram, em release, as meninas da imprensa da Record) que o livro é uma "ficção" (autoficção, como diz Tojal) biográfica da família da autora.

Volto a perguntar: por que o ficcionista é tão ligado às suas memórias? Entendo a necessidade de se escrever sobre os entes queridos. E lendo Julia e o Mago é fácil perceber a catarse que foi escrever o livro para Cecília. O que não assimilo bem é a necessidade de se publicar e pôr no mercado tais recordações.

O livro é uma grande e bonita homenagem ao pai. Ao pai da autora. Escreve o romance para entender seu genitor e o passado. O romance traz, sem exceção, todas as figuras do seu passado: a mãe (que acatava o adultério do marido, coisa nunca aceita pela filha), as amantes do pai, os irmãos, as irmãs, o melhor amigo, as tias, os tios, os vizinhos, o marido (Ivan Junqueira), os namorados, o filho, o filho do melhor amigo, a avó, o tio do melhor amigo, o padrinho, a irmã do melhor amigo, etc. Mas tudo parece girar em torno da figura do pai. O pai tuberculoso e adúltero que tinha como escritor predileto Thomas Mann e sua A Montanha Mágica.

O paralelo entre o escritor premiado com o Nobel e o pai (advogado, jornalista e escritor frustrado), com a família do escritor e a família da autora, transcorre ao longo de todo o romance.

Os capítulos "Cadernos de Julia" (alter ego de Cecília) guardam impressões da vida — em um deles, escreve sobre uma estada na FLIP [Festa Internacional Literária de Paraty] com Chico Buarque e Lygia Fagundes Telles — e muita informação biográfica sobre Thomas Mann.

A trama completa-se com as informações extras que o livro estampa: poemas, cartas, textos (a maioria sobre tuberculose), diário, pesquisas no Wikipédia. Acredito que desde o aparecimento da famosa HQ Watchmen, de Alan Moore, que os "ficcionistas" vêm empregando a técnica de extras.

Talvez seja interessante falar para o leitor que Antônio (o Mago, pai de Julia) é um incestuoso. Manteve um caso amoroso com a filha do primeiro casamento, Mafalda, a meia-irmã de Julia.

Ao final do livro, Cecília preenche espaços, aparentemente vazios, com capítulos desnecessários. Que nada de relevante acrescentam à saga da família. Chega a repetir-se. É visível a dificuldade da autora em fechar o romance. É provável que a história tenha acabado bem antes.

 

 

 

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O livro: Cecília Costa. Julia e o mago. Rio de Janeiro: Record, 2008, 478 págs.

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outubro, 2009